Endividamento do idoso: como identificar e ajudá-lo a reconquistar a saúde financeira

Conheça os sinais e as principais causas de endividamento do idoso. Aprenda, também, a identificar tentativas de golpes e situações de abuso financeiro contra idosos.

Como identificar o endividamento do idoso e como ajudá-lo a sair das dívidas
28 de julho de 2023 6 min. leitura

Com o envelhecimento da população e os desafios financeiros enfrentados pelos idosos, o endividamento aparece como uma realidade alarmante, que impacta significativamente a qualidade de vida dessa fatia da população. Fazendo, assim, com que poucos cidadãos tenham tranquilidade financeira para aproveitar a aposentadoria.

Segundo dados da Serasa (jun/23), das mais de 71 milhões de pessoas que estão na lista de inadimplentes, 18,1% têm mais de 60 anos de idade e 34,8% estão na faixa dos 41 aos 60 anos. São mais de 35 milhões de indivíduos que, pela queda da empregabilidade nessa faixa etária, diminuição de renda, aumento dos gastos com medicamentos, uso inadequado do crédito consignado e tantos outros motivos, vivem em risco financeiro.

Muitas vezes, isso passa despercebido pela família, que nem sempre consegue identificar que algo não vai bem. Por isso, a dica é ficar atento a alguns sinais do endividamento que impactam a vida das pessoas seniores que estão à sua volta, pôr a mão na massa e ajudá-las a sair dessa situação. Nesta matéria, trazemos uma série de informações e orientações para apoiar você nisso. 

O que você vai encontrar aqui: sinais de endividamento dos idosos, como ajudá-los a retomar o controle de sua vida financeira, como identificar casos de abuso financeiro e patrimonial praticados por pessoas próximas e os principais golpes aplicados contra a pessoa idosa.

Destaques:

  • Como reconhecer o endividamento de familiares idosos
  • Dicas para ajudar o idoso a ter uma vida financeira mais estável
  • Superendividamento do idoso: o que fazer?
  • Como identificar casos de abuso financeiro ou patrimonial contra idosos
  • Crédito consignado e a autorregulação dos bancos
  • Cuidado com golpes contra o idoso

Como reconhecer o endividamento de familiares idosos

sinais do endividamento de idosos

Perceber e reconhecer que uma pessoa está passando por dificuldades financeiras não é fácil. Isso porque o dinheiro ainda é um tabu na sociedade, poucas pessoas conversam sobre isso e, muitas vezes, quem está endividado sente vergonha de falar sobre o assunto, mesmo com familiares. Mas há alguns sinais que indicam que algo não vai bem. Saber identificá-los é o primeiro passo para que você possa oferecer suporte ao idoso, ajudando-o a recuperar sua saúde financeira.

A pesquisa Perfil e Comportamento do Endividamento Brasileiro 2022, feita pela Opinion Box em parceria com a Serasa, revela que 83% dos endividados têm dificuldade para dormir por conta da preocupação com as contas. A insônia ou a mudança de rotina no sono torna-se ainda mais preocupante quando vem acompanhada de depressão ou ansiedade. O estudo mostra que 61% das pessoas sentem crises de ansiedade ao pensar nas dívidas, enquanto 53% disseram sentir muita tristeza e medo do futuro.

Esses sinais podem ser percebidos no dia a dia. O idoso pode se sentir desmotivado e diminuir as atividades físicas ou interações sociais, por exemplo, ou se tornar mais irritadiço e estressado no cotidiano. Outro sinal importante é quando ele entra em estado de alerta ao tocar o telefone ou mostra animosidade ao atender ligações. Isso pode significar que ele vem recebendo chamadas de escritórios de cobrança.

A falta de foco e a dificuldade de concentração para realizar tarefas diárias também foram sentidas por 74% das pessoas entrevistadas pelo Opinion Box. Portanto, fique atento a mudanças de comportamento aparentemente sem motivos e não tenha medo de perguntar abertamente sobre o assunto. Ofereça suporte e ajuda ao familiar idoso, sempre de forma respeitosa e evitando ser invasivo.

5 dicas para ajudar o idoso a ter uma vida financeira mais estável

como ajudar um idoso endividado

Reconhecer os sinais de endividamento é o primeiro passo para ajudar o idoso a superar suas dificuldades financeiras. Durante essa jornada, o apoio de amigos e familiares é muito importante, seja ao oferecer suporte emocional, orientações práticas ou, ainda, ao conectar os idosos a recursos apropriados. Veja algumas dicas e orientações para uma vida financeira mais estável:

1. Ajude-o a fazer o orçamento pessoal

Colocar as contas no papel é o primeiro passo para organizar as finanças. É importante anotar tudo: os gastos fixos, como aluguel, água, luz e gás, gastos com remédios, outras despesas médicas, parcelas de dívidas contratadas, alimentação e até mesmo as contas pequenas. É necessário anotar, também, as entradas de dinheiro - aposentadoria, auxílios, aluguel recebido ou qualquer outra fonte de renda. Assim, é possível ter uma visão completa da vida financeira do idoso. 

