Conteúdo produzido pelo Sebrae-MG para o Meu Bolso em Dia
As micro e pequenas empresas, em fase inicial de funcionamento ou em expansão, normalmente precisam de dinheiro para financiar o seu crescimento. Utilizar capital próprio para este fim é uma medida segura e saudável. Porém, nem sempre o empreendedor tem condições de fazê-lo ou prefere usar recursos de terceiros para não descapitalizar a empresa.
Para que os empresários acessem e utilizem o crédito de forma compatível com a real necessidade e com o contexto de seus negócios, obtendo o melhor resultado possível desta operação, vamos abordar, aqui, alguns pontos importantes. Você conhecerá critérios técnicos utilizados pelas instituições financeiras para aceitar ou não uma operação de crédito e outros aspectos que lhe auxiliarão antes, durante e após contratar crédito junto a uma instituição financeira.
Modalidades de financiamento
O primeiro ponto quando pensamos em buscar um recurso junto a um agente financeiro é saber onde e como a empresa vai investir os recursos. Isso é extremamente importante para a definição de qual e quanto de recurso iremos buscar. É o que chamamos de modalidades de financiamento, que são:
Investimento fixo
Operações de crédito de longo prazo, que têm o objetivo de financiar a implantação, expansão, reposicionamento, modernização, aquisição ou reposição de máquinas, equipamentos e veículos da empresa. Essas operações financiam, geralmente, ativos fixos visando, principalmente, aumentar a produção e a produtividade, implantar inovações tecnológicas e melhorar a qualidade dos produtos e serviços.
Nesse tipo de operação, é comum os bancos solicitarem um plano de investimento, com projeções financeiras e demonstração da viabilidade econômica para o novo recurso, bem como várias informações adicionais que são necessárias para a análise do crédito.
As linhas de crédito categorizadas nesta modalidade, normalmente, têm custos mais baixos do que as linhas de Capital de Giro, por exemplo, que veremos a seguir.
Capital de Giro
Modalidade de crédito destinada ao provimento das necessidades de caixa da empresa para pagamento de funcionários, estoques, tributos e outros compromissos financeiros de curto prazo. Os bancos oferecem uma grande variedade de linhas de crédito para capital de giro, com características e exigências específicas.
Empréstimos para capital de giro podem ser liberados de duas formas:
- Capital de giro associado ao financiamento de investimentos fixos – Pode ser aplicado na compra de insumos em razão do incremento da produção gerada pelo investimento fixo. É chamado, também, de misto.
- Capital de giro puro – Para empresas que não precisam de efetuar investimentos em ativos fixos e demandam crédito, exclusivamente, para compor o caixa, conforme as necessidades descritas anteriormente.
Agora que você já sabe quais são as modalidades de financiamento, vamos compreender como os bancos avaliam as propostas de crédito apresentadas pelos empreendedores.
Como os bancos avaliam se vão (ou não) conceder crédito
Os bancos classificam as operações de crédito do nível A ao nível H. Enquanto o nível A significa que aquele tomador apresenta menor risco de inadimplência para a instituição financeira, o nível H apresenta o maior risco. Isso é, quanto mais próximo o tomador do crédito estiver da classificação H, maior é a probabilidade de não conseguir honrar com o compromisso assumido e se tornar inadimplente.
Essa é a chamada “classificação de risco”, um dos componentes que influenciam no custo do crédito pelas instituições financeiras. Veja alguns aspectos que são considerados para essa análise:
Viabilidade do projeto de investimento
A elaboração de um projeto de investimento não é uma mera formalidade para obter crédito, mas deve ser encarada como uma importante tarefa de planejamento. Por isso, sua elaboração deve ser feita com base em informações que reflitam a sustentabilidade do negócio em longo prazo.
O negócio e os empreendedores
O sucesso de um negócio depende, em grande parte, da experiência profissional e gerencial de seus gestores. O projeto de investimento pode ser viável, mas os empresários e o próprio negócio podem estar em situação financeira ruim ou pode existir histórico de não pagamento de dívidas. Por essa razão, as instituições de crédito fazem análises isoladas do projeto, do negócio e dos proponentes.
Projeções financeiras e capacidade de pagamento
As projeções financeiras são utilizadas para avaliar a capacidade de geração de recursos por parte da empresa e do projeto. Com base nas estimativas de receitas e gastos é apurada a viabilidade financeira do investimento. É importante comparar a capacidade de geração de recursos do projeto e do negócio com o impacto das prestações assumidas com o financiamento para comprovar sua capacidade de quitá-las ao longo do tempo.
Utilização de recursos próprios
Ao apoiar financeiramente um projeto empresarial, após uma análise criteriosa dos riscos envolvidos, a instituição financeira está cumprindo o seu papel de intermediador financeiro, porém o tomador do crédito deve ter interesse e capacidade de aportar recursos próprios demonstrando, assim, comprometimento com o projeto. O aporte de recursos próprios do empresário indica a sua crença no sucesso do projeto apresentado e conta positivamente no momento da análise de crédito por parte do banco.
