Uma inflação para cada bolso

Entenda a inflação, como ela afeta a vida dos brasileiros de diferentes faixas de renda e descubra como driblar o aumento de preços e garantir seu poder de compra

Uma inflação para cada bolso e seus impactos para os brasileiros mais pobres
19 de fevereiro de 2021 5 min. leitura

Se você costuma fazer compras ou contratar serviços, certamente já sentiu no bolso os efeitos da inflação. Mas, afinal, o que é inflação, como ela é medida e de que maneira ela afeta a vida dos cidadãos que têm diferentes tipos de renda e hábitos de consumo? É o que você confere a seguir.

O que é inflação

De modo simplificado, a inflação é a alta contínua e persistente nos preços de produtos e serviços. 

Um aumento pontual no preço do arroz, por exemplo, não caracteriza inflação. Isso porque ele pode ter sido causado uma queda na produção da safra ou pelo aumento da exportação do produto, reduzindo a quantidade disponível para os brasileiros. 

Quanto menor a oferta e maior a procura, mais alto o preço do produto. Entretanto, se a alta no preço do arroz persistir por um período mais longo e não voltar aos patamares anteriores, aí sim podemos dizer que houve inflação.

Como a inflação é medida

São usados vários índices para medir a inflação, sendo que o IPCA (Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo) é adotado como índice oficial da inflação no Brasil pelo governo federal. Ele serve de referência para as metas de inflação e alterações nas taxas de juros.

O IPCA mede a variação do custo de vida das famílias com rendimento mensal de 1 a 40 salários mínimos mensais. Ele mostra se os preços aumentaram ou diminuíram de um mês para outro.

O índice é apurado em uma pesquisa feita pelo IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística). Mensalmente, o IBGE verifica os preços à vista ao consumidor em estabelecimentos comerciais, prestadores de serviços, domicílios e concessionárias de serviços públicos.

Como a inflação mexe no seu bolso 

Nada melhor do que um exemplo para entender melhor como isso funciona na prática. De acordo com o IBGE, o IPCA de 2020 fechou em 4,52%, isso significa que, em média, você precisaria de R$ 104,52 em dezembro para comprar os mesmos produtos e serviços que teria comprado com R$ 100 em janeiro do mesmo ano. 

Ou seja, a inflação corrói o nosso poder de compra ano após ano. Um bom exemplo é o preço do pãozinho. Em 2000, ele custava R$ 0,05 e hoje pode chegar a R$ 1,00 por unidade, dependendo da região. 

De acordo com o DIEESE (Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos), o salário-mínimo ideal para manter o poder de compra do cidadão diante da inflação acumulada sobre a cesta básica ao longo dos anos deveria ser de R$ 5.304,90, em vez dos atuais R$ 1.045,00.

Impactos da inflação sobre cada tipo de consumidor

Apesar de existir uma taxa média de inflação, cada família é afetada de um jeito diferente por ela. Isso acontece porque os preços dos produtos e serviços aumentam de forma diferente, uns mais e outros menos. Consequentemente, quem depende dos produtos com maior aumento, sofre o maior impacto. Veja alguns exemplos.

Quem paga aluguel, escola e plano de saúde

Enquanto os preços ao consumidor variaram em média 4,53% em 2020, o IGP-M (Índice Geral de Preços – Mercado), outro indicador muito usado como referência para medir variações em preços de produtos vendidos no atacado, bens e serviços ao consumidor no varejo e custos relacionados à construção civil, acumulou uma alta de 23,14% no ano. 

Como esse índice afeta diretamente os contratos de aluguéis, os inquilinos sentiram esse forte impacto. Outros serviços que utilizam o IGP-M como referência são as mensalidades em escolas e universidades, os planos de saúde e a energia elétrica, que também aumentaram bastante por conta da evolução desse índice. Com o IGPM em mais de 20%, como fica o valor do aluguel? 

Quem compra produtos ou insumos importados

A variação do dólar é outro fator que impacta a inflação de alguns produtos. Em 2020, o dólar fechou o ano em R$ 5,18, com uma alta acumulada de 29,33%. Ao contrário do que muitos podem pensar, esse aumento não afeta somente as pessoas que compram dólares para viajar ao exterior. 

Como muitos produtos que consumimos no dia a dia são importados, esse aumento afeta, por exemplo, os preços de eletrodomésticos e eletrônicos. E mesmo que você não precise trocar sua TV ou computador nesse momento, saiba que a alta do dólar também afeta itens que aparentemente são 100% nacionais e podem acabar custando mais, pois, às vezes, são usadas máquinas importadas para produzi-los ou embalá-los. 

