Busca por recompensa emocional aciona o gatilho das compras por impulso no pós-pandemia. Saiba como reconhecer e se prevenir
Lojas cheias, fila grande no caixa e, em alguns casos, fila até na entrada dos shoppings, com muita gente esperando sua vez de entrar. Depois de tanto tempo em isolamento social, sem ir a lojas para ver os produtos de perto, pegar na mão e escolher, os consumidores lotaram o comércio quando ele começou a reabrir as portas. Isso aconteceu em praticamente todas as cidades brasileiras.
Essa movimentação toda
não foi observada apenas no Brasil, mas em muitos países no pós-pandemia, acendendo
a discussão sobre um assunto que não é novo, mas que ganhou relevância neste
momento: a compra por impulso. Fora do Brasil, esse fenômeno é conhecido como revenge
bying (literalmente, compra por vingança).
O conceito é fácil de entender: após um período de privação, as pessoas vão às compras massivamente, como se buscassem uma recompensa por algo que perderam durante um determinado tempo. A primeira vez que se falou sobre isso foi na China, lá nos idos dos anos de 1980. Até então, o país era fechado a produtos importados. Quando as barreiras foram quebradas e os eletrodomésticos e outras novidades estrangeiras começaram a chegar, foi um alvoroço, com pessoas acampando em frente aos estabelecimentos para serem as primeiras a entrar.
Retomada e recompensa
No Brasil, neste quase
final de um ano que parou logo após o carnaval, tem sido uma alegria andar
pelos bairros e ver a vida voltando aos eixos. As portas escancaradas das lojas
de roupas e de calçados, da papelaria e da lojinha de presentes da vizinhança são
praticamente um símbolo de superação. A gente está saindo desta! E representam a
tão esperada retomada da economia, acendendo a esperança da criação de empregos
e da melhoria da condição de vida da população.
Mas servem, também, de
gatilho para a chamadas compras por impulso, ou seja, aquelas que você não se programou
para fazer, mas acaba levando para casa e, muitas vezes, se arrependendo
depois. Um mecanismo que ajuda nisso é exatamente a busca por uma recompensa
emocional. Depois de tudo o que eu passei, eu mereço!
Algumas vezes, esse sentimento pode ser bom, principalmente quando a exclamação for “eu consegui, eu mereço!” – e outras, não. Dar-se um presentinho de vez em quando ajuda na autoestima e pode ser saudável. O problema é quando isso toma a gente de maneira exagerada, levando-nos a fazer gastos que não temos condições de bancar e até mesmo a assumir dívidas acreditando que será possível, até o mês seguinte, dar um jeito de pagar.
Autoengano x endividamento
Estando dentro da loja, a sensação pode ser a de que
precisamos aproveitar aquela oportunidade naquela hora, sem lembrar que o
estabelecimento continuará lá amanhã e que podemos voltar a qualquer dia para
buscar o que for necessário. Nesses momentos, o cérebro cria mecanismos de
compensação ou ilusão, que podem levar a compras desnecessárias ou em excesso.
Essa
é uma das principais causas do superendividamento. O tema é estudado
pelo Programa
Ambulatorial dos Transtornos do Impulso do Instituto de Psiquiatria da
Universidade de São Paulo e, nos casos mais extremos, é considerado um distúrbio
psiquiátrico que precisa ser tratado.
Outros importantes gatilhos de consumo, segundo a Dra. Tatiana Filomensky, coordenadora do atendimento a compradores compulsivos do programa, são as promoções e liquidações, o desejo de ter o modelo top de linha de eletrônicos, a busca por status ou a necessidade de pertencimento, que nos leva, muitas vezes, à comparação: “se o outro tem, eu preciso ter também”.
Como se prevenir
1. Praticar o
autocontrole –
O autocontrole funciona como um músculo: quanto
mais você exercitar, mais ele se desenvolve. Coloque-se metas: não vou comprar
nada que não seja necessário para manter a casa neste mês, por exemplo.
2. Definir objetivos e
prioridades – Quando temos um objetivo bem claro – quitar as dívidas até o final do
ano, por exemplo –, criamos uma âncora que nos ajuda a refletir na hora de
tomar decisões. Pagar uma parcela em atraso ou comprar um sapato, o que é
prioritário para cumprir meu objetivo?
3. Sair sem cartão – Restringir o uso do cartão de crédito e do
limite da conta corrente, reservando-os para situações emergenciais, é um jeito
de se controlar. Se as tentações forem grandes demais, deixe o cartão em casa.
4. Programe o uso do crédito – Programar o uso do consignado ou outro tipo
de crédito para fazer coisas como trocar o fogão ou levantar o muro de casa,
por exemplo, é um jeito de evitar compras por impulso. Ao contratar, saiba
exatamente de onde sairá o dinheiro para pagar.
5. Planeje-se para ofertas e liquidações – Antes de sair de casa, faça uma lista com foco naqueles itens que você e sua família estão necessitando naquele momento. Dentro da loja, volte à lista cada vez que estiver frente a frente com algo muito tentador.