Disponibilidade de capital de giro e garantias
Uma das principais causas de fechamento das micro e pequenas empresas é a falta ou insuficiência de capital de giro. Na falta desses recursos financeiros, o empresário acaba tomando empréstimos no mercado, às vezes com custo muito elevado, o que pode inviabilizar a quitação do financiamento solicitado. Mesmo para as linhas da modalidade “capital de giro”, o tomador deve demonstrar que a entrada do recurso novo gerará condições para a melhoria financeira do negócio, possibilitando o pagamento da dívida. Além do capital de giro, a disponibilidade de garantias a serem oferecidas pela empresa e/ou seus sócios também é um ponto importante na análise feita pelas instituições financeiras.
Os C’s do crédito
Faz parte das boas práticas bancárias realizar análises de propostas de crédito utilizando como parâmetros os chamados “C’s do crédito”. Tratam-se de aspectos que permitem realizar avaliações objetivas e subjetivas das propostas de crédito. São eles:
1) Caráter: Diz respeito à índole do tomador do empréstimo e sua predisposição em pagar o financiamento contraído. Em termos práticos, os bancos consultam o Sistema de Informações do Banco Central e verificam se a empresa e seus sócios têm ocorrências registradas em órgãos de proteção ao crédito (Serasa, SPC, Cadin) e cartórios, por exemplo.
2) Capacidade: É a capacidade de pagamento do proponente, ou seja, se a empresa tem saúde financeira suficiente para quitar o crédito solicitado. São analisadas as demonstrações financeiras, com ênfase nos fluxos e projeções de caixa, para verificar a liquidez (capacidade de honrar os compromissos financeiros).
3) Capital: Representa a estrutura patrimonial da empresa que, por sua vez, indica a condição econômica e financeira do proponente ao crédito.
4) Colateral: Representa o valor dos bens e direitos que o proponente oferece para garantir a operação de crédito, ou seja, são as garantias oferecidas pelo tomador ao banco para aquela operação pleiteada. Quanto maior for o valor e a liquidez dos ativos disponibilizados, ou seja, a possibilidade de vende-los rapidamente e por valor compatível com a dívida, maior a chance de a instituição financeira liberar o crédito.
5) Condições: O macroambiente empresarial é analisado para avaliar como os aspectos políticos, econômicos, sociais, e tecnológicos podem afetar a empresa que está pleiteando o crédito. Os bancos ponderam fatores econômicos da região, como renda per capita, nível de industrialização, incentivos tributários, recursos naturais, clima e vegetação, além de fatores sociais como costumes, crenças e valores. Este “C” relaciona-se, também, ao setor da empresa, ao segmento em que está inserida e aos diferentes contextos que os impactam.
Requisitos para obtenção de crédito
Até aqui, já conversamos sobre as modalidades de financiamento e como os bancos avaliam as propostas de operação de crédito. Assim, vimos, dentre outros aspectos, os parâmetros utilizados pelas instituições bancárias para analisar as propostas de crédito, que levam em consideração o caráter do tomador de empréstimo, a capacidade de pagamento do proponente, o capital da empresa, o colateral e as condições do macroambiente empresarial.
Então, afinal, quais seriam os principais pré-requisitos para conseguir o crédito? Vejamos alguns deles.
Cadastro sem restrições
A condição inicial básica para se pleitear qualquer tipo de crédito é ter um cadastro “limpo” no que diz respeito à quitação de débitos com fornecedores, bancos e governos. Qualquer ocorrência cadastral negativa deverá ser quitada ou renegociada para, só então, solicitar o crédito.
Informações contábeis e gerenciais confiáveis
Preencher os formulários próprios das instituições de crédito com informações verdadeiras, acompanhadas da documentação completa, é fator decisivo para que a proposta de crédito seja acatada e para que o acesso se dê em melhores condições.
Oferta de garantias
Os bancos solicitam garantias para reduzir o risco da operação de crédito, seguindo critérios próprios e regras do Banco Central. Elas podem ser de dois tipos: reais (bens móveis e imóveis, fundos de aval e fiança, dentre outros) ou pessoais (aval ou fiança pessoa física). Existe, ainda, a possibilidade de se oferecer a carteira de recebíveis da empresa como garantia da operação. Se, ainda assim, a empresa não tiver essas garantias para oferecer, existem fundos de aval que podem ser uma saída para complementar as garantias exigidas pelos bancos. Como exemplo de Fundo de Aval, conheça o FAMPE, do SEBRAE, clicando aqui.
Dicas finais
- Saiba exatamente quanto, quando e para que irá precisar do empréstimo ou financiamento e como irá quitá-lo.
- Utilize o recurso exatamente para aquilo que foi solicitado.
- Compare as condições oferecidas e os custos do crédito em mais de um banco.
- Fique atento às inovações no sistema financeiro.
- Procure sempre o Sebrae mais próximo de sua empresa e capacite-se. Uma boa gestão dá ainda mais segurança à instituição financeira e ao negócio.