Inspire-se nas histórias de três empreendedores em busca do equilíbrio na gestão do tempo e das finanças
Ter um negócio próprio, por menor que ele seja, exige tempo, dedicação e energia para acumular várias funções ao mesmo tempo. O dia de trabalho nem sempre é suficiente e lá se vão, no bolo, algumas horas noturnas e os finais de semana. Como fica, nesse emaranhado, a vida pessoal e familiar do empreendedor? Dá para entregar o produto ou serviço no prazo, levar o filho para a escola e fazer atividade física duas vezes por semana?
Conversamos com três empreendedores para entender o que eles fazem para buscar esse equilíbrio. A seguir, você conhece suas jornadas de aprendizados e experiências com a gestão do tempo, de pessoas e das finanças.
Fernanda Quatrocci - Fê Gourmet
Chef de cozinha, Fernanda Quatrocchi nunca se viu fazendo outra coisa além de cozinhar. Isso fez com que, muito cedo, descobrisse sua veia empreendedora e criasse seu próprio negócio. Recém-casada, aos 22 anos montou sua primeira cozinha na garagem da sogra e por lá ficou durante alguns anos. Nessa época, produzia e fornecia lanches para cinco lanchonetes instaladas dentro de uma rede de concessionária de automóveis.
Aos poucos, começou
a receber encomendas para festas – bolos, salgados e sanduíches de metro – e foi
mudando sua linha de produção para atender a esses pedidos. Mas logo viu que
não daria conta de tudo: suprir as lanchonetes, espalhadas em diferentes regiões
da cidade, e ainda montar as comidinhas dos eventos. Para complicar, ela tinha
perfil centralizador. “Achava que só eu sabia fazer”, conta.
Decidiu, então, abrir
mão do abastecimento das lanchonetes e montou, em 2012, sua própria loja, o ateliê Fê Gourmet,
no bairro do Ipiranga, na Zona Sul de São Paulo (SP), que também funciona como
um café. Em sua cozinha ela dá aulas de culinária, recebe encomendas de festas
e cria conteúdos para parceiros, como o portal de cursos Eduk. Também se
dedica a seu canal
no YouTube, que conta mais de 93 mil inscritos.
Mesmo com a
empresa em expansão, Fernanda relutava em delegar parte de suas tarefas. O
desgaste era grande e vida pessoal, nem pensar. Desafiada pelo marido, que
também era seu sócio, começou a mudar seu jeito de gerir o negócio,
fortalecendo a confiança em seus funcionários. “Hoje não existe nenhum item do
cardápio que outra pessoa não possa fazer por mim. Posso dormir tranquila”.
Ainda que seja um
aprendizado recente, ela consegue separar o tempo de trabalho e de cuidados com
a casa e a família. Uma prioridade é buscar diariamente o filho Lucca, de dois
anos, na escola. Para facilitar essa nova organização, passou a adotar dois
celulares, um pessoal e o outro para receber as encomendas.
O desafio seguinte foi separar as finanças pessoais e do negócio, uma necessidade que surgiu a partir da saída de seu marido da empresa, seguida do ingresso de uma nova sócia. “Para mim, ainda é um desafio pensar que a marca não é só minha, que não posso simplesmente levar para casa um produto da loja sem passar pela caixa registradora. Mas sigo aprendendo”.
Bruno Andrade – DKF Filmes
“Quando começo
qualquer coisa, vou até o fim”. Bruno Andrade, diretor da produtora de vídeos DZK Filmes, aplica essa regra em suas tarefas
cotidianas e em seus projetos de vida. Ele montou sua produtora há cinco anos e,
desde então, tem expandido o negócio e se consolidado no mercado.
Ele decidiu
empreender depois de ter trabalhado em várias agências de publicidade. No
começo, recebeu um pequeno aporte financeiro de um sócio e teve que decidir
entre comprar uma câmera nova ou uma cadeira e um computador. “Se eu escolhesse
comprar uma filmadora, eu seria só um cara com uma câmera na mão. Como queria
crescer, fiquei com a cadeira e o computador”.
Alugou uma sala
pequena, que depois foi trocada por uma maior e hoje sua agência está instalada
numa região nobre da Vila Olímpia. Conta com o apoio de onze funcionários, 40
colaboradores freelancers e atende cerca de 30 clientes, entre agências e
empresas.
