O que é capital de giro
O capital de giro é aquele dinheiro em caixa para pagar os compromissos, como impostos, aluguel, conta de energia, fornecedores e funcionários, na janela entre os pagamentos e a entrada do dinheiro de venda do produto ou serviço na conta.
Qual principal objetivo do capital de giro
Ele é fundamental para cobrir imprevistos que podem pegar o empreendedor de surpresa em qualquer momento e evitar que ele precise recorrer ao dinheiro pessoal para quitar contas da empresa.
Momentos de crise do empreendedor
Durante a pandemia, vimos o quanto os imprevistos podem afetar os negócios. Quem tinha alguma reserva conseguiu respirar com um pouco mais de alívio, pelo menos durante um certo período.
E isso fez toda a diferença para muitos empreendedores, que conseguiram mudar o foco de suas atividades para se adequar ao novo momento ou se preparar, por exemplo, para fazer vendas online.
Mas qual deve ser o valor do capital de giro e como formar essa reserva? São vários os ingredientes que entram nessa conta, desde o conhecimento de como funciona o seu mercado até um rígido controle financeiro.
Caminhos do empreendedor para compor seu capital de giro
De olho na receita que abastece seu capital de giro, uma das maneiras de garantir dinheiro em caixa é buscar a antecipação de pagamentos dos clientes. Tudo vai depender das características do seu mercado. Na área de serviços, por exemplo, é possível pedir metade do pagamento no início, ficando a outra metade para quando o trabalho estiver finalizado. Já no comércio, nem sempre isso é viável.
Vendas pelo cartão e antecipação de recebíveis
Usado em larga escala, o cartão é uma das formas mais simples, rápidas e confiáveis de pagamento. Aceitar cartão pode ser uma via para a antecipação de recebíveis, um crédito rápido e simples de ser obtido, mas que requer alguns cuidados, de acordo com Alessandro Chaves, gerente do SEBRAE Minas Gerais.
Cuidado com os custos embutidos e taxas do cartão
Ele alerta para a necessidade de observar todos os custos embutidos nessa forma de pagamento, como o aluguel da máquina e as taxas de transação cobradas pelas instituições financeiras e credenciadores, que em alguns casos podem chegar de 3% a 4%. “Essa é a margem do seu negócio indo embora. Ao longo do tempo, esses juros podem interferir no volume do capital de giro”, explica.
Além desses custos, muitos empreendedores acabam pagando taxas adicionais para que os créditos que têm a receber do cartão sejam depositados na conta da empresa de imediato. É preciso, ainda, controlar bem as datas reais de entrada e de saída dos recursos, para que o pagamento antecipado agora não deixe um “buraco” na previsão de recursos que serão usados para honrar seus compromissos no futuro.
Considere as vendas pelo PIX
Outra forma – simples e rápida – de alimentar o capital de giro é o PIX, uma modalidade de pagamento que mudou não só a vida de consumidores, mas também dos empreendedores. O recebimento é instantâneo. Segundo Alessandro, muitas empresas substituíram a venda com cartão de débito pelo PIX e tiveram seus custos reduzidos. É preciso ficar atento, porque algumas instituições passaram a cobrar tarifa pelas transações.
Melhor dia para pagar fornecedores
Equacionada a forma de receber, é hora de dar atenção, também, à outra ponta, aos fornecedores – como, quando e quanto pagar. Relacionamento é a chave de sucesso para qualquer negócio, e isso vale também para os contatos com seus fornecedores. Se você conta com fornecedores de longa data, é possível negociar melhores condições de pagamento, prazos e descontos, defendendo o seu capital de giro.
Alessandro Chaves alerta: é preciso entender todas as condições para fazer uma boa negociação. Muitas vezes, os empreendedores pagam caro por agir no modo automático. “Mesmo tendo capital de giro, alguns pedem para pagar seus fornecedores em 30 ou 60 dias sem perguntar qual seria o valor se o pagamento fosse feito à vista. Comprar à vista com desconto é dinheiro em caixa, dá para repassar parte do ganho ao seu cliente, incrementando os negócios.”
Atenção ao estoque, maquinários e equipamentos ao compor seu capital de giro
A fórmula para compor um capital de giro consistente não se limita ao ajuste de receitas e despesas. Algumas vezes, esse capital está “escondido” nos seus estoques ou nos seus equipamentos. Se eles não estão em movimento, pode haver aí uma perda financeira. Ou seja, se você comprou produtos e não conseguiu vendê-los, parte do seu capital de giro está parada.
O mesmo vale para máquinas e equipamentos. Se eles não são usados, tornam-se capital ocioso, que se deprecia ao longo do tempo. Vale checar a real necessidade desses itens e, se for o caso, avaliar se não é hora de vendê-los, reforçando suas reservas.
Como formar seu capital de giro (dicas práticas e passo a passo)
O certo é que não existe uma fórmula única para compor o capital de giro mais adequado para os seus negócios. Daí você pode perguntar: qual deve ser o valor do meu capital de giro? Tudo depende do valor dos compromissos de sua empresa, como folha de pagamento, fornecedores de insumos e despesas fixas.
Veja, a seguir, um roteiro com questões fundamentais que você deve avaliar para manter seu empreendimento sustentável.
