Cooperativas de crédito: entenda o que são e como elas funcionam

Agir ou trabalhar junto com outras pessoas para um fim comum; colaborar. É assim que os dicionários definem a palavra “cooperativismo”. Esse modelo de organização se consolidou no Brasil. Hoje, há cerca de 4,7 mil cooperativas organizadas no país, atuando nas áreas de agropecuária, transporte, consumo, crédito, infraestrutura, saúde, trabalho e produção de bens e serviços.

Juntas, elas aglutinam quase 20,5 milhões de cooperados e, até 2027, devem alcançar R$1 trilhão de faturamento, de acordo com o Anuário do Cooperativo, do Sistema OCB (Organização das Cooperativas do Brasil). Essas organizações têm uma forte pegada social, gerando renda, impostos para os municípios onde estão presentes e desenvolvimento comunitário.

Entre elas, ganham destaque as cooperativas de crédito, que ocupam o primeiro lugar no ranking do setor em número de associados (15,5 milhões) e oferecem serviços focados em inclusão financeira e na realização de projetos de vida de seus participantes.

“O objetivo é, por meio de uma sociedade de pessoas, encontrar condições mais acessíveis para determinado serviço ou produto a ser consumido pelo grupo de cooperados”, explica Louize Pereira Oliveira, Supervisora de Cidadania Financeira do Sicoob, sistema de cooperativas de crédito do Brasil. “Temos um papel significativo no acesso às soluções financeiras, com um interesse na prosperidade das pessoas”, reforça Cristiane Amaral, gerente de Inclusão e Educação Financeira do Sicredi.

Mas você sabe como funcionam as cooperativas de crédito e quais produtos e serviços elas oferecem a seus associados?  Conheça mais a seguir.

O que é uma cooperativa de crédito

A cooperativa de crédito é uma instituição financeira sem fins lucrativos, que presta serviços exclusivamente para seus associados, chamados de cooperados, de acordo com a definição do Banco Central. Alguns dos serviços oferecidos são iguais aos disponíveis em qualquer banco: conta-corrente, cartão de crédito, empréstimos e financiamentos, por exemplo.

Como todo cooperado é ao mesmo tempo usuário e dono da cooperativa, ele tem poder de voto e deve participar das assembleias onde são decididas as principais questões relacionadas à instituição. Ele também tem direito aos eventuais lucros ou resultados positivos ao final do ano, conforme suas participações no sistema.

“Ainda que a cooperativa seja uma sociedade sem fins lucrativos, não quer dizer que ela não tenha resultados positivos. A sobra, ou seja, o resultado excedente ao custo de manutenção da operação, é repartida entre os próprios cooperados. No final do exercício, a assembleia aprova as contas e distribui o  resultado positivo entre os cooperados”, explica Louize. 

Assim como as sobras, eventuais resultados negativos também são distribuídos. “Por isso é tão importante que o cooperado participe ativamente das decisões”, destaca.

Quais serviços as cooperativas oferecem

Uma cooperativa de crédito pode oferecer vários serviços financeiros, como conta-corrente ou poupança, cartão de crédito e débito, saques, transferências, Pix, assim como o acesso ao crédito através de empréstimos e financiamentos.

De acordo com Cristiane Amaral, o Sicredi oferece mais de 300 soluções financeiras aos associados. “Administramos R$356,6 bilhões em ativos, com um patrimônio líquido de R$39,4 bilhões, resultado de um modelo de gestão sustentável e transparente”, afirma.

Fundo Garantidor do Cooperativismo de Crédito

Funcionando de forma semelhante ao Fundo Garantidor de Crédito (FGC), os depósitos feitos em cooperativas de crédito possuem a proteção do Fundo Garantidor do Cooperativismo de Crédito (FGCoop). 

Ele existe para assegurar que os valores mantidos nas cooperativas de crédito e nos bancos cooperativos sejam pagos aos cooperados, em caso de intervenção ou liquidação extrajudicial das instituições, com um valor limite de R$250 mil por CPF ou CNPJ - o mesmo em vigor para os bancos.

Qual é a diferença entre cooperativa de crédito e banco?

