Como levar a educação financeira para a sala de aula

A educação financeira pode ser uma ferramenta importante para o professor em todas as disciplinas. Conheça as experiências de quem faz e as dicas para levar o tema para a escola.

Como levar a educação financeira para a sala de aula
13 de outubro de 2022 6 min. leitura

Para levar a educação financeira para a sala de aula, Marilú Bebiane Bonessi da Silva, professora de Ciências Naturais do Ensino Fundamental II da Escola Municipal Professora Thereza Mazzolli Hreisemnou, de Joinville (SC), resolveu recorrer a uma oficina de fabricação de sabão.

“Calculamos o custo para produzir o sabão, estimamos o valor de venda e comparamos com o preço médio do produto no mercado. Tudo isso integrado ao conteúdo de Ciências, trabalhando reações químicas e os três Rs (reduzir, reutilizar e reciclar) da sustentabilidade”, conta a educadora. 

Pouco tempo depois, a família de um de seus alunos passou a produzir e a comercializar sabão caseiro, fazendo renda extra. “O interesse pelo tema foi tal que ele nunca mais faltou às aulas”, conta Marilú. Esse é apenas um dos exemplos que ela gosta de dar quando fala da importância da educação financeira na escola.

“A primeira coisa que o professor precisa entender é que a educação financeira não é um trabalho a mais. Ela é uma ferramenta que pode ser inserida nas atividades voltadas ao desenvolvimento de diferentes habilidades em cada faixa etária”, afirma. “Quando estou fazendo meu planejamento e vejo a habilidade requerida, avalio se é possível abordá-la em conjunto com a educação financeira. Se for viável e fizer sentido no contexto em que vivem meus alunos, incluo no planejamento”, explica.

Como levar a educação financeira para a sala de aula
As educadoras Patricia Paes Martins Bitencourt (esquerda) e Marilú Bebiane Bonessi da Silva, de de Joinville (SC)

Patricia Paes Martins Bitencourt, professora de Matemática e Integradora de Mídias do Ensino Fundamental II da Escola Municipal Professora Eladir Skibisnki, também de Joinville, compartilha da mesma opinião. “Educação financeira é um assunto que pode ser desenvolvido em todas as disciplinas e não apenas nas aulas de matemática. O conceito está mais relacionado à adoção de novos comportamentos do que a planilhas e cálculos”, acredita.

Ela afirma que o assunto pode ser inserido na matriz curricular, por meio de projetos e no planejamento dos conteúdos diários, trazendo leituras de textos, músicas, pesquisas e debates. “Também podemos usar também metodologias ativas e tecnologias educacionais, como a criação de jogos, trabalhando questões que envolvem o desenvolvimento sustentável, como economia de água, reciclagem, energia limpa, dentre outros”, destaca a educadora.

Junto com professores de outras áreas, Patrícia liderou, por exemplo, o projeto Armadilhas do Cotidiano em Quadrinhos, em que os alunos discutiram as armadilhas mentais que costumam levar a decisões equivocadas e ao consumo excessivo. E, ao mesmo tempo, desenvolveram habilidades como o espírito participativo e colaborativo. O produto final da turma foi um livro, produzido em papel reciclado.

Por que levar a educação financeira para a escola

Como levar a educação financeira para a sala de aula

As histórias de Marilú e Patrícia são exemplos de como levar a educação financeira para a sala de aula de forma transversal e multidisciplinar, para ajudar a formar crianças e adolescentes mais conscientes, que saibam priorizar, planejar, poupar, entender riscos e oportunidades e, acima de tudo, perseguir seus sonhos.

Afinal, a escola prepara pessoas para lidar com todos os aspectos da vida: cuidar bem do dinheiro é um deles. “As aulas influenciaram o modo de vida dos alunos. Eles aprenderam que seu valor não depende das coisas que consomem, evitando que se tornem vítimas dos apelos comerciais que recebem no seu cotidiano, provocando reflexões sobre seus hábitos de consumo e impulsionando-os a fazer boas escolhas, dentro da sua realidade”, destaca Patrícia.

Como espaço transformador, ao falar de educação financeira, a escola também é capaz de discutir temas extremamente relevantes para a sociedade, como o consumo consciente, a economia de recursos, as vantagens de planejar o futuro, entre outros aspectos. Abordar o tema na sala de aula é, ainda, uma oportunidade para desenvolver atitudes como disciplina, persistência, responsabilidade, planejamento e confiança.

A educação financeira na BNCC

Como vimos, ensinar educação financeira vai muito além de números, contas e planilhas. Por isso, desde 2018, a Base Nacional Comum Curricular (BNCC) passou a considerar uma visão integradora do tema na educação básica e ensino médio, propondo que professores trabalhem o tema de forma contextualizada, dentro de suas áreas de conhecimento.