Primeiro passo: controlar as finanças, item por item
Conhecer a real situação financeira de sua empresa é o primeiro passo para tomar melhores decisões e formar o capital de giro que suporte o dia a dia dos negócios e os inevitáveis imprevistos. Esse controle exige atenção a pontos como:
1. Formalização da empresa
Quem tem um CNPJ se relaciona melhor com o mercado, tem acesso ao sistema bancário e a produtos financeiros que podem ser benéficos para o seu empreendimento, como uma máquina de cartão ou a possibilidade de emitir boletos. Há compradores que só fecham negócio com emissão de nota fiscal, fazendo o pagamento em conta de pessoa jurídica.
2. Separação das contas
Um princípio fundamental da gestão de um negócio é separar as contas da casa e as da empresa. Não use dinheiro da empresa para pagar suas contas pessoais e, do mesmo modo, não use sua conta corrente ou cartão de crédito para quitar compromissos da empresa. Quando pessoa física e jurídica se confundem, fica mais difícil controlar custos e despesas de ambas.
3. Controle financeiro
Registre tudo o que entra e sai da empresa, identifique todas as fontes de receitas e despesas. Atenção para as contas básicas como água, luz, telefone, aluguel, fornecedores e funcionários. Faça uma previsão, também, dos seus recebimentos.
4. Precificação
O preço é outro fator com reflexo direto no capital de giro. Ao precificar seu produto, lembre-se de levar em conta os custos de sua empresa – incluindo, por exemplo, os juros de eventuais empréstimos – e as condições que você oferece para quem compra à vista ou parcelado. O índice de inadimplência também deve fazer parte desse cálculo.
5. Prazos
Analise os prazos de entrada de receita e do vencimento das contas a pagar, avaliando se é melhor partir para a antecipação dos seus recebimentos. Você costuma adiantar pagamentos aos seus funcionários? Lembre-se de que, sem capital de giro, mexer no caixa antes da hora pode colocar sua empresa em risco.
7. Estoques e ativos
Controle de perto o seu estoque e seus equipamentos, quais os itens que o compõe e o tempo em que estão parados. Calcule quanto isso representa em dinheiro e o que pode ser feito para evitar que fique ocioso.
9. Vendas
No acompanhamento de suas vendas, fique de olho na margem de lucro, que pode incrementar ou corroer seu capital de giro. Avalie se o seu negócio é rentável, se é bem aceito pelo mercado.
Segundo passo: avaliar seu mercado
Feitas as contas dentro de casa, outro passo importante para chegar ao custo do capital de giro é conhecer a natureza e funcionamento da sua área de atuação. Leve em consideração:
- Como o mercado opera: acompanhe como trabalham seus concorrentes, quais as condições de pagamento que eles oferecem, quanto estão cobrando pelos seus produtos. Assim, dá para avaliar se é melhor, por exemplo, antecipar o recebimento de suas vendas.
- Fornecedores: o bom relacionamento com seus fornecedores é fundamental para obter descontos nas compras à vista ou negociar prazos e juros. A fidelidade pode gerar benefícios especiais nas condições de pagamento.
Capital de giro adicional
Até agora, tudo foi pensado para compor o chamado capital de giro fixo, aqueles recursos necessários para pagar os compromissos de seu empreendimento. Às vezes, porém, aparece uma grande oportunidade de negócio ou possibilidade de expansão. É hora de recorrer ao capital de giro adicional, que normalmente envolve a busca de recursos no mercado, mais comumente em forma de empréstimo em bancos.
Mas atenção: o custo do capital de giro adicional precisa estar embutido no preço final do produto, considerando o valor emprestado e os juros pagos no financiamento.
O capital de giro adicional deve, porém, ser encarado como uma exceção à regra. “Quando a empresa busca recursos no mercado todo mês para honrar seus compromissos, é um sinal de problema”, alerta Alessandro Chaves.
Antes de ir atrás de capital de giro adicional, a empresa tem de estar saudável, com uma boa gestão e controle das finanças, certa do retorno que esses recursos trarão para os negócios.
Na prática: o capital de giro na vida de uma empreendedora mineira
A história de Adriana Pimenta é um exemplo da importância do capital de giro na vida de quem tem um negócio próprio. Formada em designer gráfico, ela escolheu outras áreas para atuar. Até 2013, trabalhou em uma empresa de tecnologia como analista de negócios de homologação de sistemas.
Em 2010, passou também a vender semijoias e acabou criando uma marca própria, a Adriana Pimenta Acessórios, construída com o apoio de consultoria que ela recebeu do Sebrae-MG. A chegada da pandemia deu um baque nos negócios. “Não conseguia vender uma agulha”. Com uma reserva financeira no caixa da empresa, conseguiu ter tranquilidade para se planejar.
Voltou a se recolocar na área de TI e decidiu manter sua marca própria aquecida, mesmo com o esfriamento das vendas. O pulo do gato foi o relacionamento de anos com os fornecedores das peças, que toparam trabalhar por consignação, recebendo seus pagamentos à medida que as vendas eram, aos poucos, retomadas.
Com isso, deixou de imobilizar dinheiro em estoque e conseguiu continuar atendendo à clientela enquanto mantém o trabalho em TI. Tudo graças a uma boa gestão de sua empresa, que inclui a separação das contas pessoais e do negócio, e à consciência de que estoque parado é dinheiro preso. “Mesmo com todas as dificuldades que vivemos na pandemia, não precisei mexer no capital de giro da empresa”, conta Adriana.