Mesmo com o desconto oferecido pelas montadoras a partir da isenção parcial de impostos dada pelo governo, os carros populares estão longe de fazer jus ao nome dado pelo mercado à categoria. Os automóveis mais buscados pelas famílias brasileiras custam, atualmente, em torno de R$ 60 mil a R$ 85 mil, dependendo da marca e do modelo.
O fato é que, nos últimos cinco anos, o preço médio do carro zero subiu cerca de 90% - quase três vezes acima da inflação do período -, segundo dados da consultoria automotiva Jato Dynamics. A alta é explicada, principalmente, pela retração vivida pela indústria na pandemia e, na retomada da atividade econômica, pela escassez de peças e componentes, já que os fornecedores desses materiais também foram obrigados a paralisar suas atividades.
Com os preços nas alturas, a compra do carro novo precisa ser muito bem planejada. Para apoiar você nessa organização, preparamos um checklist com questões que devem ser consideradas nesse momento e muitas dicas que podem ajudar a escolher um financiamento, empréstimo com garantia ou consórcio, entendendo todos os custos envolvidos.
Checklist: o que levar em conta antes de decidir
Existe um ditado popular que diz que comprar um carro é o mesmo que ter um filho. Ainda que a comparação pareça exagerada, ela traduz uma coisa bem importante: tanto um caso quanto o outro exigirá cuidados e gastos por um longo período. Por isso, é importante entender se comprar um carro faz mesmo sentido para você. Pergunte-se:
- Você precisa mesmo de um carro? Quais mudanças (positivas e negativas) um carro pode trazer para você e sua família?
- O transporte público tem atendido às suas necessidades até o momento?
- Você precisa do carro para trabalhar ou pretende utilizar apenas no final de semana?
- O automóvel representa conforto ou pode se tornar uma fonte de preocupação financeira?
- Você consegue comprar à vista ou dar uma boa entrada? Se for financiar, a parcela vai caber no seu bolso?
- O dinheiro que será usado para comprar o carro pode fazer falta em uma situação inesperada? Você já formou a sua reserva de emergência?
Comprar à vista ou financiar, o que é melhor?
Com dinheiro para comprar à vista, você tem nas mãos um grande trunfo: pode negociar e conseguir ótimos descontos no carro novo. Se for financiar, a dica é formar, antes, uma reserva para dar uma boa entrada e reduzir o valor das parcelas.
A seguir, use uma das planilhas gratuitas do Meu Bolso em Dia para fazer as contas e entender se a parcela cabe mesmo no seu orçamento. Afinal, de nada adianta ter um carro novo e estourar os gastos todo mês, entrando no cheque especial ou no rotativo do cartão de crédito. Quando isso acontece, aumentam os riscos de superendividamento.
Outra dica de ouro é pesquisar e comparar taxas de financiamentos. Simule prazos, valores e juros cobrados em diferentes bancos e financeiras, incluindo aquelas que trabalham com as concessionárias que você está consultando. Peça a proposta por escrito e verifique as condições de financiamento em outras instituições.
Vale lembrar que o Open Finance pode ajudar você nessa comparação. Para isso, você precisa aderir ao sistema e autorizar seu banco a compartilhar seus dados com as instituições de seu interesse, mesmo aquelas onde você não tem conta. Isso é feito dentro do aplicativo ou internet banking. O Open Finance é um ambiente seguro, gerido pelo Banco Central, que foi criado para empoderar o consumidor de produtos e serviços financeiros.
#ENTENDA AS TAXAS: Custo Efetivo Total
O Custo Efetivo Total (CET) representa todos os gastos que você terá ao contratar um empréstimo ou financiamento. Nessa conta, entram a taxa de juros e demais encargos cobrados, como o IOF (Imposto de Operações Financeiras), tarifas, seguros e taxa de administração (importante no caso de consórcios). Por isso, ao cotar um financiamento, não pergunte apenas a taxa de juros. Procure informar-se sobre o CET.
#FICA A DICA: Contratou um empréstimo e descobriu que está pagando juros mais altos? Portabilidade nele
A portabilidade de empréstimos e financiamentos é um direito garantido por lei. Se contratar um crédito e depois descobrir que a taxa de juros é maior do que a cobrada por outras instituições, você pode pedir a portabilidade e levar o seu empréstimo para outra instituição financeira que ofereça melhores condições. O serviço é gratuito e também pode ser solicitado pelo Open Finance. Veja como fazer nesta matéria.
Entenda o funcionamento do empréstimo com garantia
O empréstimo com garantia é uma modalidade de crédito que costuma oferecer taxas menores e prazos mais longos de pagamento. Isso porque o carro ou outro bem financiado (imóvel, por exemplo) fica como garantia do pagamento. A alienação, como esse processo é conhecido, reduz o risco de perdas para o banco ou financeira e, com isso, a instituição consegue oferecer melhores condições.
Mas é bom ter em mente que, caso as parcelas deixem de ser quitadas, o carro pode ser levado a leilão pelo financiador. Há, assim, o risco de perda do patrimônio em caso de inadimplência.
