O número de brasileiros que têm algum tipo de relacionamento com os bancos mais que dobrou de tamanho entre 2018 e 2023. O crescimento foi impulsionado especialmente pela digitalização de serviços e meios de pagamentos, como o Pix, o que permitiu que cada vez mais pessoas das mais diferentes faixas de renda ingressassem no sistema financeiro. E, também, pela abertura de contas para recebimento do auxílio emergencial, durante a pandemia, além da entrada de novas instituições financeiras no mercado.
Os dados são do Relatório de Economia Bancária, publicado em junho de 2024 pelo Banco Central. De acordo com o documento, a quantidade de usuários ativos do Sistema Financeiro Nacional e do Sistema de Pagamentos Brasileiro cresceu 103,2% de junho de 2018 a dezembro de 2023. Os clientes pessoas físicas saltaram de 77,2 milhões (46,8% da população adulta) para 152,0 milhões (87,7% da população adulta) no período. E o de pessoas jurídicas pulou de 3,4 milhões para 11,6 milhões.
Outro estudo feito pelo Banco Central, com base em dados do Global Findex, principal banco de dados sobre inclusão financeira do mundo, revela que, em 2021, 82% dos brasileiros de baixa renda tinham conta em banco. Ou seja, 8 em cada 10 pessoas da camada mais pobre estão incluídas no sistema financeiro. Ainda assim, uma parcela significativa da população segue sub-bancarizada, e pouco utiliza ou não tem acesso a produtos e serviços financeiros.
Mas, afinal, o que é inclusão financeira e por que ela é importante? “A inclusão financeira permite às pessoas economizar para atender às necessidades de sua família, tomar emprestado para apoiar um negócio ou formar uma barreira para emergência. Ter acesso a serviços financeiros é um passo crítico para reduzir tanto a pobreza como a desigualdade”, disse o ex-presidente do Banco Mundial, Jim Yong Kim.
A importância de ter conta em banco ou financeira
A inclusão do sistema financeiro é importante para o desenvolvimento econômico e para o bem-estar da população. Entenda porquê.
1. Segurança: o dinheiro bem protegido
O Raio X do Investidor Brasileiro, feito pela Anbima (Associação Brasileira das Entidades dos Mercados Financeiro e de Capitais) com base em dados coletados em 2023, revela que 3% dos brasileiros ainda guardam dinheiro em casa. Isso pode ser perigoso, não só pelo risco de roubos ou furtos, mas também de acidentes domésticos e catástrofes que podem simplesmente acabar com as economias em poucos minutos.
Para quem trabalha por conta própria, como motoristas de aplicativos, cabeleireiras ou costureiras, receber pagamentos em dinheiro também pode tornar o negócio mais visado por ladrões e oportunistas. Abrir uma conta em banco elimina esse problema, pois garante que o dinheiro estará seguro e acessível quando você precisar.
2. Rendimento e proteção contra a inflação
Além de inseguro, o dinheiro guardado em casa perde valor, já que a inflação come parte do seu poder de compra diariamente. Quando ouvimos dizer que a inflação está em 5% ao ano, por exemplo, isso significa que uma pessoa precisaria ter, hoje, R$ 105 para comprar os mesmos itens que custavam R$ 100 há um ano.
Se a mesma quantia estiver em uma aplicação e render 10% ao ano, ao final desse período, você terá R$ 110 em mãos. Ou seja, o dinheiro poderia comprar aqueles mesmos produtos e ainda sobrariam R$ 5, correspondentes ao rendimento acima da inflação. Portanto, o sistema financeiro protege o poder de compra do dinheiro, além de fazê-lo render.
3. Facilidade para fazer pagamentos e transferências
Mandar dinheiro para familiares que moram longe ou pagar compras à vista é mais simples para quem tem conta bancária. Essas transações podem ser feitas pelo Pix (sistema de pagamento instantâneo). Desde seu lançamento, em novembro de 2020, o Pix vem superando outras formas de transferência de dinheiro na preferência do consumidor. Quem não tem conta em banco, fica excluído dessa vantagem.
