Afinal, por que o custo de vida das mulheres é mais alto do que o dos homens?

Saiba identificar se você está pagando mais caro por um produto classificado como “feminino" (a chamada pink tax, ou taxa rosa) e conheça os benefícios de ser mulher na hora de contratar serviços financeiros

 o que é pink  tax, taxa rosa aplicada em produtos femininos
7 de março de 2024 6 min. leitura

Mulheres têm um grande protagonismo no mercado consumidor e nas decisões de compra da família. Segundo levantamento feito pela consultoria Nielsen, elas são responsáveis pelas compras em 96% dos lares brasileiros e acompanham de perto o orçamento doméstico.

Apesar disso, acabam sendo penalizadas por produtos “maquiados” que custam mais caro simplesmente porque são destinados ao público feminino. É o caso das lâminas de barbear na cor rosa, por exemplo, que chegam a custar o dobro das mesmas lâminas em embalagens para os homens. Essa prática, chamada de "pink tax" (taxa rosa, em português), impacta diretamente o bolso da consumidora e pode elevar e muito as contas no final do mês.

Uma pesquisa feita pela Escola Superior de Propaganda e Marketing (ESPM) mostrou que elas pagam, em média, 12,3% a mais por produtos idênticos àqueles direcionados ao público masculino. Isso não acontece apenas no Brasil. Outros estudos, como o feito em Nova Iorque pelo Departamento do Consumidor e um levantamento realizado pelo jornal britânico The Times, revelaram uma grande discrepância em preços de produtos similares embalados para homens e mulheres.

No Brasil, por outro lado, quando o assunto é a compra de produtos e serviços financeiros, a mulher é beneficiada. É o que você confere abaixo, junto com algumas dicas para driblar as armadilhas na hora de fazer compras e, também, a quem recorrer caso se sinta lesada como consumidora.

O que é pink tax, a taxa rosa?

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A expressão pink tax é usada para quando pagamos mais caro por produtos destinados à mulheres e meninas. O termo ganhou força e passou a ser mais usado a partir de 2014, em uma campanha francesa liderada por Georgette Sand, que postava em seu blog flagrantes de produtos com usos idênticos, mas que eram mais caros na versão tida como feminina. 

O debate que começou na França rapidamente se espalhou para outros países e ganhou ainda mais destaque quando o Departamento dos Consumidores da cidade de Nova York divulgou um estudo em 2015, mostrando que os produtos femininos custavam, em média, 7% a mais do que os produtos masculinos similares.

Só os produtos rosa são mais caros?

A pesquisa da ESPM, feita em 2017, mostra que as mulheres pagam, em média, 12,3% a mais por produtos idênticos aos direcionados ao público masculino, simplesmente por serem na cor rosa. A disparidade percentual varia de acordo com as categorias de produtos, atingindo 23% em vestuário bebê/infantil para meninas, 27% em serviços como corte de cabelo e 26% nas versões “femininas” de brinquedos.

Mesmo que a expressão esteja associada à cor rosa, a disparidade de preços por gênero não se limita exclusivamente a produtos nesse tom, abrangendo também todo o setor de serviços e itens destinados ao público feminino. É o que acontece em salões de beleza que oferecem cortes de cabelo mais caros para mulheres, por exemplo. Fica a pergunta: porque o valor não é tabelado de acordo com o tipo de corte, sem considerar para quem ele é feito?

Itens essenciais como absorventes higiênicos também não ficam de fora: no Brasil, 30% do valor pago por esse item são tributos, tornando-os mais caros e inacessíveis para muitas mulheres no país, impondo a chamada pobreza menstrual a milhões de jovens e adultas que não conseguem comprar absorventes.

Dicas práticas para driblar a pink tax

como driblar a taxa rosa

A taxa rosa está aí, aplicada em vários produtos e serviços que usamos no dia-a-dia. Mas, ao criar o hábito de pesquisar e comprar de forma consciente, você pode driblá-la e diminuir, e muito, os gastos mensais. Veja, a seguir, algumas dicas para isso.

#1 Compare preços antes de comprar

Avalie a diferença de preços entre um produto tido como feminino, e outro com embalagem neutra ou masculina. Será que um é mesmo melhor do que o outro? A fórmula é diferente, ou eles possuem a mesma composição? Se a qualidade for a mesma, opte pelo mais em conta.

#2 Faça escolhas conscientes

A indústria de consumo usa muitos truques para atrair a atenção das mulheres. Uma embalagem rosa, com desenhos ou brilhos pode chamar a atenção, mas você pode simplesmente estar pagando mais pela tinta usada. Na hora de comprar, leve isso em conta e reflita se você precisa mesmo daquele item. Adiar a compra é sempre um bom truque para economizar. Vale lembrar o que nossas mães costumavam dizer quando éramos crianças: “a gente compra na volta”.

