A pesquisa Raio X do Investidor Brasileiro 2022, feita pela Anbima (Associação Brasileira dos Mercados Financeiro e de Capitais) em parceria com o Datafolha, revela que 64% dos brasileiros não são investidores. Desse total, 53%, correspondendo a 88 milhões de pessoas, não guardam dinheiro de jeito nenhum.
Entre os poupadores, apenas 38% fazem algum tipo de aplicação no mercado financeiro. Muita gente ainda guarda dinheiro em casa ou na conta corrente, ou seja, deixa o dinheiro parado. Um dos motivos para a resistência em investir é a falta de conhecimento sobre investimentos: 60% da população desconhece qualquer produto financeiro, segundo a pesquisa da Anbima.
Investimentos para iniciantes
É importante saber que investir não é um bicho de sete cabeças. Ao contrário. Nos últimos anos, esse mercado passou por uma série de simplificações para estar cada vez mais acessível à população. Para apoiar a sua jornada, preparamos este guia com tudo o que você precisa saber para começar a investir seu dinheiro e turbinar suas economias.
Destaques (para você começar a investir seu dinheiro):
- A lógica de como funcionam os investimentos
- Como saber qual é o melhor investimento para você? Qual tipo de aplicação mais indicada de acordo com seu perfil?
- Seu dinheiro investido e como usar o tempo como seu aliado (para melhorar a rentabilidade dos seus investimentos)
- Defina seus objetivos antes de começar a investir
- Como escolher os melhores investimentos para iniciantes: o que entra na balança na hora de escolher um investimento?
- Descubra qual é o seu perfil de investidor
- Quanto custa investir, taxas e impostos
- Os principais tipos de investimentos para iniciantes (e como funciona cada um deles)
A lógica por trás dos investimentos
Investir é mais do que poupar ou comprar bens por uma questão muito simples: implica ter retorno financeiro sobre o valor aplicado. É a mesma lógica do dinheiro parado na conta não remunerada ou das notas e moedas guardadas em um cofrinho. Eles não rendem. Em um investimento, o dinheiro trabalha para você, gerando uma remuneração, na forma de juros, que você recebe ao aplicar seu dinheiro em títulos e papéis emitidos por empresas, bancos e pelo governo.
Como funciona?
Funciona assim: quem pede dinheiro emprestado ao banco para comprar um bem ou ampliar sua empresa, paga juros. Os bancos “captam” esse dinheiro no mercado e o emprestam a pessoas e empresas que precisam de crédito, oferecendo uma remuneração a quem topa manter seu dinheiro investido por certo tempo.
O efeito dos juros compostos nos investimentos
No Brasil, os juros aplicados nos investimentos são compostos, também chamados de juros sobre juros. Isso significa que, uma aplicação de R$ 100 que rende 1% ao mês funcionará da seguinte forma.
Quanto rende uma aplicação de R$ 100
Mês | Capital Aplicado | Juros | Capital + Juros |
---|---|---|---|
1 | R$ 100,00 | R$ 1,00 | R$ 101,00 |
2 | R$ 101,00 | R$ 1,01 | R$ 102,01 |
3 | R$ 102,01 | R$ 1,02 | R$ 103,03 |
4 | R$ 103,03 | R$ 1,03 | R$ 104,06 |
5 | R$ 104,06 | R$ 1,04 | R$ 105,10 |
12 | R$ 112,70 | R$ 1,12 | R$ 113,80 |
24 | R$ 127,00 | R$ 1,27 | R$ 128,20 |
36 | R$ 143,10 | R$ 1,43 | R$ 144,50 |
48 | R$ 161,20 | R$ 1,61 | R$ 162,80 |
No exemplo acima, em apenas quatro anos, o capital investido cresceu 62,80% sem que o investidor tivesse que fazer absolutamente nada, apenas manter o dinheiro aplicado. Esse aumento no capital é o efeito dos juros sobre juros. Quer saber mais? Fique por dentro dos juros compostos.
Faça do tempo o seu melhor aliado ao começar a investir seu dinheiro
Quanto mais tempo um investimento ficar rendendo, maior será o efeito dos juros compostos. O tempo é, assim, um grande aliado dos investimentos, pois ele multiplica o efeito dos juros sobre juros. No exemplo abaixo, em 10 anos, o investidor vai receber o equivalente ao valor que investiu em forma de juros e em 30 anos, o retorno será de praticamente 10 vezes o capital investido. Se você reservar 100 reais por mês, perceba o rendimento ao longo do tempo:
Tipos de investimentos para iniciantes
Como saber qual aplicação mais indicada para você?
