Quando as famílias crescem, é comum que elas modifiquem suas prioridades financeiras. O foco dos pais e mães passa a ser direcionado totalmente para o cuidado com os pequenos. Além do presente, ganha destaque a preocupação com o futuro das crianças. Algumas vezes, isso significa abrir mão, inclusive, dos planos dos adultos.
Mas será que esse é o caminho para preservar a segurança da família? O que é melhor: começar a guardar dinheiro agora para os pequenos ou fortalecer, primeiro, a saúde financeira dos responsáveis? Confira algumas questões para você refletir sobre o tema.
E já que estamos falando de investir no futuro, trazemos também algumas dicas para planejar as aplicações, potencializando os rendimentos e garantindo o poder de compra do dinheiro dos pequenos ao longo do tempo.
Proteja-se primeiro
Antes de decidir guardar dinheiro para os filhos, é fundamental checar como está a sua condição financeira. Quem já viajou de avião deve se lembrar da recomendação de "colocar a máscara de oxigênio primeiro em você, depois na criança". A recomendação se aplica também ao dinheiro.
Antes de tudo, é preciso se certificar de que as finanças dos adultos estão equilibradas e seus riscos mais imediatos estão protegidos. Para saber se é o momento de aplicar dinheiro para os filhos, faça uma autoavaliação partindo das perguntas a seguir.
Seu patrimônio está garantido?
Verifique se suas principais conquistas, como casa, carro, saúde e sua capacidade de gerar renda estão devidamente seguradas. De nada adianta guardar dinheiro mensalmente em uma aplicação para seu filho, se você corre o risco de perder seu imóvel em um incêndio, por falta de um seguro, ou não tiver condições de pagar por um tratamento de saúde, por exemplo.
Você tem uma reserva para imprevistos?
Se você não estiver preparado para as emergências de curto prazo, será tentado a mexer no dinheiro das crianças para pagar despesas inesperadas que podem surgir a qualquer momento. E isso virá junto com sentimentos negativos, como culpa ou frustração. Por isso, forme antes a sua reserva financeira para cobrir gastos imprevistos por pelo menos três meses.
Seus pais, sogros ou irmãos dependem de ajuda financeira?
Geralmente, damos atenção às crianças, que são saudáveis, jovens e terão muito tempo pela frente para realizar suas próprias conquistas e acumular seu próprio dinheiro, e esquecemos de outras pessoas mais vulneráveis ao nosso redor.
O risco de ter de arcar com despesas de tratamento ou acolhimento de idosos pode estar mais próximo do que pagar a faculdade dos filhos daqui a vários anos, por exemplo. E, quando surge, muitas vezes a família está despreparada.
Como se planejar para cada situação
Se você já cuidou das prioridades e está decidido a começar um investimento para os filhos, é importante considerar as questões abaixo antes de escolher a aplicação.
Qual é o objetivo do investimento?
Se a ideia for pagar a faculdade, os bancos oferecem produtos específicos para essa finalidade, inclusive planos de previdência para filhos, netos e/ou afilhados, que podem ser sacados aos 18 ou 21 anos. Nesse caso, a dica é se informar sobre impostos e taxas cobradas para checar se a rentabilidade obtida irá superar os custos e a inflação.
Considere a taxa de administração – pagamento pelo serviço de gerir o plano de previdência – e a taxa de carregamento, que pode ser cobrada sobre cada depósito que você fizer no plano. Várias instituições financeiras não cobram taxa de carregamento e a recomendação é buscar uma taxa de administração inferior a 2% ao ano.
Além disso, há também a taxa de saída, cobrada caso você precise fazer o saque antecipado dos valores. É também necessário decidir pelo tipo de tributação (progressiva ou regressiva) e avaliar a rentabilidade oferecida pela instituição que irá aplicar seu dinheiro. Caso opte por esta alternativa, esteja preparado para fazer contas e comparar bem as condições oferecidas pelas diferentes instituições.
Por quanto tempo pretende investir?
