Golpes aplicados pelo WhatsApp, boleto falso, compra indevida no cartão, compra de produtos de empresas que não existem, investimentos que prometem lucros exorbitantes em pouco tempo. A cada dia surgem novas maneiras de tentar lesar o consumidor. Segundo dados do Radar Febraban de 2022, 26% das pessoas já foram vítimas de golpes financeiros ou tentativas de fraudes, especialmente durante a pandemia, em que o uso dos celulares e as compras pela internet se popularizaram.
Os truques usados pelos golpistas se renovam a cada dia, assim como os recursos tecnológicos usados para enganar e fazer com que as pessoas caiam inclusive de golpes bem manjados. Mas essas não são a única explicação. Muitas vezes, entram em cena os chamados vieses cognitivos, ou seja, os atalhos mentais que construímos ao longo da vida e que podem nos levar a tomar decisões equivocadas, como a de clicar em um link mesmo sabendo que ele pode ser falso.
Golpes financeiros e engenharia social
Todo golpe financeiro tem uma boa história por trás, uma narrativa criada com o intuito de seduzir e enganar. Essa espécie de manipulação psicológica que induz ao erro tem nome: engenharia social. Ela costuma ser usada por criminosos virtuais atentos às vulnerabilidades de suas possíveis vítimas, que de alguma forma se identificam com a história que escutam.
Existem vários métodos de usar a engenharia social. Atualmente, o Phishing (pescaria digital) é um dos mais comuns. Nele, os golpistas tentam se passar por uma instituição confiável para fazer com que pessoas compartilhem informações confidenciais, como senhas ou número do cartão. As narrativas são variadas e podem ser feitas por telefone, WhatsApp, e-mail, redes sociais e sites que imitam uma comunicação oficial.
Além do visual de sites falsos, muitas vezes idênticos aos verdadeiros, a chamada é sempre muito tentadora e pensada para fisgar o consumidor rapidamente. Promessa de ganhos extraordinários, bons negócios, trabalho de meio período com bons salários, oportunidades únicas e imperdíveis e o senso de urgência são os truques mais usados pelos fraudadores para ativar respostas psicológicas dos consumidores, como o medo de perder a grande chance da vida.
Iludidas pela chance de ganhar algo e pelo medo de perder, as pessoas se arriscam sem pensar e caem na história contada pelo golpista. Esse risco é ainda maior entre o público mais vulnerável, como os idosos, e para pessoas que têm dificuldades com a tecnologia ou estão endividadas, inadimplentes e superendividadas, por exemplo.
Vieses cognitivos: entenda o que são e como se relacionam com golpes financeiros
Como vimos, os golpes financeiros são todos construídos em cima de manipulações psicológicas, aproveitando-se de que, em um momento de tomada de decisão, quem comanda é o lado emocional. Mas por que eles são tão efetivos? Isso pode ser explicado através dos padrões de comportamento humano ou dos vieses cognitivos, estudados a fundo pelas finanças comportamentais.
Durante um único dia, somos obrigados a tomar várias decisões. Desde coisas simples, como a roupa que vamos vestir ou o que vamos comer no jantar, até as mais complexas, como onde investir o dinheiro ou mudar ou não de cidade. Para dar conta de lidar com todas essas questões, o cérebro humano cria vários atalhos que simplificam a tomada de decisão. Se, por um lado, esses atalhos permitem respostas mais rápidas e que gastam menos energia, por outro eles podem nos levar a erros de percepção, avaliação e julgamento.
E é em cima desses erros que surgem os chamados vieses cognitivos. Funciona assim: diante de determinada situação, eu possivelmente vou escolher um caminho mais conhecido ou mais atrativo, sem ponderar todas as questões envolvidas e, muitas vezes, sem ver o óbvio. São eles que muitas vezes fazem com que acreditemos em promessas milagrosas, alertas falsos ou até fake news.
Muito estudados por especialistas em investimentos, os vieses cognitivos se aplicam a diversas decisões financeiras do dia a dia e são fortemente aplicados na criação de golpes e fraudes efetivos, que exploram essas fraquezas mentais que todos temos.
Conheça, a seguir, alguns dos principais vieses cognitivos e entenda como eles são usados por golpistas para ludibriar os mais desavisados.
