Dá para empreender e ter vida pessoal?

Inspire-se nas histórias de três empreendedores em busca do equilíbrio na gestão do tempo e das finanças

17 de maio de 2019 11 min. leitura

Inspire-se nas histórias de três empreendedores em busca do equilíbrio na gestão do tempo e das finanças

Ter um negócio próprio, por menor que ele seja, exige tempo, dedicação e energia para acumular várias funções ao mesmo tempo. O dia de trabalho nem sempre é suficiente e lá se vão, no bolo, algumas horas noturnas e os finais de semana. Como fica, nesse emaranhado, a vida pessoal e familiar do empreendedor? Dá para entregar o produto ou serviço no prazo, levar o filho para a escola e fazer atividade física duas vezes por semana?

Conversamos com três empreendedores para entender o que eles fazem para buscar esse equilíbrio. A seguir, você conhece suas jornadas de aprendizados e experiências com a gestão do tempo, de pessoas e das finanças.

Fernanda Quatrocci - Fê Gourmet 

Chef de cozinha, Fernanda Quatrocchi nunca se viu fazendo outra coisa além de cozinhar. Isso fez com que, muito cedo, descobrisse sua veia empreendedora e criasse seu próprio negócio. Recém-casada, aos 22 anos montou sua primeira cozinha na garagem da sogra e por lá ficou durante alguns anos. Nessa época, produzia e fornecia lanches para cinco lanchonetes instaladas dentro de uma rede de concessionária de automóveis.

Aos poucos, começou a receber encomendas para festas – bolos, salgados e sanduíches de metro – e foi mudando sua linha de produção para atender a esses pedidos. Mas logo viu que não daria conta de tudo: suprir as lanchonetes, espalhadas em diferentes regiões da cidade, e ainda montar as comidinhas dos eventos. Para complicar, ela tinha perfil centralizador. “Achava que só eu sabia fazer”, conta.

Decidiu, então, abrir mão do abastecimento das lanchonetes e montou, em 2012, sua própria loja, o ateliê Fê Gourmet, no bairro do Ipiranga, na Zona Sul de São Paulo (SP), que também funciona como um café. Em sua cozinha ela dá aulas de culinária, recebe encomendas de festas e cria conteúdos para parceiros, como o portal de cursos Eduk. Também se dedica a seu canal no YouTube, que conta mais de 93 mil inscritos.

Mesmo com a empresa em expansão, Fernanda relutava em delegar parte de suas tarefas. O desgaste era grande e vida pessoal, nem pensar. Desafiada pelo marido, que também era seu sócio, começou a mudar seu jeito de gerir o negócio, fortalecendo a confiança em seus funcionários. “Hoje não existe nenhum item do cardápio que outra pessoa não possa fazer por mim. Posso dormir tranquila”.

Ainda que seja um aprendizado recente, ela consegue separar o tempo de trabalho e de cuidados com a casa e a família. Uma prioridade é buscar diariamente o filho Lucca, de dois anos, na escola. Para facilitar essa nova organização, passou a adotar dois celulares, um pessoal e o outro para receber as encomendas.

O desafio seguinte foi separar as finanças pessoais e do negócio, uma necessidade que surgiu a partir da saída de seu marido da empresa, seguida do ingresso de uma nova sócia. “Para mim, ainda é um desafio pensar que a marca não é só minha, que não posso simplesmente levar para casa um produto da loja sem passar pela caixa registradora. Mas sigo aprendendo”. 

Bruno Andrade – DKF Filmes

“Quando começo qualquer coisa, vou até o fim”. Bruno Andrade, diretor da produtora de vídeos DZK Filmes, aplica essa regra em suas tarefas cotidianas e em seus projetos de vida. Ele montou sua produtora há cinco anos e, desde então, tem expandido o negócio e se consolidado no mercado.

Ele decidiu empreender depois de ter trabalhado em várias agências de publicidade. No começo, recebeu um pequeno aporte financeiro de um sócio e teve que decidir entre comprar uma câmera nova ou uma cadeira e um computador. “Se eu escolhesse comprar uma filmadora, eu seria só um cara com uma câmera na mão. Como queria crescer, fiquei com a cadeira e o computador”.

Alugou uma sala pequena, que depois foi trocada por uma maior e hoje sua agência está instalada numa região nobre da Vila Olímpia. Conta com o apoio de onze funcionários, 40 colaboradores freelancers e atende cerca de 30 clientes, entre agências e empresas.

