O Dia Internacional da Mulher é um convite à reflexão sobre a equidade de gênero e, também, uma data para celebrar as conquistas obtidas ao longo dos anos. Na batalha por mais espaço no mercado de trabalho e na sociedade, o empreendedorismo tem sido um forte aliado das brasileiras.
São mais de 24 milhões de mulheres empreendedoras no país, segundo a pesquisa Global Entrepreneurship Monitor, coordenada no Brasil pelo Sebrae e pelo Instituto Brasileiro de Qualidade e Produtividade. Elas respondem por cerca de 50% dos novos empreendimentos criados a cada ano no país. Superando muitas adversidades, encontram motivação para conquistar seu espaço e realizar seus sonhos.
Conheça e inspire-se nas histórias de algumas dessas mulheres. Elas apostaram suas fichas no que acreditam e têm feito a diferença em suas comunidades e no mundo.
Cristal Muniz, influenciadora digital de uma vida sem lixo
Cristal é formada em design gráfico e vive uma vida sem lixo. No final de 2014 descobriu o movimento Lixo Zero, que surgiu em vários países, e resolveu apostar em um projeto pessoal para aprender a parar de produzir lixo. Criou o blog Uma Vida sem lixo e passou a compartilhar os desafios de viver um estilo de vida mais sustentável com seus leitores.
A partir de 2018, decidiu se dedicar integralmente ao blog. Com sua parceira comercial e amiga Fernanda Dreier, lançou o livro Uma Vida Sem Lixo, o primeiro sobre o tema no Brasil. No ano seguinte, a obra foi uma das finalistas do Prêmio Jabuti, maior premiação literária do país, na categoria Economia Criativa.
Com 57 mil seguidores no perfil pessoal do Instagram e mais de 246 mil seguidores no perfil de seu projeto, ela vive exclusivamente da marca Uma Vida Sem Lixo e segue dando dicas e soluções que podem ser colocadas em prática no dia a dia. “Seguir uma carreira de propósito e ligada a uma causa, além de ser muito legal, é importante. Marcas e negócios têm o poder de educar”, afirma. “Quanto mais gente falando, agindo, mudando, melhor! E as marcas vão precisar de ajuda para adequar o que fazem para se adaptar às novas realidades de consumo que vão surgir.”
Ana Beatriz, Maria Cláudia e Meirele, da Looping Kids
Com a ideia de ter um negócio de propósito e ligado à maternidade, Maria Claudia Mestriner, Ana Beatriz Vasconcellos e Meiriele Duarte Dos Santos decidiram criar o aplicativo Looping Kids e uma rede de economia circular. A base do negócio é a troca de roupas, calçados, livros, brinquedos e utensílios que as crianças não usam mais, utilizando uma moeda lúdica, própria da plataforma.
Foi a maneira que elas encontraram para envolver as crianças no processo e, ao mesmo tempo, conectar mães interessadas em trocar peças que acabam se perdendo muito rapidamente à medida que as crianças crescem. E, assim, fazer a economia girar de forma sustentável e mais humana.
As três trabalhavam com comunicação e marketing e tinham o desejo de iniciar um negócio próprio. Unidas por essa vontade e ainda sem ideia de qual seria esse negócio, foram procurar formações para empreendedoras. Nessa caminhada passaram pela B2 Mamy, empresa focada em empreendedorismo materno, que capacita e conecta mães ao ecossistema de inovação e tecnologia. Moldado o negócio, em 2020 começaram a fase teste do aplicativo, que tem como principal meio de troca o Instagram @loopingkids_trocas. Hoje, em média, 25% dos itens postados são vendidos.
As três sócias fazem planos para o futuro: “Nossa meta principal é ser uma referência na economia circular como comportamento. Temos feito muitas conversas com especialistas e, de modo geral, todos estão pautados em rever processos de design e produção, mas as pessoas não sabem que isso também está na mão delas e pode começar na infância”, comenta Ana Beatriz.
Alcione Albanesi, fundadora da ONG Amigos do Bem
Idealizadora e presidente da ONG Amigos do Bem, Alcione Albanesi começou a trabalhar como modelo aos 14 anos. Aos 17 já era dona de sua própria confecção de roupas e tinha 80 funcionários. Aos 25, vendeu a confecção e abriu uma pequena loja de materiais elétricos, um mercado até então dominado por homens.
Pouco tempo depois, em viagem aos Estados Unidos, viu que o preço das lâmpadas fluorescentes era infinitamente menor do que no Brasil. Descobriu que elas eram fabricadas na China e resolveu ir até lá conhecer melhor o produto. Refez a viagem algumas dezenas de vezes e, nesse processo, construiu uma das maiores empresas de lâmpadas do Brasil, a FLC.
