Vai morar sozinho ou dividir um teto?

Saiba como calcular os gastos para evitar surpresas no bolso

duas mulheres jovens brancas sorridentes com caixas e malas de mudança
29 de dezembro de 2017 12 min. leitura

Em alguns países, como os Estados Unidos, é comum o jovem sair da casa dos pais ao terminar o ensino médio. Em geral, ele vai cursar uma faculdade e morar em residências estudantis. No Brasil, essa mudança muitas vezes acontece mais tarde: por aqui, um em cada quatro jovens com idade entre 25 e 34 anos vive com a família, de acordo com dados do IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística).

Mas, em determinado momento, surge a necessidade ou o desejo de ter um canto para chamar de seu. Essa é uma decisão importante e que precisa ser muito bem planejada para evitar surpresas no bolso. Para ajudar você a fazer as contas dos gastos que terá, listamos as principais despesas domésticas e outras que podem estar envolvidas na mudança.

A primeira reflexão: morar sozinho ou dividir uma casa? Há uma série de aspectos a serem considerados. Morar com outras pessoas pode ser muito bom financeiramente, já que os gastos são divididos entre todos. Uma tendência que começa a se fortalecer em várias cidades brasileiras são as casas compartilhadas – cohousing e coliving, em inglês –, que se popularizaram em países da Europa e nos Estados Unidos a partir dos anos de 1980.

Senso de comunidade

Nesse formato, várias pessoas se juntam para alugar um imóvel mais espaçoso, com jardim e em alguns casos até piscina, churrasqueira e salão de jogos. Cada morador tem o seu quarto e todos compartilham as áreas comuns, como cozinha, sala, lavanderia e espaços de lazer. É o mesmo princípio das repúblicas estudantis, com a diferença de que os moradores já têm uma vida profissional bem estabelecida.

Geralmente, são pessoas que acreditam num modelo de economia compartilhada, privilegiam a convivência e a amizade. Muitas dessas moradias funcionam como uma comunidade, onde cada um tem uma responsabilidade pré-determinada na manutenção do espaço e todos zelam pelo bem-estar coletivo.

Para funcionar bem, as moradias coletivas precisam de muita organização, com regras e combinados definidos sobre o que cada um pode e não pode fazer, incluindo aí a realização de festas, convidar amigos, lavar a louça e deixar as áreas comuns arrumadas, por exemplo.

As finanças também precisam ter um controle rígido e o compromisso de que todos façam a sua contribuição antes da data de vencimento das contas. Recibos de pagamentos e notas fiscais são deixados em local visível para que todos possam acompanhar.

Nesta matéria publicada pelo O Globo você conhece a experiência de um grupo que divide uma mansão no Cosme Velho, no Rio de Janeiro. Inspire-se, também, na comunidade Casa da Gente, de São Paulo.

Tudo na ponta do lápis

Na hora de planejar a mudança e conhecer o valor das despesas, seja em moradias individuais, coletivas ou divididas com um ou mais amigos, o ideal é montar uma planilha ou usar um aplicativo, como o Jimbo, para controlar os gastos da casa. Considere:

  • Aluguel, condomínio e IPTU
  • Contas de água, luz e gás
  • Internet e TV a cabo (se decidirem contratar)
  • Telefone fixo (cada vez menos usado)
  • Produtos de limpeza
  • Diarista para faxina (se esta for uma opção)

Além destes, é preciso pensar em como irá funcionar a alimentação. Se você for morar sozinho, talvez não seja uma boa ideia cozinhar todos os dias. Para aproveitar melhor o tempo e não desperdiçar alimentos, uma alternativa é cozinhar várias porções de uma vez e congelar.

Em casas compartilhadas, uma opção é fazer a compra coletiva mensal de itens básicos, como sal, açúcar, temperos, óleo, arroz, feijão, carnes, macarrão e itens para o café da manhã, por exemplo. Pães, verduras e frutas devem ser comprados semanalmente. Itens de higiene, em geral, são considerados pessoais e não entram na compra do grupo.

Reaproveite o que puder

Na hora de montar a casa, antes de ir às compras, veja se a família ou amigos têm móveis, eletrodomésticos e utensílios que não usam mais e que possam você possa aproveitar. Você irá se surpreender com a oferta, que poderá ir de geladeira e aspirador de pó a panelas, pratos e talheres.

Outra dica é comprar móveis usados e dar seu toque pessoal, com pintura, troca de tecidos ou confecção de almofadas, por exemplo. Uma simples pintura em alguns itens já deixa a casa mais alegre e confortável. Você pode, inclusive, fazer seus próprios móveis usando paletes e caixotes. Veja as dicas nesta matéria.

Considere também organizar o chamado open house, um encontro em que você convida amigos e parentes para conhecerem a casa nova, oferece um lanche e algumas bebidas e as visitas levam um presentinho. Em geral, quem convida envia uma lista prévia de utensílios que gostaria de ganhar, como panos de prato, escorredor de macarrão, baldes, vassouras e outros. São itens que não custam muito, mas que, quando somados, podem impactar consideravelmente o orçamento da mudança.

