A importância da independência financeira para mulheres desde os primeiros anos da vida

Como ensinar meninas a buscarem seu poder de conquistar a liberdade financeira desde a infância

sobre a importância da mulher na economia, empreendedorismo feminino
8 de março de 2021 5 min. leitura

De acordo com o Banco de Desenvolvimento da América Latina, as mulheres ocupam um papel determinante no desenvolvimento da região. Se as mulheres fossem inseridas em massa no mercado de trabalho, o PIB latino-americano poderia aumentar em até 34%.

A participação das mulheres na economia formal tem evoluído consideravelmente, como mostra o notável crescimento de mulheres chefes de família. Segundo o Retrato das Desigualdades de Gênero e Raça do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea), o percentual de domicílios brasileiros comandados por mulheres saltou de 25%, em 1995, para 45% em 2018, devido, principalmente, ao crescimento da participação feminina no mercado de trabalho. A pesquisa feita pelo Observatório Febraban em julho de 2020 mostra que 56% das mulheres estão à frente do orçamento doméstico no Brasil.

O papel das mulheres na economia e nas finanças 

O papel feminino na economia extrapola até mesmo o trabalho formal ou o empreendedorismo. De acordo com o relatório Economia do Cuidado, do Laboratório ThinkOlga, ao todo, as mulheres brasileiras gastam em média mais de 61 horas por semana em trabalhos não remunerados, como preparar alimentos, cuidar da limpeza, fazer pequenos reparos, fazer compras, organizar as contas, cuidar das crianças, entre outras atividades que dão suporte para que a economia continue girando.

Se fosse contabilizado, esse trabalho seria equivalente a 11% do PIB Nacional, superando a indústria e o agronegócio no país. Ao redor do mundo, segundo a Oxfam, mulheres e meninas dedicam 12,5 bilhões de horas, todos os dias, ao trabalho de cuidado não remunerado – uma contribuição de pelo menos US$ 10,8 trilhões por ano à economia global, o que representa mais de três vezes o valor da indústria de tecnologia do mundo.

Mesmo quando não geram renda diretamente, as mulheres desempenham um papel preponderante, orientando e guiando a gestão dos gastos da casa. Consertar uma calça rasgada, fazer economia no mercado, reaproveitar alimentos, reutilizar água para limpeza, ir ao banco para pagar as contas do mês são apenas alguns dos exemplos das responsabilidades em geral assumidas pelas mulheres e que têm efeitos significativos no orçamento doméstico.

Barreiras a serem superadas

Por outro lado, essa sobrecarga de trabalho “invisível” do ponto de vista econômico, gera impactos na vida das mulheres. Amplia as desigualdades de renda, precariza as condições de vida e acarreta estresse, estafa, depressão e outros problemas para a saúde. Tudo isso afeta o caminho profissional e o acesso à renda desta mulher.

Ocupada com o “invisível’, ela fica privada do tempo e dos recursos necessários para conquistar sua autonomia financeira. A dependência econômica e ganhos insuficientes geram a permanência das mulheres em situações de violência e a perpetuação das desigualdades de gênero.

São muitas as barreiras sociais, econômicas e legais que impedem as mulheres de alcançar todo o seu potencial e participar de forma plena na vida pública e na economia. Na América Latina, elas ocupam apenas 25% dos cargos públicos, enquanto em países como Finlândia, Islândia, Holanda e Suécia sua representação parlamentar chega a 40%. Além disso, podem ganhar até 19% menos do que os homens que desempenham um mesmo trabalho.

Conhecimento financeiro das mulheres x homens

No que diz respeito ao conhecimento financeiro, de acordo a Pesquisa internacional de Competências de Alfabetização Financeira de Adultos, da OCDE-INFE, os índices de educação financeira são menores entre as mulheres. No Brasil enquanto 52% dos homens alcançaram a pontuação mínima, apenas 44% das mulheres a atingiram.

Entretanto, 53% das mulheres mostraram atitudes positivas quando pensam no longo prazo, em comparação com apenas 47% dos homens. Ou seja, elas são mais cautelosas e se preocupam mais com o futuro. Se bem orientadas financeiramente, seu comportamento pode ser canalizado para ampliar a prosperidade da família e superar situações de endividamento e inadimplência.

Desafios para além dos números

De acordo com a psicóloga argentina Clara Coria, autora do livro “O sexo oculto do dinheiro: formas de dependência feminina”, apesar da evolução do papel feminino na economia, na chefia das famílias e na gestão dos recursos, culturalmente, muitas mulheres ainda se sentem presas a papéis sociais de mães que amam incondicionalmente, donas de casa que trabalham sem esperar reconhecimento e de responsáveis pela harmonia e bem-estar emocional da família.

Todos esses papéis acabam conflitando com o atarefado dia a dia da mulher profissional, que precisa entregar relatórios no prazo, bater metas, administrar as entradas e saídas de dinheiro e garantir que as contas sejam pagas, tarefas anteriormente delegadas ao homem.

As atribuições tipicamente femininas, relacionadas à inteligência emocional, cuidado e amor aparentam ser incompatíveis com as funções recentemente conquistadas, que exigem maior racionalidade, planejamento e pragmatismo. Essa aparente incompatibilidade gera alguns conflitos e dilemas que podem desencadear desequilíbrios financeiros. Vejamos alguns deles.