Alcione fundou a companhia em 1992 e, já no ano seguinte, fez sua primeira viagem ao sertão nordestino, onde começou o projeto dos Amigos do Bem. “Conciliei por anos o trabalho à frente de uma empresa líder de mercado com o meu projeto social. Em 2014, tomei a decisão mais importante da minha vida: vendi a minha empresa para me dedicar ainda mais aos Amigos do Bem”, conta.
Desde então, Alcione viaja todos os meses à região, onde passa doze dias percorrendo povoados extremamente carentes para acompanhar de perto as famílias atendidas e as atividades da ONG, atualmente, um dos cinco maiores projetos sociais do Brasil, com mais de 10,3 mil voluntários, serve mais de 2,4 milhões de refeições por mês, beneficia 6 mil pessoas com renda mensal, presta 20 mil atendimentos odontológicos por ano e já distribuiu quase 1 milhão de óculos. A ONG tem quase meio milhão de seguidores no Instagram.
“É uma grande emoção ver a transformação que estamos promovendo na vida de tantas pessoas. Fazer o bem é a sensação de dever cumprido perante a vida.”
A experiência como empreendedora, segundo ela, tem sido fundamental para gerenciar as doações, parcerias e os diversos e complexos projetos e ações realizadas no sertão. “Trabalhamos muito para que a fome e a miséria sejam lembradas apenas como fatos históricos do nosso país. Com eficiência e amor, temos alcançado resultados de transformação."
Claudia Abdul Ahad Securato, advogada
Filha de empresários de Campo Grande, no Mato Grosso do Sul, Claudia Abdul Ahad Securato decidiu logo cedo que não iria seguir o caminho a que estava predestinada: trabalhar nos negócios da família. Aos 17 anos, entrou na universidade e cursou, simultaneamente, Direito e Jornalismo. Formada, mudou-se com a cara e a coragem para São Paulo para tentar a vida como jornalista.
Exerceu algum tempo a profissão, juntou algum dinheiro e, então, decidiu prestar o exame da Ordem dos Advogados do Brasil (OAB), conquistando a credencial para atuar como advogada. Conseguiu seu primeiro emprego em um pequeno escritório de direito trabalhista. Começou fazendo trabalho administrativo e foi, aos poucos, cavando seu espaço na profissão.
Em 2007, conseguiu uma sócia e resolveu montar, com recursos próprios, um pequeno escritório na região central. Logo no início, a sócia arrumou um emprego e abandonou a empreitada. Sozinha, ela seguiu adiante. “Coloquei a boca no trombone. Acionei meus contatos e me ofereci para prestar serviços para outros escritórios”, conta.
Começava ali a carreira que a levaria a construir um escritório de porte, com atuação em várias regiões do Brasil. Tocou o negócio sozinha até o final do ano passado, quando se associou a seu irmão na Oliveira, Vale, Securato & Abdul Ahad Advogados, que hoje conta com 60 funcionários, 40 advogados e uma carteira de 15 mil processos ativos nas áreas do direito trabalhista, civil, societário, ambiental, tributário, do consumidor e outras.
Nesse meio de caminho, Claudia se casou, teve um filho e, logo a seguir, vieram os gêmeos, que hoje têm quatro anos. “Foi um período muito difícil. Tinha três filhos pequenos e um negócio para tocar. Pela primeira vez, pensei em desistir de tudo. Apanhei, bastante, mas foi tudo um aprendizado para me tornar uma profissional e uma pessoa melhor.”
Elizandra Cerqueira, líder de negócio social em Paraisópolis
O empreendedorismo entrou na vida de Elizandra Cerqueira como uma maneira de promover o empoderamento de mulheres da comunidade de Paraisópolis, na região Sul de São Paulo, onde ela vive há trinta anos. Nascida na Bahia, ela foi morar na comunidade quando tinha um ano de idade. Cresceu ali, observando e vivenciando na pele as dificuldades enfrentadas pelas mulheres da periferia.
E foi ali que ela ajudou a fundar em 2006, a Associação das Mulheres de Paraisópolis, junto com uma dezena de mulheres de diferentes perfis, que sofriam e viviam os mesmos obstáculos. “Unimos forças para mudar a nossa realidade”. Atualmente, Elizandra é presidente da entidade, que realiza uma série de iniciativas na área de empreendedorismo, inclusão social e geração de renda.
Em 2007, a associação criou o curso de culinária Mãos de Maria, que já capacitou mais de 3,5 mil mulheres de Paraisópolis para se tornarem donas de seus próprios negócios no ramo de alimentação. Nos cursos, além das aulas de doces e salgados, elas aprendem sobre educação financeira, como acessar o microcrédito, se formalizar como microempreendedoras individuais e usar as redes sociais para vender seus produtos, entre outros temas.
