Escolhas racionais ou emocionais?

Entenda como suas emoções influenciam seu bolso e descubra como lidar melhor com a entrada de dinheiro extra, como o FGTS inativo

4 de abril de 2017 10 min. leitura

Entenda como suas emoções influenciam seu bolso e descubra como lidar melhor com a entrada de dinheiro extra, como o FGTS inativo

Imagine a seguinte situação: você está no cinema e decide comprar pipoca. Quando faz o pedido, o atendente dá duas opções. A primeira custa R$ 15,00. A segunda é exatamente do mesmo tamanho que a primeira, mas custa R$ 17,00. A única diferença é que, se escolhê-la, você terá a chance de guardar a embalagem (um saquinho de papel) e, da próxima vez que voltar ao cinema, enchê-la novamente de graça. Qual delas você escolhe?

É muito provável que você tenha respondido a segunda opção, como a maioria das pessoas geralmente faz. Afinal, parece um bom negócio pagar “apenas” R$ 2,00 a mais para ter duas pipocas ao invés de uma. E pensando assim, até que é mesmo. Porém, nessa “conta”, geralmente esquecemos de alguns pontos:

- Quando a pipoca acaba, na maioria das vezes, estamos tão envolvidos pelas emoções do filme que esquecemos de dobrar e guardar cuidadosamente a embalagem. Acabamos amassando o saquinho para não pensar nele, e lá se foi a nossa chance de reutilizá-lo. E se a pipoca não acabar, o mais provável é que atiremos as sobras no cesto de lixo localizado estrategicamente ao lado da sala de cinema, com saquinho e tudo!

- Mesmo que isso não ocorra e você se lembre de guardar a embalagem, na próxima ocasião que for ao cinema, poderá esquecer onde a deixou. Ou o saquinho estará tão velho que você não irá querer preenchê-lo novamente com aquela pipoca novinha e quentinha que acabou de sair da máquina.

- E mesmo que supere essa sensação e consiga economizar na pipoca, sentirá vontade de comprar uma bebida e talvez um chocolate para acompanhar a pipoca “grátis”. Logo estará sacando da carteira pelo menos R$ 15,00 extras.

Ou seja, mesmo que pareça um bom negócio, a única certeza que temos ao decidir pela segunda opção é que pagaremos mais caro pelo mesmo produto. Bom, mas se essa conclusão é tão lógica, por que caímos nesse tipo de armadilha?

Fisgados pela emoção: armadilhas do comércio e da propaganda

A resposta está na forma como nossa mente funciona. Embora o ser humano se orgulhe de ser racional, o fato é que nossas emoções influenciam nossas decisões muito mais do que imaginamos.

“Na linha do tempo da evolução humana, as emoções vieram primeiro, são mais primitivas do que a razão. Acompanham o ser humano desde os primórdios e continuam presentes em nossas decisões até hoje, por mais que tentemos nos convencer do contrário”, explica a professora e consultora de psicologia econômica Vera Rita de Mello Ferreira, que se dedica a estudar o tema.

Na situação da pipoca, talvez a razão fosse mais eficiente se não estivéssemos tão empolgados com o ambiente reluzente do cinema, inebriados pelo cheiro irresistível do milho estourando e envolvidos pela emoção de aproveitar aquele momento com a família ou os amigos. As sensações falam tão alto que distraem o raciocínio lógico e objetivo, tão necessário na hora de decidir como usar bem o dinheiro.

Além disso, para decidir com menos esforço, nossa mente procura “atalhos”, apegando-se a experiências passadas que tenham trazido sensações agradáveis. Por isso, ao se deparar com as palavras “chance” e “de graça”, a mente automaticamente elimina todas as outras informações e se concentra apenas nessas palavrinhas mágicas, que representam sensações prazerosas já aprendidas anteriormente. O que nos leva a decidir por impulso, sem refletir muito bem sobre as consequências.