A educação financeira entra, assim, como um Tema Contemporâneo Transversal (TCT) na BNCC, considerado relevante para o desenvolvimento da cidadania. “Espera-se que os TCTs permitam ao aluno entender melhor como utilizar seu dinheiro, como cuidar de sua saúde, como usar as novas tecnologias digitais, como cuidar do planeta em que vive, como entender e respeitar aqueles que são diferentes e quais são seus direitos e deveres, assuntos que conferem aos TCTs o atributo da contemporaneidade”, crava o texto da BNCC.

Assim, a ideia é trazer a educação financeira como uma ferramenta para contextualizar as aulas e promover atividades interdisciplinares. 

Como incluir a educação financeira nas diferentes faixas etárias

Como levar a educação financeira para a sala de aula

A educação financeira não deve vir como um peso a mais nas atribuições dos professores. Ao contrário: ela entra como um facilitador, um mecanismo para contextualizar os conteúdos já programados no currículo escolar.

Cabe ao professor entender sua turma e encontrar as melhores maneiras de inserir o assunto, garantindo que ele faça sentido para os alunos, seu contexto familiar e idade. Veja alguns exemplos de como fazer isso com turmas de diferentes idades.

Ensino Fundamental I - 6 a 10 anos

Para o 1º ano, por exemplo, é possível levantar uma discussão sobre a origem dos brinquedos, seus materiais e como foram produzidos. Pode-se estimular o hábito de trocar ou doar brinquedos, no lugar de jogar fora, e também criar um cofrinho da turma, para começar a poupar e juntar dinheiro para conquistar o brinquedo favorito. Em uma oficina, também é possível ensiná-los a criar peças com materiais reciclados, ressignificando a brincadeira.

No 2º ano, um bom assunto para desenvolver é a conscientização do desperdício - principalmente da água e comida, que estão muito presentes no dia a dia das crianças. Para isso, a cartilha Cofrinho Sabichão propõe uma maneira lúdica: levar dois vasos de planta para a sala, com uma muda saudável e outra murcha, e mostrar a importância da água ao regar a plantinha dia após dia. Por meio da conversa, mostre como a água é sinônimo de vida e explique que ela não se renova ou se fabrica, por isso a importância de economizar.

Ensino Fundamental II - 11 a 14 anos

O desperdício pode ser tratado de forma mais aprofundada com os mais velhos, como mostra a professora Marilú. “No 8º ano, fizemos um projeto de medir, por um mês, quanto de merenda era jogada fora. Trabalhamos a questão do desperdício, o problema da fome e investigamos, ao fazer entrevistas com alunos, o motivo de tanto alimento ser jogado fora”, explica. 

Com o levantamento de dados da pesquisa, os alunos concluíram que a funcionária que servia a merenda acabava fazendo pratos muito grandes, que as crianças não conseguiam terminar de comer. “Com esse projeto, conseguimos implementar buffets em que as crianças passaram a se servir sozinhas, supervisionadas, e houve redução de desperdício. Também criamos uma composteira e discutimos como aproveitar todas as partes dos alimentos”, afirma a professora.

Outra proposta, ideal para o 9o ano, é ensinar a importância do orçamento doméstico e incentivar os alunos a elaborar um levantamento prático das receitas e despesas, usando casos fictícios, para que eles aprendam a organizar as contas da família, analisando se estão gastando demais e o que pode ser cortado ou reduzido.

Alguns materiais gratuitos que ajudam o professor a levar educação financeira para a sala de aula

Existem diversas cartilhas e materiais didáticos gratuitos, que apoiam o professor, incentivam o interesse das crianças e trazem ideias de atividades e oficinas. Conheça, a seguir, alguns deles.

ENEF: A Estratégia Nacional de Educação Financeira reúne, em seu site, uma série de materiais didáticos sobre o tema, divididos entre ensino fundamental e ensino médio. Oferece também o jogo Ta Osso, em que as crianças podem explorar um mundo canino em busca da independência financeira. Para aplicar os conteúdos, os professores têm à disposição um curso gratuito de 40 horas.  

Como levar a educação financeira para a sala de aula; Turma da Mônica em: De onde vem o dinheiro
Turma da Mônica em: De onde vem o dinheiro

Turma da Mônica: Para incentivar uma conversa leve e divertida sobre educação financeira, o Sicredi se uniu com a Mauricio de Sousa Produções para criar uma série temática de histórias da Turma da Mônica que explica a origem do dinheiro, orçamento familiar e como funcionam compras à vista ou a prazo. São diversos gibis e vídeos sobre o tema. Os quadrinhos são gratuitos e ficam disponíveis nas agências do Sicredi nos estados do Paraná, Rio de Janeiro e São Paulo.

Cartilha Cofrinho Sabichão: O projeto Cofrinho Sabichão, patrocinado pelo Banco BV, Banco Pan e outros parceiros, é uma peça de teatro pensada para fazer as crianças refletirem sobre a importância de ter uma relação saudável com o dinheiro. Para complementar o projeto, é disponibilizada uma cartilha sobre educação financeira, com dicas de como trabalhar o tema na sala de aula.

Gostou dessas dicas? Não deixe de conhecer também as trilhas gratuitas da Plataforma Meu Bolso em Dia!

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