Porque inserir a educação financeira no currículo do Ensino Médio

Confira os impactos positivo da iniciativa para o futuro dos jovens

importância da educação financeira na escola
28 de março de 2024 4 min. leitura

É fácil concordar com a ideia de que uma pessoa com mais educação financeira tende a tomar decisões mais conscientes, gerenciando melhor seus gastos, guardando dinheiro e usando o crédito de forma adequada. Mas nem sempre é fácil encontrar dados e evidências que comprovem como a educação financeira pode influenciar a vida do cidadão ao longo do tempo.

Quando isso é feito, contudo, os resultados impressionam. Um estudo realizado pelos pesquisadores Miriam Bruhn, Gabriel Garber, Sergio Koyama e Bilal Zia e editado pelo Departamento de Pesquisas do Banco Central, demonstra o quão transformadora pode ser a educação financeira. Os pesquisadores se debruçaram sobre os dados cadastrais de cerca de 16 mil alunos que participaram de uma ação de educação financeira realizada em 2011 em 892 escolas de Ensino Médio de seis estados brasileiros, para entender  o impacto de longo prazo da iniciativa.

Eles monitoraram informações dos alunos durante nove anos, de 2011 a fevereiro de 2020, analisando seu comportamento financeiro, como a posse de conta corrente e uso do crédito, se estão em emprego formal ou possuem empresas ativas como MEI (Microempreendedor Individual).

Em linhas gerais, os estudantes que passaram pela iniciativa de educação financeira demonstraram menor probabilidade de usar linhas de crédito caras e de atrasar  o pagamento de parcelas de empréstimos. Outro indicador relevante é que muitos dos alunos optaram por se tornar empreendedores. Conheça, a seguir, as principais descobertas e os impactos da educação financeira para a vida futura dos jovens.

O Programa de Educação Financeira nas Escolas

programa de educação financeira na escola

O programa de educação financeira na escola fazia parte da Estratégia Nacional de Educação Financeira (ENEF) e aconteceu nos anos de 2010 e 2011, envolvendo estudantes do segundo semestre do segundo ano até o final do terceiro ano do Ensino Médio. O conteúdo foi incorporado às aulas de matemática, ciências, história e língua portuguesa, usando novos livros didáticos com exercícios interativos tanto em sala quanto em casa. 

Os temas incluíram vida familiar, social, bens pessoais, trabalho, empreendedorismo, grandes projetos, bens públicos, economia do país e economia mundial. Os alunos foram divididos em dois grupos: um deles, chamado de grupo de tratamento, participou do programa, usando os materiais e realizando as atividades, enquanto o outro (grupo de controle) não recebeu os materiais e apenas respondeu a pesquisas antes, durante e após o programa.

Após o programa, os resultados imediatos mostraram melhorias na educação financeira, na vontade de economizar, na poupança para compras, na gestão do dinheiro e na organização do orçamento. 

Resultados no longo prazo

Aprender a lidar com dinheiro na adolescência contribui para uma vida adulta mais próspera 

Nove anos depois, o estudo compilou dados de 16 mil desses estudantes e fez descobertas impressionantes. A comparação entre os dois grupos (tratamento e controle) levou a cinco conclusões principais:

  1. O Ensino Médio é um bom momento para aprender sobre finanças, pois muitos alunos abriram contas bancárias nesse período. O contato com o mercado financeiro aumenta consideravelmente nesta etapa da vida.
  1. Os alunos que participaram do programa tiveram 6% menos chances de usar produtos caros de crédito, como o rotativo e o parcelamento da fatura do cartão.
  1. A probabilidade de usar cheque especial foi 8% menor no grupo que recebeu o programa.
  2. O  programa reduziu a probabilidade de atrasos nos pagamentos em cerca de 5%.
  3. Há indícios de que o programa incentivou a troca de empregos formais por atividades de empreendedorismo.

Conclusões do estudo sobre os impactos de longo prazo da educação financeira no Ensino Médio

Inserir a educação financeira na sala de aula no Ensino Médio pode melhorar o comportamento financeiro dos cidadãos no longo prazo, ainda que os efeitos de curto prazo mostraram resultados diferentes. Inicialmente, os estudantes que receberam o tratamento tinham mais chances de usar formas caras de crédito do que o grupo de controle, mas ao longo do tempo, essa tendência se inverteu. 

