Como avaliar se você está dando um passo maior que a perna
Noivos planejam comprar uma casa para morar juntos e enfrentam a dúvida: escolher a casa dos sonhos, no bairro que amam, ou um imóvel menor em bairro mais simples, mais longe do trabalho, que cabe no bolso com tranquilidade?
Um jovem acaba de ser
contratado para trabalhar em uma grande empresa e logo pensa em comprar o carro
dos seus sonhos, financiando em três anos. Ou será que deveria esperar se firmar
na empresa, poupando um pouco por mês e daqui a um ano e meio dar boa entrada e
pagar o restante em doze prestações mais suaves?
Se você se identificou ou
já presenciou uma situação semelhante, não deve estar surpreso em saber que a
grande maioria dos brasileiros acaba escolhendo a opção que traz mais
satisfação imediata, mesmo que depois tenha que pagar um preço alto por essa
decisão. De acordo com um estudo do Datafolha, o brasileiro é um dos povos mais imediatistas do
mundo e isso se reflete em outro fato que tem tudo a ver com essa característica: a
dificuldade de poupar.
Assim, diante do dilema de
assumir uma dívida acima de suas possibilidades ou caminhar devagar e sempre, a
primeira alternativa acaba ganhando de lavada. Não é de admirar que mais de 60
milhões de brasileiros tenham contas em atraso. O endividamento é o custo de
decisões precipitadas, tomadas por impulso, ou por influência de amigos e
parentes.
Sinais de alerta
Veja alguns sinais de alerta e dicas para você escapar da armadilha de adotar um padrão de vida mais alto do que consegue bancar.
# Não consigo pagar as despesas básicas
Se você já cortou todos
os supérfluos, não sai de casa aos finais de semana, não viaja, não compra
presentes, não faz cursos extras e, mesmo assim, precisa entrar no cheque
especial, parcelar ou pré-datar as despesas básicas da casa, este é um sinal
claro de que está levando uma vida acima das suas posses.
# Não sei o que fazer quando surge um imprevisto
O dinheiro que entra dá
certinho, na medida para tudo o que você e sua família precisam, sem entrar em
dívidas. Isso, se nada acontecer. Se o chuveiro quebrar, a conta já não fecha.
A família se enrola e as contas começam a atrasar porque surgiu uma despesa
inesperada. Se o orçamento está sem folga, é preciso rever o padrão de vida.
# Não posso nem pensar em ficar doente ou
desempregado
Você e sua família
dependem totalmente da sua renda. Se você trabalha por conta própria, uma
simples gripe pode pôr em risco as contas do mês. Se tem carteira assinada, não
pode nem imaginar a ideia de ficar sem seu emprego e sempre que surge um boato
de cortes na empresa, você já começa a suar frio. Talvez seja hora fazer alguns
cortes nos gastos e guardar algum dinheiro.
# Não consigo fazer a manutenção do carro ou da
casa
Você batalhou para
conquistar o carro ou o imóvel que queria, mas agora está sofrendo por não ter
dinheiro para bancar revisões periódicas, seguros ou pequenos reparos. Se as
soluções que lhe vêm à mente são deixar o carro em casa, pois a documentação
não está em dia ou aguardar até o fim do ano para fazer aquela reforma no
telhado, há indícios de que você se precipitou na hora de comprar estes bens.
Soluções
Se você se deu conta de que seu padrão de vida não cabe no seu bolso, a boa notícia é que tudo tem solução. Veja algumas dicas para você se adequar às possibilidades da sua renda.
# Esteja aberto para se desapegar
É difícil se desfazer de
uma conquista, principalmente quando é algo realizado com muito trabalho.
Porém, se apegar a um bem que custa além do que você consegue pagar ou manter,
só irá consumir seu patrimônio ainda mais. Às vezes, é necessário assumir que
deu um passo maior que a perna e voltar um pouco atrás para redimensionar as
coisas de acordo com o tamanho do seu bolso. Não tenha vergonha de vender o
carro, a casa ou outros bens para pagar as dívidas e colocar a vida financeira
em ordem, guardando as lições aprendidas antes de sua próxima empreitada. Veja
algumas ideias na matéria A onda é desapegar.
# Aproveite seus bens ou tempo livre para gerar
renda extra
Nem sempre é necessário
se desfazer do bem conquistado para adequar seu padrão de vida, basta encontrar
uma maneira de fazer dinheiro com ele. Se você comprou uma casa mais ampla do
que necessita e tem um cômodo ocioso, pode alugá-lo por meio de aplicativos,
como o Airbnb, por exemplo. Leia a matéria Você tem um carro? Veja como fazer
dinheiro com ele. E se tem tempo livre, que tal oferecer alguns
serviços e ampliar suas fontes de renda? Veja as dicas: O novo saiu de moda – a onda agora é
compartilhar.
# Viva sempre um degrau abaixo do que poderia
Esta dica de ouro é o
segredo das pessoas que têm uma vida financeira tranquila. Sempre que seus
cálculos levarem você a uma situação de orçamento muito justo, sem nenhuma
folga, está correndo o risco de assumir compromissos além da sua capacidade de
pagamento. Ajuste as contas para ter uma margem no orçamento para poupar para
imprevistos e eventualidades. Se receber um aumento, evite sair gastando por
conta. Mantenha o padrão de consumo por um ano e faça uma reserva com as
sobras. Só depois, ouse replanejar melhorias no estilo de vida.
# Considere os custos invisíveis
Ao escolher um carro,
além de avaliar se a parcela do financiamento cabe no seu bolso, considere
todos os demais custos atrelados a ele, como seguro, revisões, combustível,
estacionamento, impostos, entre outros. Se, ao colocar tudo no papel, perceber
que sua renda será consumida para bancar o automóvel, avalie alternativas, como
um carro mais simples, transporte público ou aplicativos. Leia: Está pensando
em comprar um carro?
Isso também acontece com
imóveis. A escolha não deve ser baseada apenas no valor da parcela. Devem ser considerados
os custos de condomínio, impostos, transporte até o local do trabalho e o preço
dos serviços da região, como escolas, postos de gasolina e até padarias. O
custo de vida de morar em um bairro mais central pode ser muito mais alto do
que viver alguns quilômetros adiante. Faça uma pesquisa de preços antes de
escolher para onde irá se mudar. Leia: Faça uma caça aos custos invisíveis e
economize.
# Um passo de cada vez
Não é porque você
consegue comprar um carro ou um imóvel, que precisa ser aquele dos seus sonhos.
Dê passos pequenos no começo, avalie todas as alternativas, procure juntar
dinheiro para uma boa entrada, assuma parcelas menores, evite assumir dívidas
acima de 30% da sua renda familiar e vá evoluindo aos poucos. Evite a ansiedade
de querer tudo muito rápido ou de realizar vários sonhos de uma só vez.
Se estiver comprando a casa, espere um pouco para entrar na dívida do carro. Se estiver investindo em seus estudos, evite acumular uma dívida de imóvel ou planejar a vinda de um filho. Boa parte das dívidas começa quando queremos abraçar o mundo como se ele fosse acabar amanhã. Devagar e sempre, chega-se mais longe e com mais segurança.