Com os juros em queda, vale a pena migrar investimentos?

A taxa Selic caiu para 10,75% ao ano e deve chegar a 9% até o final de 2024. Veja dicas de onde investir para fazer seu dinheiro render em qualquer cenário econômico

Tomar crédito com planejamento pode ser útil na hora de reformar a casa
21 de março de 2024 6 min. leitura

A taxa Selic serve de referência para os juros cobrados em transações financeiras, como empréstimos e investimentos. Quando a Selic está alta, os juros sobre empréstimos e financiamentos tendem a custar mais para quem contrata crédito. Quando ela está em queda, o dinheiro tende a ficar mais barato.

O mesmo vale para a rentabilidade de alguns tipos de investimentos, em especial, aqueles classificados como renda fixa. Nesse caso, a Selic em alta pode significar ganhos maiores sem a necessidade de assumir tantos riscos. No entanto, essa taxa está em queda desde agosto de 2022, quando saiu dos 13,75%, passando a 11,25% no início de 2024. Em 20 de março, a Selic chegou a 10,25% e a expectativa é que a taxa chegue a 9% ao ano até dezembro.

Nesse cenário, o que fazer com os investimentos? Vamos entender a relação entre a inflação, os juros e seu bolso, como a queda ou a alta da SELIC impacta suas aplicações e o que levar em conta na hora de planejar onde investir para continuar tendo lucratividade em qualquer cenário econômico. 

Impactos das oscilações da Selic no seu bolso

como a oscilação da taxa de juros afeta o crédito e os investimentos

Uma taxa de juros alta pode ser vista como positiva ou negativa dependendo do lado da moeda em que você está. Se você precisa financiar bens, tomar empréstimos ou comprar a prazo, juros altos são uma má notícia, já que o dinheiro fica mais caro. Agora, se você tem dinheiro para investir, esse patamar pode ser benéfico, pois permite obter ganhos significativos em aplicações que usam a Selic como referência. 

Porém, manter uma taxa de juros muito elevada pode esfriar a economia. Com juros mais altos, o consumidor e as empresas evitam financiamentos, levando à recessão. Por isso, o Banco Central já começou a baixar os juros para voltar a estimular o consumo. 

Dessa maneira, muitas pessoas começam a se perguntar: é válido migrar o dinheiro para investimentos mais rentáveis? Para responder a essa pergunta, vamos entender os possíveis cenários econômicos e como os investimentos se comportam em cada cenário.

Juros em alta = investimentos pós-fixados

Quando há tendência de alta na taxa de juros, os investimentos que mais se beneficiam são os pós-fixados, ou seja, aqueles que acompanham o índice de referência. O Tesouro Selic, por exemplo, é um título seguro que acompanha a taxa de juros e, há dois anos, quem aplica nessa modalidade está obtendo retorno anual de dois dígitos, ou seja, quase o dobro do rendimento da poupança

Outros investimentos pós-fixados são as aplicações que rendem um percentual do CDI. Existem aplicações de renda fixa, como CDBs, LCIs e LCAs e Fundos DI pós-fixados que se beneficiam do aumento da taxa de juros. Assim, se a taxa cresce, sua rentabilidade também cresce. O contrário também acontece, se a taxa cai, o retorno deles cai junto, ou seja, o dinheiro rende menos do que antes.

Juros em queda = investimentos prefixados

Já quando a taxa de juros está em tendência de queda, os investimentos prefixados podem ficar mais interessantes. Nessa modalidade, o retorno é previamente informado ao investidor, assim, ele pode “travar” uma determinada rentabilidade por certo período. 

Se a previsão da taxa Selic é de queda, você pode investir em um título prefixado com 10% de retorno e vencimento até 2025. Assim, caso a Selic fique entre 9% e 7%, sua rentabilidade estará garantida em 10% ao ano até o vencimento do título.

Além do Tesouro Prefixado, existem outras aplicações de renda fixa que também têm essa característica. Você pode buscar CDBs, LCAs e LCIs, por exemplo, com a rentabilidade predefinida e comparar as taxas de retorno para escolher o que melhor se adequa a seus objetivos.