Nesse mesmo ambiente, também funciona o Estúdio DZK, espaço de gravação de vídeos montado para atender a um cliente fixo, criado em parceria com outros três sócios. Quando o estúdio está ocioso, ele é oferecido ao mercado para locação.

Se antes não conseguia ver o tempo passar, virando dia e noite, aos poucos Bruno foi construindo uma relação de confiança com sua equipe, o que permitiu, inclusive, desvincular seu nome do negócio: “hoje eu tenho clientes que nem sabem quem eu sou”, comemora.

Ainda que delegar continue sendo um desafio diário, ele já consegue trabalhar à distância, quando não tem atividades que exigem presença física, como reuniões e gravação. Isso é especialmente importante porque ele mora com a família em Salto, no interior de São Paulo.

Com a chegada do filho Leo, em março de 2019, ele passou a valorizar ainda mais a qualidade no aproveitamento do tempo e na convivência. “Quando estou com o Leo, estou 100% com ele. Se estou tomando uma cerveja com um amigo, a mesma coisa”.

Desde o começo, ele tinha a consciência de que precisava cuidar da gestão financeira da empresa e foi evoluindo nisso a cada mês. “Primeiro anotava as contas num caderno, depois numa planilha de Excel e, hoje, faço tudo no sistema da empresa”, revela.   

Luciana Aidar - Mai & Mai

Estilista e consultora de imagem, Luciana Aidar criou, em 2006, a Mai & Mai, grife feminina que produz peças básicas e descoladas, feitas em tecidos leves para o dia a dia. Além de inovar no estilo das roupas, ela criou um sistema de distribuição em que as clientes recebem as peças em casa para que possam experimentar e escolher as que desejam comprar. Sem loja física, Luciana montou uma rede que atualmente conta com mais de trinta consultoras que trabalham no sistema de consignação: levam as peças às clientes e devolvem as que não foram vendidas.

Em 2009, ela se juntou a uma sócia, Daniela Rizk. Naquele começo do percurso, as duas chegaram a morar juntas para diminuir os custos pessoais e conseguir manter o negócio. Na época, Luciana tinha um bebê recém-nascido e Daniela um menino de quatro anos. “Durante as reuniões de desenvolvimento do plano de negócio, eu amamentava o João”, lembra Luciana.

O olhar para as necessidades de cada um e a crença de que um negócio pode crescer pelo apoio mútuo acabaram definindo o modelo de gestão da empresa. “Ninguém bate cartão de ponto. Seguimos o nosso planejamento, que prevê a criação de três novos produtos por semana. Se acabamos mais cedo, vamos para casa”.

Esse modelo de produção flexível e baseado na autonomia das pessoas beneficia os sócios e os mais de 20 funcionários da empresa, que têm mais qualidade de vida e tempo com a família. “Conseguimos empreender e, ao mesmo tempo, estar com nossos filhos”, relata Luciana.

Em 2013, Luciano Balbim, hoje casado com Daniela, entrou para a sociedade. Ele trouxe uma nova visão de futuro e imprimiu uma mudança de estratégia que fez toda a diferença para que a marca desse um salto de crescimento e se consolidasse no mercado. A empresa parou de produzir roupas para outras lojas e passou a dedicar 100% de seus esforços na marca própria.  

O encontro dos três sócios, com perfis bastante diferentes, trouxe uma somatória de qualidades e se refletiu na conquista da saúde financeira do negócio. Hoje a marca produz uma média de 1,8 mil peças e tem um faturamento de mais de R$ 500 mil por mês.

Luciana, com seu jeito criativo e intuitivo, viu-se salva pela economista Daniela, mais organizada e analítica, que colocou a casa em ordem e mostrou que era possível administrar os gastos e equilibrar as finanças. “Eu vivia passando perrengues e costumava pagar meus gastos, inclusive o aluguel, com o dinheiro da empresa”, confessa Luciana. “A Daniela me mostrou que, separando as contas e montando um fluxo de caixa, era possível saber se eu poderia tirar umas férias gostosas no final no ano ou melhorar meu estilo de vida”. Ela levou os aprendizados para a vida pessoal e, hoje, orgulha-se de ser organizada e de ter se tornado uma investidora. 

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