Nesse mesmo ambiente,
também funciona o Estúdio DZK, espaço de gravação de vídeos montado para
atender a um cliente fixo, criado em parceria com outros três sócios. Quando o
estúdio está ocioso, ele é oferecido ao mercado para locação.
Se antes não
conseguia ver o tempo passar, virando dia e noite, aos poucos Bruno foi
construindo uma relação de confiança com sua equipe, o que permitiu, inclusive,
desvincular seu nome do negócio: “hoje eu tenho clientes que nem sabem quem eu
sou”, comemora.
Ainda que delegar
continue sendo um desafio diário, ele já consegue trabalhar à distância, quando
não tem atividades que exigem presença física, como reuniões e gravação. Isso é
especialmente importante porque ele mora com a família em Salto, no interior de
São Paulo.
Com a chegada do filho
Leo, em março de 2019, ele passou a valorizar ainda mais a qualidade no
aproveitamento do tempo e na convivência. “Quando estou com o Leo, estou 100%
com ele. Se estou tomando uma cerveja com um amigo, a mesma coisa”.
Desde o começo, ele
tinha a consciência de que precisava cuidar da gestão financeira da empresa e foi
evoluindo nisso a cada mês. “Primeiro anotava as contas num caderno, depois
numa planilha de Excel e, hoje, faço tudo no sistema da empresa”, revela.
Luciana Aidar - Mai & Mai
Estilista e
consultora de imagem, Luciana Aidar criou, em 2006, a Mai & Mai,
grife feminina que produz peças básicas e descoladas, feitas em tecidos leves
para o dia a dia. Além de inovar no estilo das roupas, ela criou um sistema de
distribuição em que as clientes recebem as peças em casa para que possam
experimentar e escolher as que desejam comprar. Sem loja física, Luciana montou
uma rede que atualmente conta com mais de trinta consultoras que trabalham no
sistema de consignação: levam as peças às clientes e devolvem as que não foram
vendidas.
Em 2009, ela se
juntou a uma sócia, Daniela Rizk. Naquele começo do percurso, as duas chegaram
a morar juntas para diminuir os custos pessoais e conseguir manter o negócio. Na
época, Luciana tinha um bebê recém-nascido e Daniela um menino de quatro anos. “Durante
as reuniões de desenvolvimento do plano de negócio, eu amamentava o João”,
lembra Luciana.
O olhar para as
necessidades de cada um e a crença de que um negócio pode crescer pelo apoio
mútuo acabaram definindo o modelo de gestão da empresa. “Ninguém bate cartão de
ponto. Seguimos o nosso planejamento, que prevê a criação de três novos
produtos por semana. Se acabamos mais cedo, vamos para casa”.
Esse modelo de
produção flexível e baseado na autonomia das pessoas beneficia os sócios e os mais
de 20 funcionários da empresa, que têm mais qualidade de vida e tempo com a
família. “Conseguimos empreender e, ao mesmo tempo, estar com nossos filhos”,
relata Luciana.
Em 2013, Luciano
Balbim, hoje casado com Daniela, entrou para a sociedade. Ele trouxe uma nova
visão de futuro e imprimiu uma mudança de estratégia que fez toda a diferença
para que a marca desse um salto de crescimento e se consolidasse no mercado. A
empresa parou de produzir roupas para outras lojas e passou a dedicar 100% de
seus esforços na marca própria.
O encontro dos
três sócios, com perfis bastante diferentes, trouxe uma somatória de qualidades
e se refletiu na conquista da saúde financeira do negócio. Hoje a marca produz
uma média de 1,8 mil peças e tem um faturamento de mais de R$ 500 mil por mês.
Luciana, com seu jeito
criativo e intuitivo, viu-se salva pela economista Daniela, mais organizada e
analítica, que colocou a casa em ordem e mostrou que era possível administrar
os gastos e equilibrar as finanças. “Eu vivia passando perrengues e costumava
pagar meus gastos, inclusive o aluguel, com o dinheiro da empresa”, confessa
Luciana. “A Daniela me mostrou que, separando as contas e montando um fluxo de
caixa, era possível saber se eu poderia tirar umas férias gostosas no final no
ano ou melhorar meu estilo de vida”. Ela levou os aprendizados para a vida
pessoal e, hoje, orgulha-se de ser organizada e de ter se tornado uma investidora.