Agora que sabemos a importância de investir e usar os juros compostos a nosso favor, é hora de entender os fatores que devem nortear a escolha pelos seus investimentos. Veja as dicas a seguir e descubra qual é o tipo de investimento mais adequado aos seus projetos e ao seu momento de vida.
Defina seus objetivos antes de começar a investir (para quê e quando o dinheiro será utilizado)
Em primeiro lugar, é fundamental entender o objetivo que você pretende atingir com seu investimento e por quanto tempo pretende deixar o dinheiro aplicado. Está formando a sua reserva de emergência, pretende trocar de carro, comprar a casa própria ou se preparar para ter uma boa aposentadoria? Cada objetivo tem um prazo diferente e, por isso, envolve tipos de investimentos distintos.
Monte sua reserva de emergência
A reserva de emergência, por exemplo, é um objetivo de curto prazo, já que os imprevistos podem acontecer a qualquer momento. Nesse caso, não é recomendável deixar o dinheiro em uma aplicação que não possa ser resgatada a qualquer momento. Já a aposentadoria é um investimento de longo prazo, pois geralmente poupamos para esse objetivo durante a vida profissional ativa, e faz sentido escolher um investimento que nos proteja das perdas da inflação ao longo do tempo.
Como investir dinheiro: o que entra na balança na hora de escolher um investimento
Na hora de escolher o investimento mais adequado a cada objetivo, é importante entender as três principais características dos produtos de investimentos: liquidez, rentabilidade e segurança.
As 3 principais características dos investimentos para levar em conta ao começar a investir
#1. Avalie a liquidez
O que é liquidez? É a possibilidade de transformar um investimento em dinheiro para usar quando precisar. A poupança, por exemplo, é um investimento com alta liquidez, já que podemos sacar a qualquer momento. Já um imóvel tem baixa liquidez. Se você precisar do dinheiro terá de vender o imóvel, o que pode demorar vários meses ou até anos.
#2. A rentabilidade do investimento
Um investimento é mais rentável quanto maior for a remuneração paga por ele na forma de juros. A poupança, por exemplo, rende 6% ao ano mais a TR, enquanto o Tesouro Selic rende o equivalente à Taxa Selic, que atualmente é de 13,25% ao ano. Portanto, ao comprar um título do Tesouro Selic, você terá acesso a uma rentabilidade maior do que se investir na poupança atualmente.
#3. A segurança e os riscos de cada investimento
O investimento é considerado mais seguro quando possui menos risco de perda para o investidor. Os principais riscos são o de crédito, quando há a possibilidade de não receber o dinheiro investido no caso da instituição falir ou quebrar, e o de mercado, que é a variação no preço dos ativos comprados, que pode causar perdas no valor investido.
Quando você investe em uma aplicação com a garantia do FGC (Fundo Garantidor de Crédito), como um CDB, evita o risco de crédito, já que aplicações de até 250 mil reais por CPF são protegidas pelo fundo, que cobre o prejuízo caso o banco que emitiu o título venha a quebrar. Um investimento em renda fixa é mais previsível do que a renda variável, portanto, tem menor risco de mercado. O item segurança representa, assim, o nível de risco que o investidor está disposto a correr para obter maior retorno.
Conheça seu perfil de investidor
Antes de escolher seus investimentos, é importante entender seu perfil de investidor. Para conhecer o seu perfil, basta responder ao questionário disponível na plataforma online de seu banco ou corretora de valores. As perguntas irão ajudar você a entender sua tolerância a riscos, sua capacidade de superar perdas financeiras e seu conhecimento sobre os diferentes produtos de investimento.
Investidor com perfil conservador, moderado ou arrojado?
Os perfis mais comuns são conservador, moderado e arrojado. O perfil conservador inclui os investidores que não toleram perdas financeiras, ou seja, preferem abrir mão de certa rentabilidade para não correr riscos. O perfil moderado possui certa tolerância a riscos e o arrojado está disposto a correr mais riscos para obter melhores retornos.
É importante entender que o perfil de investidor também está ligado a seu momento de vida. Um investidor jovem que mora com os pais e contribui pouco com as contas da casa pode assumir mais riscos, pois tem bastante tempo pela frente para recuperar eventuais perdas de investimentos mais arriscados, e as perdas do presente não impactam significativamente as contas da família.
