As muitas lições deixadas pela primeira empreendedora negra a se tornar milionária nos EUA
Madam C.J. Walker nasceu como Sarah Breedlove em uma fazenda de algodão, em Louisiana, nos Estados Unidos, em 1867. Seus pais eram escravos e ela foi a primeira de seis irmãos a nascer livre, após a escravidão ser abolida no país. Perdeu a mãe aos quatro anos, ficou órfã aos sete e foi morar com irmã e o cunhado no estado do Mississipi. Frequentou a escola por apenas três meses, trabalhou na lavoura e lavando roupas.
Para fugir dos maus-tratos que sofria de seu cunhado, casou-se
aos 14 anos e, aos 18, teve sua única filha. Após a morte do marido, mudou-se
com a filha para St. Louis, em Missouri, onde viviam três de
seus irmãos, que eram barbeiros. Casou-se duas outras vezes. Na última, com Charles Joseph
Walker, um vendedor de publicidade em jornais. Forte e decidida, ela
reivindicava os direitos da mulher, dentro de casa e na comunidade onde morava,
o que estava longe de ser o padrão da época. Essa postura a levou a tornar-se conhecida
como Madam C.J. Walker.
Como lavadeira, ganhava pouco
mais de um dólar por dia. Durante uma feira em sua cidade, conheceu uma empresária
que fabricava produtos para tratamento dos cabelos e passou a trabalhar como revendedora
de seus produtos. Começava aí, uma história que a levou a se tornar a primeira
mulher milionária dos Estados Unidos, segundo o Guinness – Livro de Recordes Mundiais.
Com o que aprendeu com
os irmãos, no trabalho como lavadeira com e os produtos que vendia, Madam C.J. Walker criou sua
própria linha de cosméticos e construiu um império com produtos para cabelos
afro. Quando faleceu, em 1919, tinha uma fortuna estimada em mais de 1 milhão
de dólares. Até hoje, ela
é homenageada pelas principais lojas de cosméticos e magazines nos Estados
Unidos.
Sua história foi contada em livro e inspirou a minissérie de
quatro episódios Self Made – A vida e a história de Madam C.J.Walker, disponível no Netflix. Veja, a
seguir, algumas das lições que ela deixou como empreendedora.
Não desanimar frente às dificuldades
Ser uma empreendedora negra naquela época já era um desafio
que parecia intransponível. Mas não para Madam C.J. Walker. Sem recursos para
fabricar seus produtos, ela corria de um lado a outro atrás de investidores e
todos, sem exceção, se recusavam a financiar um empreendimento tocado por uma
mulher negra. Ouviu muitos nãos, sofreu com cada um deles, mas voltava a buscar
financiadores no dia seguinte. Enfrentou dificuldades na própria família e não
desistiu nem mesmo quando a cozinha de sua casa, onde começou a produzir seus
próprios produtos, pegou fogo. Em 1910 inaugurou sua própria fábrica, a Madam C. J. Walker Manufacturing Company e passou a vender
seus produtos nos quatro cantos dos Estados Unidos.
Ter um propósito
Desde o início, Madam C.J. Walker dizia claramente que queria
abrir um negócio de beleza com produtos acessíveis a todas as mulheres. Naquela
época, a água era pouco disponível nas casas dos mais pobres e não havia
produtos adequados aos cabelos das mulheres negras. Por conta disso, das doenças e da dieta pobre, muitas enfrentavam
graves problemas capilares. Madam foi uma delas e, em uma determinada época,
ficou praticamente careca. Após se tratar, fez disso a sua motivação para criar
um negócio que beneficiasse muitas outras mulheres.
Acreditar no que já
aprendemos
Trabalhando em
lavanderias, em meio a sabões, água quente, calor e vapor, Madam
C.J. Walker conheceu os ingredientes químicos dos produtos de limpeza e alguns princípios
básicos que ela levou para o seu empreendimento. Ela desenvolveu, por exemplo, o
que batizou de Método Walker, um processo de tratamento de cabelos que envolvia
lavagens mais frequentes, uso de creme capilar e escovação com pentes de metal aquecidos,
os precursores das modernas chapinhas elétricas.
Ocupar todos os espaços
Na época em que ela começou
a empreender, as mulheres eram excluídas de espaços em que se discutiam
negócios, inclusive dentro da própria comunidade negra. Ela lutou para acessar
alguns deles e, em busca de financiamento, participou, por exemplo, da
Convenção da Liga Nacional de Negócios Negros. Durante o evento, as mulheres se
concentravam na cozinha. Ela foi uma das primeiras a romper essa barreira e a
sentar-se em uma mesa durante a convenção.
Ter um bom pitch
Pitch é uma técnica de
apresentação rápida, concisa e envolvedora, usada por empreendedores para
conquistar o interesse de investidores e clientes. Madam sabia usar esse
recurso como ninguém. Nos espaços que conseguia, ela contava em poucos minutos o
que estava buscando, propósito, metas e diferenciais do negócio, além dos resultados
que ele podia gerar.
Empoderar outras pessoas para que elas cresçam junto
A empreendedora defendia
que as mulheres negras
se tornassem independentes e autossuficientes para que pudessem melhorar suas
vidas. E se dedicou a ajudá-las a fazerem isso. Enquanto vendia seus produtos
de porta em porta, ensinava outras mulheres a se tornarem empreendedoras. Estima-se
que no auge de suas atividades ela tinha treinado mais de 20 mil mulheres em
técnicas de vendas, capacitando-as para se tornarem uma referência em suas
comunidades.
Ter uma causa
Além de árdua defensora do empoderamento
e do empreendedorismo feminino, Madam C.J. Walker usava a sua voz para defender
o fim da violência contra negros. Entre 1877 e 1950, mais de 4 mil homens e
mulheres, a maioria negros, foram linchados nos Estados Unidos, segundo a Iniciativa
por uma Justiça Igualitária, uma organização social que trabalha
para acabar com o encarceramento massivo, a punição excessiva e a desigualdade
racial no país. O fim do linchamento era um dos temas que ela colocava em
evidência em seus círculos para discutir a injustiça contra as pessoas negras,
especialmente mulheres.
Doar para ajudar a sociedade a se
desenvolver
Durante sua vida, Madam destinou parte
de sua fortuna para ações de filantropia. Doou recursos para instituições
sociais e escolas e apoiou a criação de organizações que defendiam causas e o
fortalecimento da comunidade afro-americana. Ajudou na criação de escolas para jovens
negros – uma dela se tornou a Universidade de Bethune-Cookman, na construção da
Associação Cristã de Jovens (YMCA) em Indianópolis e na criação de moradias
para idosos, entre muitas outras iniciativas.
Deixar um legado
Mesmo após sua morte, aos 51 anos, ela continuou a contribuir com causas sociais. A mansão de 1.900 metros quadrados e 34 quartos que ela construiu em Nova York, ao lado da residência do magnata John Rockefeller e projetada pelo primeiro arquiteto negro dos Estados Unidos, foi transformada em local de encontro e formação de empreendedores negros.