Excesso de autoconfiança
Ter um pouco de confiança é sempre bom. Mas existem pessoas que acabam superestimando a própria capacidade de julgar ou decidir, acreditando sempre que suas escolhas, crenças e conhecimentos são corretos e suficientes para todo tipo de situação. Nesse tipo de viés, é muito comum que a pessoa não vá atrás de mais informações, o que pode levar a um descuido, como se cadastrar em um site que faz promessas milagrosas de ganhos em um determinado investimento, caindo em uma pirâmide financeira, por exemplo.
Neste vídeo, você entende a importância de não confiar cegamente em tudo o que lê:
Viés da ancoragem
O viés da ancoragem se manifesta quando alguém acredita demais na primeira informação que recebe, chamada de âncora, para tomar uma decisão. Imagine que um e-mail traz em seu título palavras como “oferta imperdível”. Essa informação fica guardada em sua mente e será referência para a tomada de decisão, mesmo que muitas vezes não seja vantajosa.
Para evitar isso, preste sempre atenção se os valores ou palavras tomadas como referência fazem mesmo sentido e estão de acordo com a realidade. Pesquise, se mantenha atualizado sobre o assunto e questione suas premissas, nunca tomando uma decisão por impulso.
Veja, neste vídeo, porque você deve desconfiar das informações que recebe antes de compartilhar dados pessoais:
Aversão à perda
A dor de perder algo de valor pode ser muito mais forte do que o prazer de ganhar. Esse viés é regido pelo medo de perder supostas boas oportunidades, o que aumenta as chances de cair nas armadilhas das oportunidades imperdíveis. Muitas vezes, a pessoa se arrisca, mesmo quando o que é prometido parece milagroso demais, simplesmente para vivenciar o sentimento de que está perdendo uma ótima chance.
Nesse caso, é melhor dar um passo atrás e avaliar bem o que é oferecido. Não aceite nada por pressão, reserve um tempo para decidir e pesquisar se as condições são verdadeiras. Esse é o melhor caminho para evitar cair em um golpe.
Viés de confirmação
Também chamado de coleta seletiva de informação, esse viés direciona a busca de informações com um único objetivo: reafirmar aquilo em que acreditamos, ignorando o que contradiz nossas crenças. Diante da decisão de comprar uma ótima TV com desconto de 60%, por exemplo, em vez de buscar referências sobre o vendedor, tendemos a procurar depoimentos sobre as qualidades do produto. Perdemos, assim, a amplitude da visão dos riscos aos quais estamos expostos.
Viés do Presente
Esse viés é regido pelo agora, já. É o que leva muitas pessoas a se arriscarem para ter ganhos imediatos, sem pensar nas consequências futuras. O problema é que toda essa urgência faz com que as decisões sejam tomadas de forma impulsiva, sendo facilmente seduzidas por propostas que prometem preços baixíssimos ou lucros rápidos.
Como evitar cair em golpes e fraudes financeiras
Agora que você já conhece as principais armadilhas mentais e os vieses cognitivos que podem nos levar a decisões equivocadas, é possível pensar duas vezes e ir com calma sempre que estiver diante de uma decisão financeira. Fique atento e procure conhecer os novos golpes financeiros que surgem na página Antifraudes Febraban, criada pela Federação Brasileira de Bancos para orientar o consumidor sobre o tema.
Desconfie sempre: se algo parece bom demais para ser verdade, muito provavelmente é uma mentira. Nunca passe senhas ou informações confidenciais, mesmo para pessoas que supostamente trabalham em uma instituição reconhecida, e fique alerta se houver pressão para que as transações sejam feitas de forma rápida ou urgente.
Pare e pense! Existem diversos sinais de alerta de que você pode estar sendo vítima de um golpe. Nesse vídeo, te mostramos alguns:
Acabou caindo em um golpe? Não tenha vergonha de denunciar! Faça um boletim de ocorrência e alerte amigos, para que eles não se tornem futuras vítimas.
E para estar sempre por dentro do tema, acompanhe os conteúdos do portal Meu Bolso em Dia e da Plataforma Meu Bolso em Dia, que trazem informações completas e dicas imperdíveis para que você tenha segurança em sua vida financeira.