Já um investidor com idade mais avançada tem pouco tempo pela frente para recuperar perdas financeiras, portanto deve reduzir gradativamente o risco de sua carteira de investimentos. Por isso, antes de montar sua carteira, é fundamental você conhecer o seu perfil.
Quanto custa investir? Conheça as principais taxas, impostos e custos ao investir
Além de definir o objetivo, o prazo e entender o grau de liquidez, segurança e rentabilidade desejada na hora de escolher um investimento, é muito importante entender os custos envolvidos em cada tipo de aplicação. Os principais deles são impostos, taxa de administração, taxa de performance e taxa de carregamento.
Imposto de Renda
A maioria dos investimentos está sujeita à tributação do Imposto de Renda. Os únicos isentos de impostos e mais acessíveis ao investidor pessoa física são a poupança, LCI, LCA, CRI, CRA e Debêntures Incentivadas. Os “aluguéis” recebidos dos fundos imobiliários e as vendas de ações até o limite de R$ 20 mil por mês também são isentos de impostos no momento.
Porém, nem sempre um investimento deve ser descartado só porque tem tributação. Muitas aplicações tributadas rendem mais do que a poupança, mesmo quando descontamos os impostos pagos. É importante fazer contas antes, comparando o rendimento líquido, após a cobrança de impostos para saber qual deles tem o melhor retorno.
Nos investimentos de renda fixa, como Tesouro Direto e CDBs, o imposto é cobrado sobre o rendimento e de forma regressiva, conforme o tempo que o dinheiro fica aplicado antes do resgate. A tabela de IR segue as seguintes alíquotas:
Momento do resgate | Alíquota de Imposto de Renda |
---|---|
Até 180 dias (menos de 6 meses) | 22,5% |
De 181 dias a 360 dias (6 meses a 1 ano) | 20% |
De 361 a 720 dias (1 a 2 anos) | 17,5% |
Acima de 721 dias (2 anos ou mais) | 15% |
IOF - Imposto sobre Operações Financeiras
O valor do IOF varia de acordo com o tempo entre a aplicação e o resgate, indo de zero a 96% dos rendimentos até o 30º dia da data da aplicação. Ao passar de 30 dias sem resgatar o dinheiro investido, não haverá cobrança de IOF. Entenda mais sobre os impostos sobre investimentos financeiros.
Taxa de administração
Os fundos de investimento funcionam como “condomínios”, em que um gestor toma as decisões de onde aplicar o dinheiro dos investidores que compram as cotas do fundo. E, por isso, costumam cobrar uma taxa de administração, que é a remuneração do gestor pelo seu trabalho.
Taxa de performance
Alguns fundos de investimentos buscam superar a performance de índices como a Bovespa, por exemplo. Nesse caso, eles cobram uma taxa de performance que só será paga se ele obtiver rendimentos superiores ao índice de referência. É como “premiar” o gestor do fundo por tomar boas decisões e gerar ótimos rendimentos a seus cotistas.
Taxa de carregamento
É cobrada principalmente nos fundos de previdência privada, no momento da aplicação ou do resgate e existe para cobrir os custos e despesas operacionais (com salários, fornecedores e afins) que as instituições financeiras contraem na administração do seu capital.
Taxa de custódia
É um valor que o investidor paga para o seu banco ou corretora onde mantém seus investimentos. A taxa de custódia pode ser cobrada tanto para ativos de renda fixa quanto de renda variável, sendo mais comum encontrá-la nos títulos públicos. A instituição financeira, chamada de custodiante, pode ser tanto a bolsa de valores (B3), quanto a corretora usada pelo investidor. No Tesouro Direto, a taxa de custódia é zero para aplicações de até R$ 10 mil. Acima desse valor, é de 0,25% ao ano. Já a taxa de custódia das ações é zero para investimentos de até R$ 300 mil.
Os principais tipos de investimentos: renda fixa e renda variável
Como vimos, de modo geral, os investimentos se dividem em dois grandes grupos: renda fixa e renda variável. No primeiro grupo estão as aplicações mais previsíveis, ou seja, na hora da contratação é possível saber exatamente ou estimar, com base em uma referência de mercado, qual será a rentabilidade.