Para apoiar essa tarefa, você pode baixar a nossa planilha para aposentados e pensionistas. Ou, se preferir, ajude a pessoa idosa a anotar tudo em um caderno e oriente-a a manter o orçamento atualizado.

2. Liste as dívidas, ensine a priorizar e ajude a negociar

Quando as pessoas acumulam várias dívidas, é importante fazer uma lista detalhada de todas elas dívidas, incluindo o valor total, quanto falta para quitar, valor e data de vencimento de cada parcela. Com tudo organizado, fica mais fácil priorizar o pagamento das dívidas.

As necessidades básicas vêm sempre em primeiro lugar, portanto, é importante pagar antes  o aluguel, o condomínio e as contas de consumo (luz, água, gás, telefone). Se a pessoa tiver um financiamento de casa ou carro, essas contas vêm logo em seguida, porque a falta de pagamento pode levar à perda do bem. A seguir, vêm pagar as dívidas com juros mais altos, que pesam mais no orçamento.

Outra boa ideia é auxiliar o idoso a renegociar as dívidas. É possível conseguir descontos na taxa de juros ou melhores condições de parcelamento, aliviando os gastos mensais. Se as pendências se enquadram no Desenrola Brasil, essa pode ser uma boa oportunidade de liquidá-las com condições especiais. Se as dívidas são no cartão de crédito, por exemplo, pode valer a pena contratar um crédito mais em conta para se livrar logo das dívidas mais caras. 

3. Faça um plano para poupar

Com tudo organizado, o próximo passo é orientar o idoso a começar a poupar algum dinheiro. Olhando o orçamento pessoal, você pode ajudá-lo a identificar gastos que podem ser reavaliados. Também pode ser o momento de se desfazer de alguns bens, como um carro, para conseguir ter mais fôlego para retomar as rédeas da vida financeira e começar a construir uma reserva de emergência.

4. Dê ideias de como fazer renda extra, caso a pessoa tenha uma vida ativa

Mesmo depois da aposentadoria, existem muitas formas de se fazer um dinheiro a mais para complementar a renda. Se o idoso gosta de animais, que tal sugerir a ele hospedar ou levar os cães da vizinhança para passear e cobrar por isso? Agora, para quem é bom com crianças, ser babá também é uma ótima ideia. Para os idosos bons de cozinha, é possível vender bolos, doces, quitutes ou até marmitas. As opções são inúmeras. Sente com o idoso, converse sobre o assunto e o ajude, também, a aprender como divulgar o  trabalho online.

5. Esteja presente em todos os momentos

Lidar com o endividamento não é fácil. Por isso, esteja presente durante todo o processo de desendividamento e proponha atividades que ajudam a relaxar, como uma caminhada no parque, assistir a um filme ou preparar o almoço juntos. Além de distração, afastar um pouco os pensamentos constantes sobre dívidas ajuda o idoso a refletir e a buscar suas próprias soluções. 

Superendividamento do idoso: o que fazer?

o que é o superendividamento do idoso e o que fazer

Ter dificuldades de pagar algumas contas é uma coisa, mas quando o endividamento é tal que compromete a capacidade de assegurar o básico para a sobrevivência, a situação é caracterizada como superendividamento. Segundo a Pesquisa de Endividamento e Inadimplência do Consumidor, da Confederação Nacional do Comércio, cerca de 8% das pessoas endividadas estão nessa situação. São mais de 14 milhões de superendividados no país, segundo dados do Banco Central.

A boa notícia é que, desde 2021, a Lei  14.181, a chamada Lei do Superendividamento, alterou o Código de Defesa do Consumidor e o Estatuto do Idoso, regulamentando a oferta de crédito, a prevenção e o tratamento às pessoas superendividadas. Além de ter alterado os tetos de descontos automáticos de empréstimos consignados de aposentados e pensionistas, a Lei permite que o idoso superendividado faça a repactuação das dívidas com o apoio de um juiz.

Nesse caso, as dívidas são negociadas em uma audiência de conciliação, com a presença dos credores.  A lei estabelece, ainda, o conceito de mínimo existencial, ou seja, um valor da renda que não pode ser usado para pagar as dívidas, de maneira a garantir o sustento básico da pessoa superendividada.