4. Praticidade para comprar e vender
Quem vai ao supermercado com notas e moedas, por exemplo, precisa ficar atento e somar cada item que coloca no carrinho. Se faltar dinheiro, será preciso deixar alguns produtos para trás. Por outro lado, quem tem comércio ou presta serviço e não aceita meios de pagamento digitais, como cartão ou Pix, precisa ter sempre troco disponível para não perder a venda. A simples abertura de conta em banco traz mais praticidade ao dia-a-dia de compradores e vendedores, facilitando as transações e trocas financeiras.
5. Acesso ao crédito
Pessoas inseridas no sistema financeiro podem ter acesso a cartão de crédito, consórcios, empréstimos, parcelamento de compras, financiamentos e outros meios de antecipar a aquisição de bens e a realização de seus sonhos.
Vale ressaltar que esse é um círculo virtuoso: quanto melhor for o comportamento do consumidor bancário, pagando as parcelas contratadas em dia, mais crédito ele pode ir obtendo ao longo do tempo, já que o seu score, ou seja, sua pontuação de crédito, vai aumentando. Assim, a pessoa pode obter um limite cada vez maior para realizar suas conquistas ao longo da vida.
6. Gratuidade nos serviços
Foi-se o tempo em que era necessário pagar tarifa de manutenção de conta. Há mais de uma década, é possível ter contas gratuitas, ou seja, você não precisa pagar nada para acessar um pacote essencial de serviços. Ele inclui: um cartão de débito para compras e saques, 4 saques por mês no caixa eletrônico ou no guichê da agência, 2 transferências entre contas da mesma instituição por mês e 2 extratos no caixa eletrônico.
É possível visualizar extratos pelo computador ou celular e fazer várias transferências via Pix sem pagar um centavo por isso. Quem precisa de mais serviços pode contratar uma cesta mais sofisticada, com preços que podem variar entre os bancos e os perfis de usuários, mas se não for o seu caso, terá custo zero para manter sua conta bancária. Além disso, várias instituições oferecem contas digitais gratuitas.
Inclusão com educação financeira é o caminho para a prosperidade
Vimos que a inclusão financeira contribui para ampliar o bem-estar financeiro, no entanto, é fundamental que ela seja acompanhada de orientação, informação e educação financeira. Dessa maneira, o consumidor pode usar os produtos e serviços financeiros a seu favor, evitando expor-se a golpes e fraudes ou ao risco de superendividamento, por exemplo.
Para ampliar o uso consciente do dinheiro e dos serviços e produtos financeiros, a FEBRABAN (Federação Brasileira de Bancos), entidade que representa os bancos, e o Banco Central, órgão regulador do sistema bancário, atuam em parceria para promover a inclusão e a cidadania financeira no país.
Como fruto dessa parceria, têm sido realizadas diversas ações envolvendo bancos e financeiras no esforço para melhorar a saúde financeira da população. Conheça as principais iniciativas:
- Portal Meu Bolso em Dia, que traz mais de 500 matérias com dicas práticas e orientações para sair das dívidas, organizar as finanças, poupar e empreender, além de ferramentas que podem ser usadas no dia a dia, como planilhas orçamentárias e planejamento, além de e-books com dicas práticas sobre organização financeira.
- Plataforma Meu Bolso em Dia, com trilhas educativas compostas por aulas, vídeos e outros recursos adequados ao perfil de cada pessoa e tipo de dificuldade que ela enfrenta.
- Índice de Saúde Financeira, um diagnóstico da saúde financeira de cada indivíduo e aponta o que ele precisa fazer para melhorar.
- Mutirões de Negociação, realizados duas vezes ao ano, em março e novembro, em parceria com a Secretaria Nacional do Consumidor e Procons (órgãos de proteção e defesa do consumidor) de todo o país.
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Matéria publicada em 3 de julho de 2024 e atualizada em 23/07/2024.