Foco, mãe, foco!
É o que Rejane Abrantes costuma ouvir de sua filha, Maria Clara Pêgas Abrantes, de 8 anos, sempre que vão juntas ao supermercado. Fiscal da lista de compras, Maria Clara chama a atenção da mãe sempre que ela se entusiasma com algo que não está na lista.
Nos aniversários dos amigos, lá vão as duas à loja de brinquedos. E saem de lá apenas com o presente do aniversariante, sem levar outros brinquedos para casa. Desde cedo, Maria Clara sabe que é assim que funciona e não pede nada fora de hora. Isso porque já tem noção do valor do dinheiro.
Ela ganha uma pequena mesada dos pais e, em troca, precisa cuidar de algumas tarefas que tem condições de realizar. Ao sair do banho, ela pendura a tolha para secar. Coloca a roupa suja no cesto, rega as plantas e faz a lição de casa. Quando deixa de cumprir alguma tarefa, perde um pedacinho da mesada, mas isso raramente acontece.
Além da mesada, Maria Clara faz bijuteria, maquiagem, desenho e pintura, que são vendidos por alguns trocados para a família e para as amigas. Com isso, junta dinheiro para comprar os livros da youtuber Bel para Meninas, de quem é fã, e os bonecos de pelúcia zoiudos, que adora colecionar. Também põe moedinhas no cofre que a família, que mora em São Caetano do Sul (SP), mantém para viajar. “Meu sonho é conhecer a Disney e pra isso, todo mundo tem que economizar”, diz.
Bernardo, o poupador
Bernardo Firmino, de 11 anos, gosta de fazer economia e evita comprar coisas que não tenham grande utilidade. “Tenho meus objetivos e fico juntando dinheiro para fazer as coisas que eu quero”, conta. Isso tudo ele aprendeu dentro de casa, com o pai, Rogério Dalfior, que é taxista, e a mãe, Mônica Firmino, que é professora de Língua Portuguesa. A família mora no município de Ricardo Albuquerque, no Rio de Janeiro.
Desde que fez 8 anos, Bernardo recebe uma mesada que, hoje, é de R$ 20,00 por mês. Em datas especiais, como aniversário, Dia das Crianças e Natal, Bernardo ganha um presente que a família pode comprar e, também, algum dinheiro, que vai parar dentro de um cofrinho. Foi assim que ele conseguiu adquirir um celular e o casaco do Pikachu que tanto queria. E ainda sobrou um dinheiro que vai ser colocado na poupança, para render.
Ajudando a família a economizar, ele sabe que terá recompensas. Recentemente, teve a chance de visitar a Cidade Olímpica, no Rio de Janeiro, e de assistir a alguns dos Jogos Paraolímpicos 2016. E aproveitou o passeio de montão.
A montanha de perguntas do Gabriel
Quando perguntado sobre o que significa poupar, Gabriel Cancio de Lara, de 8 anos, tem uma definição muito especial: “É quando a gente não janta fora para combinar um cinema. Ou quando a mamãe e o papai dizem que precisamos economizar para fazer uma viagem ou pagar o carro”.
Gabriel também sabe o que ele pode fazer para ajudar sua família a economizar. “Pensar antes de comprar uma coisa, juntar dinheiro e esperar uma promoção para pagar um preço mais baixo ou ir guardando umas notas de reais para comprar dinheiro de outro país, quando a gente for viajar”.
A construção dessa ideia de valor, segundo sua mãe, Elaine Cancio, vem sempre acompanhada de uma montanha de perguntas. “Ele quer saber quanto eu ganho, qual é o salário do meu marido, se a gente tem dinheiro guardado, para quê a gente guarda dinheiro e por aí vai. Respondemos, sempre atrelando a ideia do dinheiro à de um grande objetivo, de uma coisa que será boa para nós e que precisamos trabalhar juntos para realizar”.
Começando a falar de dinheiro
As irmãs Clara Moreira, de 12 anos, e Helena Moreira, de 8, têm cada uma o seu jeito de lidar com dinheiro. Elas moram em São Paulo (SP) e são filhas da autora de livros infantis Roberta Asse e do gráfico Walter Moreira. Não recebem mesada dos pais, por enquanto, mas costumam ganhar presentes em dinheiro dos avós no aniversário, Natal e outras datas especiais.
Parte desse dinheiro vai parar em um cofrinho mantido pelas irmãs, para ser usado em coisas que elas querem fazer. “Quando vejo uma roupa que eu gosto, vejo também quanto custa. Se for caro, não compro”, conta Clara. Outro princípio que ela adota é não levar para casa vários itens porque eles são baratos. “Prefiro gastar em uma única coisa que gosto mais do que comprar duas ou três mais em conta e que eu não vou aproveitar tanto”.
Helena está começando a descobrir o valor dos produtos e adora guardar no cofrinho os trocados que de vez em quando recebe dos avós. Em geral, gasta suas economias na banca de jornal e em artigos de papelaria. Seu sonho é morar com a família em uma casa bem grande. E quando seus pais estavam procurando uma nova residência, um tempo atrás, ela não teve dúvidas: ofereceu o dinheiro do cofrinho para ajudar a completar o valor.
Algumas lições que você pode tirar dessas histórias
Se você tem filhos e quer falar sobre dinheiro com eles, que tal aprender com os pequenos economistas?
1. Ensine seus filhos desde cedo a entender e comparar o valor das coisas.
2. Converse abertamente com eles sobre o valor do seu trabalho, para que entendam que as conquistas são frutos de muito esforço e dedicação.
3. Convide-os a participar das decisões e a colaborar com a realização dos sonhos da família.
4. Delegue tarefas e responsabilidades compatíveis com a idade deles.
5. Elogie e reconheça suas ideias e seu esforço para economizar e poupar.
6. Se der mesada ou semanada e a criança gastar tudo de uma vez, não lhe dê mais dinheiro. Diga a ela que terá que esperar até o próximo mês ou semana.