Como identificar casos de abuso financeiro ou patrimonial contra idosos

como identificar abuso financeiro contra idosos

O abuso financeiro ou patrimonial contra idosos é outro problema comum. Dados da Ouvidoria Nacional de Direitos Humanos (ONDH) do Ministério dos Direitos Humanos e Cidadania, revelam que mais de 54% das denúncias registradas em 2022 foram relacionadas a esse tipo de violência contra pessoas com 60 anos ou mais. Dentre as práticas mais comuns estão esconder cartões, roubar senhas, sumir com objetos de valor, forçar a realização de saques, a assinatura de contratos ou a contratação de empréstimos, como o consignado, em nome de outras pessoas.

Em boa parte das vezes, esses abusos acontecem dentro de casa, por pessoas próximas, e os sinais de que algo não está indo  bem surgem em conversas informais. Fique atento se o idoso comentar sobre empréstimos inesperados, diminuição da aposentadoria ou dificuldade de pagar as contas. Mudanças inesperadas de comportamento, como a irritabilidade, piora na saúde, agitação ou preocupação excessiva também podem ser um sinal.

Dependendo do seu grau de proximidade com a pessoa, com muita delicadeza, você pode iniciar uma conversa para tentar entender o que está acontecendo. Ofereça ajuda e, se for o caso, denuncie o caso pelo Disque 100.

A autorregulação dos bancos para o crédito consignado

A Autorregulação Bancária, criada pela Federação Brasileira de Bancos (FEBRABAN) em parceria com as instituições financeiras, estabelece regras para combater o assédio comercial na oferta de crédito consignado. Essa prática ocorre quando empresas ou vendedores usam táticas agressivas ou coercitivas para pressionar o idoso a realizar compras, adquirir produtos ou serviços ou até mesmo contratar empréstimos.

A autorregulação criou um sistema de bloqueio de ligações para quem não deseja receber ofertas de crédito consignado, um banco de dados para monitoramento das reclamações recebidas em razão de ofertas inadequadas e, ainda, a implementação de medidas de transparência e combate ao assédio comercial. Todo esse conjunto de regras e diretrizes veio para proteger os consumidores e promover boas práticas no mercado de crédito consignado.

Desde sua criação, em 2020, 999 correspondentes bancários foram advertidos ou tiveram suas atividades suspensas, e 41 perderam o direito de exercer a atividade em definitivo. Comprometendo-se com essas regras, as instituições financeiras traçam um caminho ético e proporcionam mais segurança e transparência na contratação de crédito.

Principais tipos de golpes contra o idoso

Golpes contra idosos. Como se proteger de fraudes financeiras

Por sua vulnerabilidade e, muitas vezes, falta de intimidade com as tecnologias, os idosos também são os principais alvos de fraudes e golpes financeiros, que podem acontecer por telefonemas, mensagens, e-mails. Segundo o Radar Febraban 2023, 35% das pessoas acima de 60 anos já foram vítimas de algum tipo de golpe ou tentativa de golpe envolvendo sua conta bancária.

Na maioria dos casos, os golpes acontecem de forma virtual e envolvem o roubo de senhas e dados pessoais. Portanto, é muito importante conversar com os idosos sobre os principais golpes que existem hoje em dia, ensinando-os também a como se protegerem para não serem vítimas desse tipo de crime. Oriente o idoso a:

  • Não clicar em links recebidos por e-mail ou mensagens que contenham promoções extraordinárias;
  • Evitar abrir anexos que não esteja esperando receber ou que não conheça quem mandou;
  • Checar o remetente dos e-mails com muita atenção. Às vezes um e-mail pode ter um nome muito semelhante ao de uma pessoa ou empresa conhecida, porém, com uma pequena diferença, como um caractere especial ou número;
  • Não informar dados pessoais antes de conferir se uma mensagem é verdadeira;
  • Nunca informar senhas, em nenhuma situação;
  • Manter a calma quando receber ligações ou mensagens com pedidos de ajuda.  A sugestão é ligar para o familiar ou amigo que está pedindo ajuda, usando  um telefone diferente do que recebeu a mensagem, para verificar se é verdadeira;
  • Nunca depositar valores para antecipar a contratação de qualquer empréstimo. Essa prática não é adotada pelos bancos e financeiras;
  • Apenas negociar a contratação de empréstimos através de canais oficiais das instituições financeiras.

A informação é a melhor arma contra golpes e fraudes. Mas, se você conhecer alguém que foi vítima de golpe, reúna evidências, notifique o banco para que ele tome as medidas cabíveis e faça um boletim de ocorrência, online ou na delegacia mais próxima.

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