#3 Opte por empresas engajadas

Prefira comprar de empresas que se comprometem publicamente a eliminar a disparidade de preços com base em gênero. Essas empresas geralmente divulgam suas práticas de precificação de maneira transparente. Um bom truque é bater o olho nos relatórios de sustentabilidade das empresas das quais você gosta de comprar.

#4 Gestão financeira pessoal

Desenvolva o hábito de cuidar das finanças pessoais e não caia nas armadilhas do marketing. Pequenas decisões diárias podem impactar significativamente suas finanças no final do mês, por isso, esteja sempre atenta. Para organizar as finanças, você pode usar uma das oito planilhas gratuitas disponibilizadas pelo Meu Bolso em Dia.

Conheça seus direitos como consumidora

Apesar de não existir no Código de Defesa do Consumidor uma lei específica que proíba a prática da taxa rosa, toda consumidora que se sentir lesada ao adquirir um produto com descriminação de preço em função do gênero pode registrar formalmente uma reclamação no SAC e Ouvidoria do fabricante, cobrando mais transparência da marca em relação a seus produtos.

Segundo o Procon, a mulher, na condição de consumidora, deve ter seus direitos, acessando informação adequada e clara sobre os produtos e serviços, além de estar protegida contra a publicidade enganosa e abusiva, conforme previsto no Código de Defesa do Consumidor.

Em busca de práticas não-discriminatórias com base no gênero e, também, da igualdade no acesso ao consumo, o Idec (Instituto de Defesa do Consumidor) sugere reunir recibos e notas fiscais como evidência para questionar práticas injustas nos órgãos de defesa do consumidor, como os Procons estaduais e municipais.

Empoderamento financeiro: conheça seus benefícios na hora de comprar produtos e serviços bancários

produtos financeiros para mulheres

Como vimos, mulheres muitas vezes pagam mais caro simplesmente por serem mulheres. Mas isso não se aplica a produtos e serviços financeiros. Nesse mercado, há um reconhecimento de que elas oferecem menos riscos de sinistros, no caso de seguros, e estão mais preocupadas com o futuro financeiro da família, o que tem levado o mercado a lançar produtos direcionados às mulheres. Conheça alguns deles!

Seguro de automóvel

Mulheres motoristas podem conseguir seguros de veículos mais baratos do que homens. Isso porque elas se envolvem em menos acidentes e registram, em média, apenas 25% das indenizações pagas pelo Seguro DPVAT, segundo dados do boletim “Mulheres no Trânsito”, da seguradora Líder. Ao dirigir com mais prudência e ser responsável por menos casos de sinistro, a mulher consegue ter acesso a prêmios (parcelas) mensais mais em conta. Para isso, são avaliados, ainda, o perfil da motorista, o modelo do veículo e outros fatores. 

Seguro de vida

Há seguros de vida  desenvolvidos exclusivamente para mulheres, pensando em suas particularidades e nos potenciais riscos enfrentados. Esses seguros costumam oferecer coberturas adaptadas, considerando que as mulheres podem estar mais expostas a certas condições, como câncer de mama, ovário e colo de útero.

Para além das coberturas tradicionais, a indenização financeira proporciona suporte aos dependentes em caso de falecimento ou incapacidade de trabalhar devido a acidentes. Conforme a seguradora escolhida, é possível incluir diferentes proteções no contrato como, por exemplo, assistência de apoio à mulher em casos de vulnerabilidade e violência patrimonial.

Avalie todas as opções disponíveis e opte por aquelas que melhor atendam às suas necessidades e sejam mais vantajosas de acordo com seu perfil!

Investimentos

Hoje, aproximadamente 27% dos investidores no Tesouro Direto são mulheres e  de tempos em tempos surgem surgindo mais opções voltadas a esse público, de maneira a incentivar que mais mulheres construam um patrimônio financeiro para terem um futuro mais seguro e próspero.

Um exemplo de produto lançado recentemente é o Educa+ Mulher, fruto da parceria entre o Tesouro Nacional e o Banco do Brasil, que tem por objetivo encorajar mais mulheres a realizarem seu primeiro investimento em um título de renda fixa para custear os estudos de seus beneficiários. Além disso, a mulher que aplica R$ 35 ou mais é incluída na apólice do Seguro de Vida Mais Mulher, ofertado pelo banco, e as participantes recebem conteúdos de educação financeira.

Crédito para empreendedoras

Existem, ainda, linhas de crédito desenvolvidas especialmente para mulheres empreendedoras, criadas para ajudá-las a fazer seus negócios deslancharem. Como exemplo, a linha Desenvolve Mulher oferece um crédito pré-aprovado de até R$200 mil para micro, pequenas e médias empresas lideradas por mulheres.