Falta pouco para a casa estar completa? Não esqueça de reservar dinheiro para outros gastos, como roupa de cama e de banho (se não puder levar de casa).

A visão de quem já mudou

Conheça, a seguir, as histórias e perrengues vividos por alguns jovens que já fizeram a transição para uma vida independente.

Flavio Akira Nakadaira Filho, 25 anos

Flavio saiu de casa com 18 anos. Seus pais moram em Minas Gerais e ele passou no vestibular da Universidade de São Paulo. Logo que chegou em São Paulo, morou com a tia, depois foi para uma kitnet. Fez dois anos de intercâmbio estudantil na Itália e, lá, chegou a dividir a casa com outros cinco colegas. Na volta ao Brasil, escolheu viver com um grupo menor de amigos.

“Dividir casa não é tão tranquilo quanto morar sozinho, mas financeiramente é melhor porque as contas mais pesadas são diluídas. Outra coisa boa é que a gente tem a oportunidade de compartilhar ideias com pessoas da sua idade. Isso é especialmente importante quando você está na faculdade”, diz.

Nas várias mudanças que fez, Flavio passou alguns apertos. Um deles foi logo que chegou na Itália. Naquela época, o “Ciência Sem Fronteiras”, programa do governo que incentiva a mobilidade de estudantes universitários, foi praticamente extinto e ele ficou sem bolsa de estudos. “Tudo era pago em Euro e eu tinha que controlar cada centavo. Foi um período de aperto”.

Ju Nunes, 26 anos

Ju saiu de casa final de 2017. Tudo começou quando o namorado, Guilherme, passou em um concurso público e foi trabalhar no centro da cidade de São Paulo. Morador da Zona Leste, ele perderia muito tempo no deslocamento e queria estar mais próximo do local de trabalho.

Fizeram as contas e resolveram morar juntos. “A gente tinha um dinheiro guardado e a família ajudou com móveis e eletrodomésticos”, conta Ju. Quando calcularam os gastos com a mudança, incluíram aluguel, as contas de consumo, mobília e carreto. “Mas não pensamos em cortinas e artefatos de cozinha e limpeza, como lixo, varal e cortinas”. E lá vai gasto não planejado!

Instalada na casa nova, ela está superfeliz. “É muito gostoso ter um lugar do jeito que a gente quer. Outra coisa boa é que aquelas pequenas coisas que antes incomodavam bastante deixam de ser tão importantes”.

Alan Paul Rosemberg, 33 anos

Alan tomou a decisão de morar sozinho em setembro de 2017. Seus pais iam fazer uma reforma na casa e ele teria que encaixotar suas coisas. “Aproveitei a deixa para sair de casa. Era um plano antigo, que foi sendo adiado”, conta. Consultor, ele tem uma vida financeira organizada: mantém planilhas para controle das despesas mensais, estabeleceu um limite para gastos com lazer, uma margem para imprevistos e um valor que ele investe todo mês.

Mesmo tendo se preparado para a mudança, quando tomou a decisão, listou todos os gastos que teria para manter um apartamento. Procurou um imóvel barato, pesquisou preços de móveis e eletrodomésticos e comprou alguns itens usados, priorizando os mais urgentes, como cama, geladeira e fogão. Os demais foram planejados para os meses seguintes. Conseguiu utensílios com a família e, antes de mudar, vendeu livros, roupas e outros itens que não usava.

Instalado no novo apartamento, ele mantém uma rotina econômica. Ensaboa toda a louça e enxagua depois, para reduzir o consumo de água, coleta água da chuva para limpar o terraço, não deixa eletrodomésticos na tomada quando eles não estão sendo usados e prepara a comida da semana de uma só vez para congelar. Economiza, assim, tempo e dinheiro. “Costumo calcular quanto tempo de trabalho eu gasto para adquirir um bem ou fazer uma atividade lazer. Assim, fica mais fácil economizar”, revela.

Marta Fraga, 28

Marta foi viver sozinha em 2016. Antes, tinha morado com uma de suas irmãs, que acabou indo fazer intercâmbio no exterior. Ela se planejou e, em pouco tempo, já estava na casa nova. Fez uma lista dos móveis e eletrodomésticos essenciais, levou alguns que já tinha, ganhou outros da família e amigos e se organizou para comprar o restante aos poucos. “Em cerca de seis meses, a casa estava montada”, afirma.

Quinze dias antes de mudar, sua irmã organizou um chá de casa nova para ela e convidou toda a família. Os presentes incluíram utensílios de cozinha e itens como ferro de passar roupa, liquidificador e aspirador de pó. “O que não ganhei, comprei no decorrer do tempo”.

Outra preocupação da Marta foi organizar a rotina da casa. Materiais de higiene e limpeza, por exemplo, são comprados a cada dois ou três meses. Ela almoça fora e, para o jantar e finais de semana, contrata marmitas fit para fazer uma alimentação leve.

Com todos os gastos anotados, ela vive atrás de oportunidades para cortar despesas. Estão na fila do corte, agora, telefone fixo e internet. “Contratei, mas com o tempo vi que não vale a pena, porque fico pouco tempo em casa”.

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