Seja para custear os estudos dos filhos ou para outros planos, como pagar a viagem de intercâmbio no segundo grau ou abrir um negócio ao terminar a faculdade, o investimento geralmente é um plano de médio ou longo prazo. Sendo assim, uma das principais preocupações é proteger o dinheiro de uma eventual perda de poder de compra devido à inflação que se acumula ano após ano.
Para isso, a dica é buscar uma aplicação que ofereça rentabilidade superior à inflação. Um exemplo é o Tesouro IPCA+, que aceita investimentos a partir de R$ 30,00. Lembre-se que, assim como na previdência, na hora de sacar o dinheiro aplicado, será cobrado imposto de renda sobre a rentabilidade.
Com que frequência pretende investir?
Se, em vez de aplicações mensais, você tiver recebido uma herança, bônus ou vendido um bem e queira investir esse montante único de dinheiro para seu filho fazer o resgate daqui a alguns anos, há opções que protegem o investimento da tentação de fazer saques antecipados.
Alguns exemplos são a LCI (Letra de Crédito Imobiliário) e o CDB (Certificado de Depósito Bancário). E você ainda sabe previamente qual será o retorno, já que ambos têm data de vencimento e rentabilidade pré-definidas.
Onde investir o dinheiro das crianças
Considerando os pontos levantados acima, listamos as situações mais comuns para as quais os pais costumam desejar guardar dinheiro para os filhos e algumas sugestões do que precisa ser levado em conta na hora de escolher onde investir o dinheiro poupado.
Curso de idioma ou outro curso rápido
Se a intenção for investir dinheiro por um ou dois anos para pagar um curso para o filho estudar um idioma estrangeiro, considere aplicar em investimentos com maior liquidez, como o Tesouro Selic ou CDB com liquidez diária para poder resgatar o recurso em pouco tempo. O esforço vale a pena, pois investir em educação aumenta a renda.
Faculdade ou especialização
Nesses casos, em que há a necessidade de guardar dinheiro por mais tempo, é possível pensar na previdência complementar ou no Tesouro IPCA+. Nas duas modalidades, é possível agendar o período de aplicações, para resgatar o investimento no ano próximo à data que seu filho iniciará o curso.
Lembre-se: quando tiver o montante acumulado para um período, como um semestre ou ano, é possível obter bons descontos junto às instituições de ensino e evitar um compromisso com uma mensalidade escolar.
Intercâmbio ou curso no exterior
Sempre que o objetivo estiver atrelado a uma viagem ou curso no exterior, é importante poupar o dinheiro em moeda estrangeira, para evitar que uma eventual mudança repentina no câmbio reduza seu poder de compra. Imagine, por exemplo, que alguém precise poupar 10 mil dólares para pagar o curso ou a viagem de intercâmbio do filho.
Se o câmbio estiver custando 5 reais, isso significa poupar R$ 50 mil. Caso o câmbio mude para R$ 5,50, seria necessário juntar R$ 55 mil para atingir o mesmo valor em dólares. Para evitar esse problema, as instituições financeiras oferecem fundos cambiais, atrelados à moeda estrangeira.
Leve em conta que há uma série de alternativas para que os jovens concretizem o sonho de estudar fora do Brasil, incluindo aí bolsas de estudos gratuitas oferecidas por instituições nacionais e estrangeiras.
Dica! Para ter maior segurança na hora de decidir investir, fale com um consultor financeiro ou com o gerente do seu banco. Eles poderão orientar você em relação às melhores opções para cada situação.
Cuide das expectativas
Seja qual for a alternativa escolhida para poupar para seus filhos, saiba que, além de dinheiro, você estará depositando expectativas de futuro traçadas por você. Tome cuidado para não se frustrar, caso eles tomem decisões financeiras totalmente diferentes das que você planejou.
E lembre-se que o melhor investimento que você pode fazer para garantir o futuro de seus filhos é a educação. Assim, eles serão os protagonistas de suas próprias histórias.
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Matéria publicada dia 21 de fevereiro de 2018 e atualizada dia 15 de fevereiro de 2023