Decisões por impulso: presentes nos pequenos e grandes gastos

Quem nunca encheu o carrinho do supermercado com guloseimas quando está sentindo fome? Quem nunca aproveitou uma promoção e comprou várias unidades do mesmo produto quando só precisaria de uma?

Se fenômenos como esses ocorressem apenas com pequenos gastos, o prejuízo talvez fosse menor, mas o fato é que estamos reféns das emoções o tempo todo, tanto nas pequenas decisões quanto nas mais importantes.

Comprar um vestido de noiva, por exemplo. Trata-se de um gasto significativo no orçamento de qualquer casamento. Se a noiva for minimamente organizada com suas finanças, chegará na loja com um valor máximo a gastar. Digamos que ela tenha 500 reais para aquela compra. Ao chegar na loja, dirá essa referência ao vendedor. Este, muito sagaz, irá buscar o vestido mais lindo que possui no estoque e convencê-la a provar, sem mencionar o preço ainda. Só depois que a sonhadora noiva experimentar, amar a cor, o toque, a textura e o caimento do lindo vestido, já se imaginando no altar, ele então dirá o preço: 2 mil reais.

Assustada e decepcionada, ela dirá que não possui toda a quantia. Então, o vendedor, muito prestativo e ágil, voltará ao estoque da loja e apresentará um vestido quase tão bonito quanto o primeiro, com alguns detalhes a menos, mas pela metade do preço: 1 mil reais! Uma verdadeira pechincha!!

Feliz da vida, a noiva sairá satisfeitíssima da loja, achando que fez um excelente negócio, pois comprou um vestido quase tão bonito quanto o primeiro que experimentou e conseguiu um desconto de 50%. A essas alturas, ela já esqueceu que, ao pisar na loja, tinha no máximo 500 reais para gastar e, na verdade, sai da loja com um vestido que custa o dobro do seu orçamento!

O comércio e a publicidade estão repletos de exemplos como esses, armadilhas e pegadinhas prontas, só aguardando nossos momentos de distração para nos fazer gastar mais do que planejamos.

Como lidar melhor com as emoções na hora da compra? Pare e pense!

De acordo com Vera, para evitar situações como essas, “é preciso parar para pensar e, assim, adiar o impulso. Não se trata de tentar se livrar das emoções ou controlá-las, mas de ser capaz de conviver melhor com elas”.

Especialmente em tempos de crise, quando o bolso anda apertado, é preciso buscar caminhos para resistir às tentações e não cair no superendividamento. Algumas estratégias passam por simplesmente adiar planos grandiosos ou adotar novos hábitos como passear no parque em vez de ir ao shopping, fazer as refeições em casa ao invés de comer fora, trocar o carro pela bicicleta para ir ao trabalho ou customizar roupas usadas.

Saldo inativo do FGTS: Como resistir às tentações quando o dinheiro “cai do céu”?

O que fazer quando entra um dinheiro que você não esperava? No mês de março começou a ser liberado o saldo das contas inativas do FGTS e milhões de brasileiros já estão tendo acesso a quantias inesperadas de dinheiro. Em casos como esses, como evitar que as emoções falem mais alto e acionar a razão para fugir das pegadinhas do comércio?

Para auxiliar os brasileiros a refletir antes de sair “torrando” o dinheiro extra com compras não planejadas, o GET-PE, Grupo de Estudos e Trabalho em Psicologia Econômica, coordenado pela Dra. Vera Rita, elaborou o Teste do FGTS.

Publicado originalmente no site do UOL, o teste é uma ferramenta simples para ajudar você a analisar seu comportamento diante de situações do dia a dia e descobrir que tipo de decisão você tenderia a tomar ao acessar esse recurso ou qualquer outra quantia de dinheiro extra.

Além de conhecer melhor o seu perfil, ao final do resultado, você tem acesso a dicas personalizadas para administrar melhor seu saldo do FGTS e evitar algumas ciladas psicológicas. Acesse aqui o teste e, antes de decidir o que vai fazer com seu dinheiro, que tal fazer uma escolha racional?

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