É o caso, por exemplo, da maioria dos medicamentos que dependem de insumos importados e do pãozinho, já que metade da farinha consumida no Brasil vem de outros países. 

E os produtos nacionais que são exportados também acabam custando mais caro no país, pois os produtores preferem vender para o exterior e receber em dólar do que abastecer o mercado interno. É o caso do café e da carne, por exemplo. 

Quem ganha até 3 salários-mínimos

De acordo com o Banco Central, as famílias com renda entre 1 e 3 salários-mínimos foram as mais impactadas pela inflação acumulada em 2020, especialmente devido à alta de 10,27% nos preços dos alimentos, que correspondem, em média a cerca de 20% dos gastos dessas famílias. 

Traduzindo em miúdos, uma família com renda de R$ 1.045,00 começa o ano gastando cerca de R$ 210 no supermercado e, ao final do ano, para comprar os mesmos itens, precisa desembolsar R$ 230 aproximadamente. Essa diferença de R$ 20 pesa muito mais para quem recebe salários menores do que nas famílias de alta renda.

Essas são algumas das razões que nos ajudam a entender por que, embora a inflação afete a todos, a percepção de cada indivíduo ou família sobre seus impactos pode variar significativamente. Será que podemos fazer algo a respeito? Veja algumas dicas para driblar alguns desses efeitos e manter seu poder de compra.

6 dicas para driblar a inflação

1. Espere o melhor momento para comprar

Em vez de trocar o smartphone ou a geladeira agora, que tal esperar o dólar baixar um pouco mais? Não existem garantias de que a moeda americana irá retroceder, mas se puder esperar, vale a pena acompanhar as flutuações de preços até que o produto desejado se encaixe no seu orçamento. 

Fuja das épocas com maior demanda, como datas comemorativas (Dia das Mães, Natal e outras) e procure aproveitar os períodos em que os consumidores estão com as contas mais apertadas, em que as lojas criam grandes liquidações. Paciência é a chave para as melhores oportunidades.

2. Dê preferência a consertar em vez de comprar

Talvez um pequeno reparo seja suficiente para garantir que um equipamento quebrado funcione por algum tempo até que os preços se acalmem. Outra vantagem dessa prática é incentivar o consumo consciente, evitar o desperdício e promover o desenvolvimento econômico de pequenos prestadores de serviços de assistência técnica.

3. Procure substituições

O preço da carne está nas alturas? Substitua pelo frango. O arroz não cabe no orçamento? Substitua pela batata, inhame ou macarrão. O importante é manter uma alimentação balanceada seguindo as proporções de cada nutriente recomendadas pela Organização Mundial da Saúde. Leia também: Carne no prato todo dia?

O Guia Como ter uma alimentação saudável publicado pelo Ministério da Saúde pode inspirar você a encontrar substituições que mantenham o valor nutricional da sua alimentação sem pesar no seu bolso.

4. Pesquise e compare preços

A melhor forma de combater a inflação é incentivar a livre concorrência e não sair comprando a primeira opção que encontrar pela frente. Aproveite a facilidade da internet para pesquisar preços, comparar promoções, analisar as opções e tomar a decisão mais adequada para o seu orçamento. Invista tempo nessa pesquisa e você verá os efeitos em seu bolso. 

5. Evite compras por impulso

Se a inflação está nas alturas, vale a pena redobrar a atenção e reforçar as medidas que ajudam você a controlar impulsos consumistas, como evitar ir ao supermercado com fome, levar sempre uma lista de compras, colocar limite nos pedidos das crianças, usar a calculadora durante as compras para evitar a confusão das contas mentais e planejar muito bem o uso do cartão de crédito. Quando o impulso domina as finanças

6. Negocie contratos ou mude o prestador de serviços

Os proprietários de imóveis querem manter a renda provinda dos aluguéis, portanto eles geralmente estão abertos para negociação. Assim também ocorre com mensalidades escolares, empresas de comunicação e bancos, que costumam ter opções para manter seus clientes ativos. 

Caso a negociação não seja possível, esteja preparado para mudar de casa, rever o plano de saúde, a escola dos filhos e demais contratos. Em época de inflação alta, a flexibilidade para adaptar-se aos cenários mais desafiadores é o segredo para aliviar o bolso e manter a qualidade de vida.

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