Em setembro de 2017, Elizandra iniciou um negócio social, o Bistrô & Café Mãos de Maria, que tem três frentes de atuação: buffet, restaurante e serviço de entrega de marmitas. Antes da pandemia, a feijoada servida no bistrô, instalado na laje da Associação, atraía mais de 200 pessoas da comunidade, visitantes e turistas estrangeiros a cada sábado. Na pandemia, foram distribuídas mais de 1 milhão de marmitas à população de baixa renda e gerados 200 empregos.
Gislaine Gallette, da Galette Chocolates
Engenheira eletricista com pós-graduação e MBA em Marketing, Gislaine Gallete construiu uma sólida carreira no mercado financeiro, setor em que trabalhou por quase quinze anos. Era responsável pela Ouvidoria de um grande banco, reportando-se diretamente à presidência. Até que, perto de completar os 40 anos, começou um processo de reflexões que a levaria a dar um novo significado ao seu cotidiano. “Chega um momento em que você se pergunta o que te faz feliz, qual é o seu propósito e o que você quer fazer na vida”, diz.
Esse movimento a levou a dar uma reviravolta na carreira e investir em um sonho antigo: trabalhar com chocolates. Apaixonada pelo produto, ela dedicou seu trabalho de conclusão de curso no MBA, em 2000, ao tema. Em 2011, pediu demissão do banco e foi para a Bélgica fazer uma especialização na área.
No final daquele ano, montou a Gallete Chocolates, com duas certezas. “A primeira é que eu queria montar uma empresa de chocolates e a segunda é que ela seria uma empresa sustentável”. Um problema frequente na cadeia produtiva do chocolate é a presença de trabalho infantil e análogo ao escravo na extração e processamento do cacau. Para garantir que a matéria-prima usada fosse livre de tais práticas, a solução foi comprar chocolate certificado pela Fairtrade (Federação Internacional de Comércio Alternativo), que promove o comércio justo. O custo, porém, chegava a ser 30% superior ao do chocolate belga convencional.
Há três anos, a Gallete começou a fazer seu próprio chocolate, a partir de acordos firmados com produtores baianos, que atualmente fornecem 80% da matéria-prima usada em sua produção. A empresa chega a vender quatro toneladas de chocolates na Páscoa e, no restante do ano, 500 quilos ao mês, em média. Seus bombons e barras já receberam vários prêmios de qualidade no Brasil e em outros países, como Inglaterra e Estados Unidos.
Gislaine tem dois filhos e ser dona do próprio negócio representou para ela ficar mais próxima da família. “O empreendedor tem menos tempo de descanso, porém mais flexibilidade. Tenho conseguido acompanhar de perto a vida dos meus filhos no dia a dia. Em compensação à noite estou lá cuidando do financeiro da empresa.”
Laila Kristina Lopes Mendes, dona da Plenno Fit
Antes de criar a Plenno Fit, uma empresa de alimentação saudável em Porteirinha, no Norte de Minas Gerais, Laila fez um bom estudo para entender as demandas da região e como as novas tendências de consumo poderiam influenciar o mercado local.
“Estavam surgindo novas academias, o ciclismo e outros esportes estavam em crescimento na cidade, mas não havia uma opção de alimentação fitness pós-treino para esse público”, conta. Começou, então, a planejar a criação do negócio. O primeiro passo foi convencer a família de que esta seria uma boa opção. “Meus pais achavam que era uma loucura trocar um emprego fixo por algo incerto”.
Confiante, pediu demissão do cargo de assistente financeira na empresa familiar onde trabalhava e usou o dinheiro da indenização para montar a loja, que serve refeições e fornece marmitas e lanches fitness por meio de planos de assinaturas mensais. Para completar o que faltava para o investimento, chamou a irmã para ser sua sócia. A Plenno Fit foi inaugurada em 2019 e, aos poucos, foi ficando conhecida e aumentando a clientela. O perfil da loja no Instagram soma mais de 2,1 mil seguidores.
Laila nasceu na área rural, em uma família simples, e se mudou para a cidade aos 17 anos para trabalhar e estudar. Formou-se em Administração de Empresas, fez especialização em gestão pública e, também, em gestão financeira e controladoria pela FGV de Montes Claros (MG).
“Desde criança, fazia bolos e doces para vender na escola e guardava o dinheiro. Sempre soube que queria empreender”, diz, mas foi durante a faculdade que este projeto se fortaleceu. Não foi fácil, mas como todo bom mineiro, Laila persistiu. “Se desanimar diante das dificuldades, as coisas não dão certo”. Sua loja é a única que fornece alimentação fitness na cidade e a demanda não para de crescer. Agora, ela já pensa em ampliar o negócio, passando a atender as cidades vizinhas.