Ainda que os serviços oferecidos por uma cooperativa de crédito sejam semelhantes aos de um banco , a estrutura e forma como as duas instituições funcionam é bastante diferente. “A sociedade cooperativa é, antes de mais nada, uma sociedade de pessoas. Diferente dos bancos tradicionais, que são sociedades de capital”, explica Louize.

Os bancos são, assim, empresas comerciais controladas por seus acionistas e, ainda que os interesses de seus clientes sejam muito levados em consideração, os usuários dos serviços não participam efetivamente de suas decisões. As cooperativas, por sua vez, são administradas por seus associados. Todo cooperado tem poder de decisão e participa dos lucros ou prejuízos.

Além disso, as cooperativas são instituições sem fins lucrativos e, como tal, podem oferecer taxas e preços de serviços mais vantajosos exclusivamente para os seus associados. 

Saiba mais sobre as diferenças entre cooperativas e bancos neste vídeo do Banco Central: 

Como se tornar um cooperado

Fazer parte de uma cooperativa de crédito é uma decisão livre e voluntária. Qualquer pessoa interessada pode associar-se presencialmente, indo até uma das agências físicas da cooperativa escolhida ou, então, através da associação digital, pelo aplicativo da cooperativa. 

"Antes de escolher uma cooperativa, é importante conhecer a sua governança. Isso porque, ao se tornar um cooperado, você participa das decisões daquela cooperativa por meio das Assembleias Gerais", relembra Louize.

O cooperativismo e a inclusão financeira

Presentes em todo país, as cooperativas de crédito possuem um papel fundamental no avanço da inclusão financeira. “Operamos de acordo com as necessidades e características de cada localidade. Atuamos tanto em grandes centros, quanto em pequenos municípios, oferecendo uma gama completa de soluções financeiras”, explica Cristiane.

Tanto o Sicredi quanto o Sicoob têm cerca de 8 milhões de cooperados e estão presentes em mais de 2 mil municípios brasileiros, por exemplo, permitindo acesso ao crédito e a outros serviços financeiros até mesmo em cidades não alcançadas pela estrutura física das grandes instituições financeiras. “Um dos princípios do cooperativismo é o desenvolvimento comunitário, assim, a cooperativa costuma ter um vínculo muito forte com o território que ela ocupa”, diz Louize.

De acordo com uma pesquisa do Sicredi em parceria com a Fundação de Pesquisas Econômicas (Fipe), o cooperativismo incrementa o Produto Interno Bruto (PIB)  per capita dos municípios em 5,6%, cria 6,2% mais vagas de trabalho formal e aumenta o número de estabelecimentos comerciais em 15,7%. 

“Nós conseguimos ter um relacionamento próximo com os associados, atuando de forma consultiva e buscando o seu bem-estar financeiro. Por meio da atuação local, podemos implementar programas sociais e nos conectarmos com as demandas da comunidade”, complementa Cristiane.

Educação financeira como base do cooperativismo

O desenvolvimento local vem acompanhado de ações de educação financeira, que tem o papel de  estimular uma relação saudável com o dinheiro e a tomada de decisões de consumo mais conscientes. 

“Educar e informar bem os cooperados é uma necessidade do negócio, já que eles decidem os rumos que a cooperativa irá tomar”, aponta Louize. “Trabalhamos para que a educação financeira permeie todo o negócio, e não apenas a esfera social”, explica.

Com esse objetivo, o Sicoob oferece diferentes soluções de educação financeira, como cursos online e presenciais, workshops, palestras, plataforma e ferramentas dentro do app, coleção de livros infantis, programas de  capacitação de professores para que eles levem o tema para as salas de aula, além de consultoria individual via plataforma ou presencialmente. 

Da mesma forma, desde 2016 o Sicredi realiza diversas ações de educação financeira voltadas tanto para associados, quanto para não associados. “Nosso objetivo principal é incentivar a mudança de comportamento das pessoas em relação ao uso do dinheiro, estimulando uma gestão financeira mais consciente e responsável”, diz Cristiane.

As principais ações das cooperativas do Sicredi incluem oficinas e palestras, geralmente presenciais, com conteúdo simples e exercícios práticos que fornecem informações, conhecimentos e boas práticas para uma vida financeira sustentável. Contam, ainda, com cursos online e um site de educação financeira.