Isso pode ter acontecido porque os alunos experimentaram essas formas de crédito no curto prazo e perceberam que não eram boas opções financeiras. Outra explicação possível é que, enquanto estavam no Ensino Médio, os valores dos empréstimos eram baixos, resultando em impactos menores. 

Na vida adulta, com acesso a empréstimos maiores, é mais provável que os alunos façam escolhas mais ponderadas, evitando dívidas desfavoráveis. A educação financeira também pode influenciar as escolhas de carreira, especialmente se incluir temas relacionados a trabalho e empreendedorismo.

Como levar a educação financeira para os jovens

como levar a educação financeira para a sala de aula

O adolescente, estudante do Ensino Médio, atravessa uma fase emocionalmente intensa, marcada por altos e baixos, insegurança e desejo de independência. Essa busca por liberdade muitas vezes leva a comportamentos como o consumo de alimentos açucarados ou excesso de tempo online. Essa vulnerabilidade emocional aumenta o risco de vícios, pois afeta o autocontrole.

Por isso, é crucial incentivá-lo a refletir sobre tentações e impulsos, considerando as consequências no curto e no longo prazo. Além disso, ao começar a ter contato com o mundo do trabalho e obter renda, abre-se uma oportunidade para entender como suas escolhas afetam o orçamento da família, a economia do país e seu próprio futuro. A educação financeira desempenha um papel fundamental nesse aprendizado prático. Algumas lições serão especialmente úteis nesta etapa.

Prevenir riscos financeiros

Aprender a prever e gerenciar riscos de decisões impulsivas ou tomadas sem planejamento é importante para estimular o autocontrole e o senso de planejamento do jovem.

Um jeito de fazer isso é estimulá-lo a realizar cenários, previsões e projeções, que são ferramentas poderosas para auxiliar na tomada de decisão com um olhar para o futuro,  procurando antecipar eventos e consequências de ações realizadas no presente.

Ter uma ideia dos futuros possíveis e construir um plano a ser trilhado para cada cenário traçado pode auxiliar o jovem a caminhar de uma maneira mais segura e confiante no seu dia a dia, minimizando os efeitos negativos da fase transitória e efervescente que é a adolescência.

Buscar o equilíbrio

O equilíbrio financeiro é reflexo do equilíbrio geral de um indivíduo, família ou país. Para estimular o jovem a buscar seu equilíbrio interno, nesse momento de tanta turbulência, uma ideia é incentivá-lo a realizar ações que despertem o olhar para formas de equilibrar as contas da família. 

Uma das atividades que concretiza esse objetivo é convidá-lo a tirar uma “fotografia financeira” familiar, identificar as entradas e saídas de dinheiro mensais e anuais e diagnosticar a situação em três possibilidades: endividamento, empate financeiro ou sobra de caixa. A partir desse diagnóstico, o jovem pode ser convidado a propor soluções que ajudem a família a superar seus desafios financeiros.

Alertar para o consumismo

Desenvolver a cidadania é uma forma de ampliar o empoderamento do jovem para atuar como agente transformador do mundo ao seu redor por meio de ações práticas e relevantes para a sociedade e para si mesmo.

O jovem pode ser convidado a desenvolver uma campanha contra o consumismo, para alertar consumidores sobre técnicas usadas pela propaganda para estimular a compra por impulso. Outra proposta é pesquisar consequências do consumo por impulso na saúde, na economia e no meio ambiente, promovendo aplicativos e ferramentas que auxiliem as pessoas a tomarem decisões mais conscientes.

Empreender e construir o futuro desejado

Uma pessoa empreendedora é alguém que identifica oportunidades em situações problemáticas, investindo tempo e dinheiro para transformar algo negativo em positivo, contribuindo para o bem-estar social. 

De acordo com o Sebrae, um empreendedor bem-sucedido possui, ainda, características como persistência, disposição para riscos calculados, exigência de qualidade e eficiência, comprometimento, busca constante por informações, habilidade em estabelecer metas, planejamento e monitoramento sistemáticos, persuasão, rede de contatos, independência e autoconfiança. 

Em um programa de educação financeira, é possível desenvolver essas habilidades, ao propor atividades e desafios que demandem ações e iniciativas para gerar recursos financeiros por meio da criação de soluções para problemas existentes no bairro ou na comunidade em que os jovens estão inseridos.

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