O consórcio pode ser uma opção?
Essa é uma boa pergunta para quem quer comprar um carro. Para começar, é fundamental conhecer as características do consórcio, que é uma espécie de comunidade de pessoas interessadas em comprar um automóvel, moto ou outro bem. Todos pagam um valor mensal combinado previamente e, todo mês, um dos consorciados é sorteado com uma carta de crédito para adquirir o veículo em uma concessionária.
Assim, até o final do prazo definido em contrato, que pode ser de cinco ou sete anos, por exemplo, todos serão contemplados. Lembrando que sorteio está na seara da sorte: caso você precise ter o carro em mãos dentro de um curto espaço de tempo, o consórcio não é a opção mais adequada. Mas há caminhos que podem encurtar o prazo: você pode ir oferecendo lances mensais para antecipar a quitação de parcelas. Quem dá mais, pode levar a carta de crédito antes.
No consórcio, não há incidência de juros, apenas das taxas de administração cobradas pela empresa gestora, o que pode fazer com que o valor das parcelas e o custo final seja inferior ao do financiamento. Outro ponto positivo é que, diferente do financiamento, o consórcio não exige entrada. A desvantagem, porém, é que não dá para saber quando chegará a sua vez.
Ainda em dúvida? Veja um comparativo sobre Consórcio e financiamento.
Quanto custa ter um carro na garagem
Na compra do carro, você precisará arcar com as taxas de emissão do Certificado de Registro do Veículo (CRV), que é o documento do carro, e do Certificado de Registro e Licenciamento do Veículo (CRLV), que é a permissão de rodar com o veículo. Mas o custo de manter um veículo na garagem vai muito além. Há uma série de despesas agregadas, que podem pesar - e muito - no orçamento. Conheça, a seguir, as principais delas.
# IPVA
O Imposto Sobre a Propriedade de Veículos Automotores IPVA) é pago anualmente (valor integral ou em parcelas), podendo variar entre 1% e 6% do preço do carro, de acordo com a região e o valor de mercado do veículo.
# TAXA DE LICENCIAMENTO
É a permissão para circulação do veículo, que obrigatoriamente precisa ser dada todos os anos mediante a renovação do documento do carro, o CRLV. A taxa varia de acordo com a região. Em São Paulo, por exemplo, o valor cobrado em 2023 é de R$ 153,23; em Minas Gerais, R$ 33,66.
# SEGURO
O valor do seguro é calculado de acordo com uma análise feita pela seguradora, que envolve o grau de risco de eventos como furto, roubo ou acidente. Essas ocorrências são chamadas de “sinistros”. Nessa avaliação, são considerados fatores como o modelo do veículo, local de residência, perfil do motorista, locais onde ele trafega, histórico de sinistros, tipo de uso de automóvel e outros.
# COMBUSTÍVEL
O ideal é fazer um cálculo médio dos possíveis trajetos e descobrir quanto gastará com combustível (álcool, gasolina ou etanol) todos os meses. Para saber qual é o combustível mais vantajoso em cada momento, faça a comparação usando nossa calculadora Álcool x Gasolina.
# ESTACIONAMENTO
Esse pode se tornar um custo considerável sobretudo se você mora em grandes cidades, onde as vagas nas ruas são bastante escassas e o risco é maior, exigindo estacionar em locais fechados. Faça uma estimativa do preço médio cobrado por hora ou período nos locais que costuma frequentar e considere-o em seu orçamento mensal.
# MANUTENÇÃO E CONSERVAÇÃO
Outro custo importante é a manutenção preventiva do carro, que deve ser feita dentro da periodicidade definida pela montadora, para garantir a segurança dos usuários do veículo. Com o passar do tempo, a taxa de manutenção vai aumentando, pois há um desgaste de peças e componentes que precisam ser substituídos ou calibrados. Além da segurança, a manutenção preventiva evita que você tenha custos maiores lá na frente, já que o desgaste de algumas partes, com o tempo, pode prejudicar outras.
EXTRA: Dicas para negociar nas concessionárias
Por mais empolgante que seja a decisão de comprar um veículo, evite demonstrar euforia na hora que estiver à frente do vendedor e, em hipótese alguma, feche o negócio por impulso, sem ter feito todas as contas e pesquisado preços e taxas. Peça a proposta por escrito, faça contrapropostas e procure voltar outro dia com as ofertas que você encontrou. Com esses dados em mãos, fica mais fácil negociar pelo menor preço de mercado.
Se o vendedor estiver próximo do fechamento de sua meta mensal de vendas, que geralmente é perto do final do mês, a proposta de negociação também pode ser mais vantajosa. Comprar logo após quinto dia útil do mês, quando boa parte das pessoas recebem o salário, pode não ser uma boa ideia.
Por fim, nunca aceite a primeira oferta. Diga que irá pensar e pesquisar. Outra boa dica é negociar a isenção em acessórios, sem cair na cilada de fazer vários pequenos parcelamentos de acessórios no cartão.