Inflação em alta = investimentos atrelados ao IPCA

Já vimos que um dos efeitos colaterais da queda dos juros é o possível aumento da inflação, já que o dinheiro se torna mais barato, o que estimula o consumo e pode levar a alta nos preços do comércio. 

A boa notícia é que existem investimentos com rentabilidade atrelada ao IPCA (Índice de Preços ao Consumidor Amplo), que ajudam a proteger o poder de compra de seu dinheiro em caso de inflação. O IPCA mede a inflação oficial no país.

Ao investir em um título atrelado ao IPCA, você receberá uma parte do retorno prefixada e outra pós-fixada. Por exemplo, se um título do Tesouro IPCA paga IPCA + 5% ao ano, significa que sua rentabilidade será a inflação mais uma taxa fixa de 5%. Isso significa que você terá retorno real de 5% acima da inflação.

Nesse exemplo, se a inflação for de 3% ao ano, você terá uma rentabilidade total de 8,15% ao ano. Se a inflação for de 5% ao ano, você obterá 10,25% de retorno, e assim por diante. Ou seja, quanto maior a inflação, maior será seu rendimento total. 

Além do Tesouro IPCA, outros investimentos em renda fixa também são atrelados à inflação, basta procurar aplicações do tipo IPCA + no site de seu banco ou corretora.

O poder da diversificação

diversificar investimentos é uma maneira de reduzir riscos

Em resumo, para prosperar em qualquer cenário econômico, existe uma regra muito válida no mundo dos investimentos: a diversificação. Isso significa que, em vez de colocar todo seu dinheiro em uma modalidade de investimento, você ganhará mais se distribuir uma parte de seu patrimônio em cada tipo de aplicação. 

Uma parte em pós-fixado, para ganhar com a alta de juros, outra parte em prefixado, para ganhar quando os juros estiverem em queda e uma terceira parte em investimentos atrelados ao IPCA para proteger seu retorno do aumento da inflação. Assim, você estará garantido em qualquer situação.

Nesse processo, lembre-se de avaliar o objetivo de seu investimento e o tempo em que o dinheiro ficará aplicado. Isso porque nas aplicações prefixadas ou atreladas à inflação, por exemplo, o ideal é manter o dinheiro aplicado até o vencimento para garantir toda a rentabilidade prometida. Para a reserva de emergência, a recomendação é escolher uma aplicação pós-fixada com liquidez diária, ou seja, disponível para saques imediatos, como o Tesouro Selic, o fundo DI ou o CDB com liquidez diária.

Riscos de migrar investimentos

A escolha dos investimentos deve seguir os objetivos e o perfil do investidor. Com a queda na taxa de juros, muitas promessas de ganhos acima da Selic começam a aparecer no mercado. Lembre-se que a busca por altos retornos costuma ser acompanhada de altos riscos, como acontece com a renda variável

Outro ponto importante: a Selic em 9% ainda está em um patamar elevado, por isso, pode não valer a pena se precipitar e sair correndo da renda fixa. Migrar seu dinheiro de uma aplicação segura, para outra mais arriscada, como ações por exemplo, devido a uma pequena queda na taxa de juros pode levar a custos elevados com imposto de renda, taxas de corretagem e custódia, e aumentar o risco de perdas devido à maior oscilação do mercado de renda variável.

Assim, se quiser investir em ativos mais arriscados, como fundos multimercados, fundos de ações ou papéis de empresas, a dica no atual cenário é manter os investimentos em renda fixa e colocar “dinheiro novo” nessas outras aplicações, em vez de ficar trocando investimentos de lugar. 

Outra dica é começar com pouco: aplicando entre 2% a 5% do dinheiro em renda variável, você pode entender melhor como esse mercado funciona e quanto risco você está disposto a tolerar diante de oscilações mais frequentes. Estude sobre as classes de investimentos no quais tenha interesse e faça pequenos testes ou experiências para avaliar como se sente, sem colocar seu patrimônio e sua tranquilidade em risco a qualquer custo.