Investimentos de renda fixa
A renda fixa é mais indicada para a reserva de emergência e sonhos de curto e médio prazo, com data certa para acontecer e que exigem maior segurança, ou seja, baixo grau de risco. Exemplos de investimentos de renda fixa são a Poupança, os CDBs, LCAs, LCIs, Debêntures, Fundos de Renda Fixa e Tesouro Direto.
Investimentos de renda variável
Já a rentabilidade da renda variável é influenciada por uma série de fatores de mercado e, por isso, é menos previsível. Os fundos de ações, fundos multimercados, os fundos cambiais, as ETFs, as ações, os fundos imobiliários e as criptomoedas são exemplos desse tipo de investimento. Nessas aplicações, não há uma promessa de retorno esperado. O preço da ação de uma empresa, por exemplo, irá variar conforme a lucratividade dessa companhia. Por isso, os títulos de renda variável são considerados mais arriscados do que os de renda fixa. Contudo, prometem melhores retornos a longo prazo e por isso, podem ser indicados para planejamento de aposentadoria e diversificação da carteira.
Entenda sobre os tipos de rentabilidade dos investimentos: prefixada, híbrida e pós-fixada
Os investimentos têm, basicamente, três modelos de rentabilidade: prefixada, pós-fixada ou híbrida.
# Rentabilidade prefixada
A taxa de retorno é totalmente conhecida no momento da aplicação. Um CDB com taxa de 12% ao ano é prefixado, ou seja, chova ou faça sol, seu investimento irá render 12% ao ano. Os investimentos prefixados são interessantes quando há uma tendência de queda na Taxa Selic, pois se o investidor adquire um título que rende 12% ao ano e a Selic cai para 9%, o título dele estará rendendo mais do que a Selic no futuro.
# Rentabilidade híbrida
O Tesouro IPCA+ é um exemplo de composição híbrida de rentabilidade prefixada com pós-fixada. Esse investimento promete pagar ao investidor a taxa de inflação medida pelo IPCA mais uma taxa de juros. Se você aplicar em um título que oferece IPCA + 6% ao ano, por exemplo, você terá o retorno equivalente à taxa de inflação mais 6%. Se o IPCA for de 4%, sua rentabilidade será de 4% + 6%. Os investimentos híbridos atrelados ao IPCA são interessantes para blindar seu investimento das oscilações da inflação já que oferecem uma rentabilidade real acima da inflação. Qual deles é melhor? Na verdade, o ideal é ter um pouco de cada um, assim você consegue se beneficiar em qualquer cenário, na queda ou na alta da taxa de juros e da inflação.
# Rentabilidade pós-fixada
A taxa de retorno do título pós-fixado está atrelada a algum índice, sendo que o Certificado de Depósito Interbancário é o mais comum. Uma aplicação com taxa de retorno equivalente a 100% do CDI irá render exatamente a taxa DI ao ano. Os pós-fixados são interessantes quando há tendência de alta na taxa Selic, pois eles acompanham essa taxa, então se ela sobe, a rentabilidade também sobe.
Quanto rende um título lastreado em CDI
O Certificado de Depósito Interbancário é a taxa usada como referência para empréstimos entre os bancos e influencia a rentabilidade dos investimentos pós-fixados. CDI não é estático, ou seja, muda diariamente. Para saber o valor do CDI hoje basta acessar o site da B3 e buscar a informação.
Se você aplicar seu dinheiro em um investimento com retorno esperado de 100% do CDI e o índice cair para 9% no ano seguinte, sua rentabilidade também cairá para 9%; se subir para 12%, seu retorno subirá. Veja como fica a rentabilidade caso o CDI esteja cotado em 10% ao ano:
- Um investimento com rentabilidade de 90% do CDI irá render 0,9 x 10 = 9%
- Já o investimento com rentabilidade de 100% do CDI irá render 1 x 10 = 10%
- Quando a rentabilidade é de 110% do CDI, irá render 1,10 x 10 = 11%
Como começar a investir?
Que bom que você chegou até aqui. As principais dicas para começar a investir do zero, são:
- Primeiro, defina seus objetivos (viagem, casa própria, carro, faculdade dos filhos...);
- Organize suas finanças e descubra o seu perfil de investidor;
- Utilize o tempo como seu aliado. Lembra dos juros compostos?
- Compreenda sobre as principais características dos investimentos (tais como liquidez, rentabilidade, segurança, taxas e impostos);
- Lembre-se que você pode começar a investir, mesmo com pouco dinheiro!