Trabalho x família 

Ao conquistar projeção profissional, sem se libertar do padrão de mãe perfeita, a mulher tende a sentir culpa por estar ausente da família, em especial dos filhos e isso pode gerar compensações materiais, como presentes excessivos, mimos ou dificuldade em dizer não ou impor limites à educação das crianças.

Sucesso profissional x casamento

A conquista de maiores salários, sem se libertar do papel tradicional da dependência ou submissão feminina podem levar a frear as próprias ambições da mulher para, inconscientemente, não se tornar uma concorrente ou superar financeiramente o marido, para que ele não se sinta inferiorizado na relação.

Ambição x papel feminino compassivo

Uma mulher guerreira, que busca seus objetivos, exige seus direitos, sabe cobrar dívidas, pedir aumento salarial e reivindicar cargos mais elevados na carreira pode ser tachada de gananciosa e egoísta, rótulos que tradicionalmente são opostos aos ideais femininos de doçura, delicadeza e fragilidade. Isso pode levar algumas mulheres a abrir mão de conquistar seu espaço no mercado para não se distanciarem do perfil feminino construído socialmente.

Padrões de beleza x limites financeiros

Embora assumam novas responsabilidades no sustento da família, muitas mulheres ainda conservam sua conexão com os elevados padrões de beleza e imagem exigidos pela sociedade. E, para conciliar os gastos com a família e consigo mesmas, podem acabar perdendo o controle orçamentário para sustentar e manter os padrões estéticos.

Educar as meninas para a liberdade financeira

Diante de tantos obstáculos externos e internos à conquista da autonomia financeira feminina, é fundamental repensar o que ensinamos às meninas, para evitar a reprodução de crenças culturais e possibilizar a harmonia da relação feminina com o dinheiro. Incentivando uma visão mais aberta e menos ultrapassada sobre os papéis femininos, é possível ajudá-las a se permitir tomar decisões diferentes do passado. Aqui vão algumas dicas práticas.

Revise suas crenças

Até que ponto seu comportamento no dia a dia pode estar reforçando certas crenças que mantém a mulher em posição de inferioridade? Ideias como “a mulher precisa ser perfeita e onipresente para ser uma boa mãe e companheira”, “ “quem cobra dívidas e luta pelos próprios direitos é uma pessoa gananciosa” e “é preciso sofrer e investir muito dinheiro para ser bonita e aceita na sociedade” podem causar danos à autoestima das meninas a seu redor. Se você perceber que suas ações reforçam esses pensamentos, procure revê-las e pouco a pouco, libertar-se dessas crenças.

Dê o exemplo

Se você quer ter filhas meninas independentes, lute pela sua própria independência. Não se sinta culpada por trabalhar, empreender ou ir atrás dos seus sonhos. Meninas que têm modelos de mulheres independentes em casa tendem a imitar esse modelo para si mesmas.

Valorize as mulheres que fizeram a diferença na história da sociedade e da família

É importante ajudar as mulheres a reconhecer as mudanças sociais e valorizar suas recentes conquistas – e isso pode começar cedo. Conte histórias sobre mulheres guerreiras, independentes, autônomas e que quebraram padrões estabelecidos em suas gerações. Escolha personagens da história ou da família para enfatizar esse empoderamento.

Ensine-a perguntar “por quê”?

O pensamento crítico e o desafio aos padrões começam dentro da gente. Toda vez que uma menina ouvir frases como “isso é trabalho de homem”, “mulher tem que ficar em casa”, “o trabalho da mulher serve para sustentar seus caprichos” ela deve se sentir autorizada a questionar, argumentar e discordar respeitosamente. Ao provocar perguntas que questionem essas crenças e pressupostos, pode-se incentivar as meninas a refletirem e se libertarem da futura culpa em nome do ideal de família, da submissão em nome do ideal de casamento ou de sacrifícios excessivos em nome do ideal de beleza.

Distribua tarefas da casa entre meninos e meninas

Assim você ensinará a ambos que o papel dos afazeres domésticos não é só feminino e é responsabilidade de todos que vivem na casa.

Ensine a fazer contas e a economizar

Leve sua menina com você ao mercado, à farmácia, entregue dinheiro a ela, peça para comprar o pão, ensine-a a calcular o troco, dê um cofrinho a ela, ensine como poupar para conseguir realizar objetivos e mais tarde convide-a a ajudar você a lançar gastos na planilha de orçamento. Quanto mais cedo ela tiver contato com o dinheiro, menor será o medo de lidar com ele.

Diga “não”, mas provoque o “sim”

Quando sua filha pedir algo que não pode comprar, saiba dizer “não” para criar limites saudáveis e ajudá-la a lidar com eles no futuro. Entretanto, aproveite o momento para convidá-la a pensar em maneiras de dinheiro para o que deseja. Assim, você a desafia a agir de forma empreendedora e criar alternativas para realizar suas conquistas, sem depender de outras pessoas.

Mostre como cuidar da beleza gastando pouco

Convide-a a frequentar brechós, feiras de trocas entre mulheres, a comprar cosméticos em magazines, a dormir bem, alimentar-se de forma saudável e garantir uma boa hidratação para cuidar bem da pele, do cabelo e das unhas. As práticas de autocuidado e bem-estar não precisam ser associadas a grandes despesas.

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