Porque levar a educação financeira para a sala de aula

Professor, conheça a importância de educar financeiramente crianças e adolescentes. Inspire-se em práticas de sucesso e confira de programas de formação no tema para educadores.

A educação financeira não precisa ser uma disciplina específica, ela pode e deve ser aplicada de forma transversal.
13 de outubro de 2023 5 min. leitura

O professor tem um papel essencial na formação de cidadãos conscientes, que saibam fazer boas escolhas para o seu futuro e para a comunidade onde vivem. Afinal, o ambiente escolar é propício para que crianças e adolescentes desenvolvam suas capacidade de conviver, compartilhar e refletir sobre os impactos de suas decisões e atitudes.

Inserida nesse espaço, a educação financeira contribui com esse desenvolvimento. "A capacitação de professores pavimentará o caminho de uma importante ação educacional que, nos médio e longo prazos, contribuirá não apenas para o bem-estar dos alunos e suas famílias, mas também no fortalecimento do mercado, com a elevação do nível de conhecimento dos investidores e potenciais investidores sobre temas fundamentais para sua tomada decisão. Isto se traduzirá em planejamento financeiro mais estruturado, proteção contra fraudes e melhores decisões de investimento", afirmou Marcelo Barbosa, ex-presidente da CVM responsável pela assinatura, em 2021, de um convênio com o Ministério da Educação para a formação de professores da rede pública em Educação Financeira.

Nesta matéria, abordamos a importância de tratar o tema, quem deve ser o educador financeiro da escola, exemplos práticos testados e comprovados de inserção transversal do tema nas escolas e programas de formação de professores disponíveis gratuitamente. Confira!

Por que falar de finanças na escola

A educação financeira ajuda a criança e o adolescente a:

  • Melhorar a compreensão em relação a conceitos e produtos financeiros.
  • Desenvolver os valores e as competências necessárias para tomar consciência das oportunidades e riscos das decisões financeiras.
  • Fazer escolhas bem informadas e saber onde buscar ajuda.
  • Adotar ações que melhorem o seu bem-estar e, assim, tenham condições de contribuir para a formação de indivíduos e sociedades responsáveis, comprometidos com o futuro. 
  • Resolver desafios cotidianos, ajudando a realizar sonhos individuais e coletivos.

(Fonte: Orientações para Educação Financeira nas Escolas/ENEF)

Em resumo, a educação financeira é uma ferramenta importante para desenvolver nas crianças e jovens algumas das competências essenciais para se tornarem adultos mais bem preparados para lidar com os desafios da sociedade, contribuindo com a prosperidade de sua família e de sua comunidade.

Quem deve ser o educador financeiro da escola?

a educação financeira pode ser trabalhada por todos os professores, de forma transversal

Quando uma escola decide trabalhar com educação financeira, em geral ela se depara com um dilema: quem deve ser o professor mais indicado para assumir o papel de educador financeiro?

A resposta mais óbvia, apoiada por uma visão simplificada do tema, seria associar a educação financeira à disciplina de Matemática. Afinal, para contabilizar e controlar entradas e saídas de dinheiro, é necessário que os alunos tenham conhecimentos básicos desta matéria. Entretanto, educação financeira vai muito além de falar sobre dinheiro, números e planilhas, pois se fosse apenas isso, não haveria um só estatístico, economista, bancário ou professor de matemática endividado, não é mesmo? 

Trabalhar com as decisões econômicas dos estudantes é um desafio amplo e interdisciplinar que oferece ótimas oportunidades para promover uma articulação entre as diferentes disciplinas. De acordo com a Base Nacional Comum Curricular, a Educação Financeira deve ser tratada como tema contemporâneo e transversal nos currículos, sem a necessidade de se criar uma disciplina específica para abordar o tema. Assim, a ideia é inseri-lo de forma transversal no ensino da matemática, da língua portuguesa, das ciências da natureza e nas ciências sociais. 

As Ciências e a Geografia, por exemplo, podem contribuir com a educação financeira na medida que promovem o estudo da natureza, das relações ecossistêmicas e sua importância para o homem, os fenômenos naturais e as questões socioambientais, temas que ampliam a consciência dos estudantes sobre os impactos de suas escolhas de consumo na sociedade e no planeta.

Já a História traz o reconhecimento das relações sociais, da cultura e do trabalho, o que amplia a visão do jovem sobre seu papel protagonista no mundo, na construção de uma atitude empreendedora, na identificação de suas fontes de realização e geração de renda no futuro.

A Filosofia e a Sociologia, com seus questionamentos, podem trazer profundas contribuições às reflexões sobre valores, sonhos, tempo, limites, prioridades, ideais de sucesso, o significado do dinheiro na sociedade e outros aspectos que desenvolvem jovens mais preparados para lidar com seus recursos em harmonia com o mundo ao seu redor.

As Artes e as Línguas podem estimular que os jovens expressem seus dilemas, angústias, reflexões e aprendizados sobre a relação com seu consumo e o dinheiro de formas criativas e inusitadas

Em resumo, todos os professores podem se apropriar dos desafios que a educação financeira traz para o cotidiano dos alunos e todas as disciplinas podem contribuir com a reflexão sobre esses desafios. A escola pode até escolher um único professor ou disciplina para trabalhar este tema, mas talvez perca a riqueza de ter várias perspectivas diferentes reunidas sob um mesmo problema.

Como levar educação financeira para sua sala de aula

Como tema transversal, a educação financeira deve ser inserida dentro do contexto das disciplinas regulares do currículo. Conheça alguns exemplos de aplicações já realizadas e testadas por professores de diferentes ciclos e áreas do conhecimento para tratar o tema.

Em Joinville, a professora Carlas Pawluk, do 5º ano do fundamental I, utilizou o projeto do mercadinho para ensinar os alunos a pesquisarem preços, calcular o troco e analisar suas necessidades ou desejos de consumo. Em paralelo, trabalhou um ateliê de reciclagem para ensinar sobre as transformações químicas do papel, bem como promover a consciência sobre o reaproveitamento e o consumo consciente de recursos. Por fim, trabalhou a criação e customização de cofrinhos de material reciclável na aula de artes. Conheça a história completa neste vídeo:

Em Manaus, professores de química, matemática e educação física desenvolveram a trilha financeira, um jogo de tabuleiro humano no qual os estudantes atuam como os “peões” e, ao longo do caminho, precisam responder perguntas das diferentes disciplinas e tomar decisões financeiras relacionadas com seu cotidiano. Conheça o caso neste vídeo: 

Em Tocantins, o professor de educação física criou um projeto para envolver os estudantes na construção de uma arquibancada para sua quadra de esportes utilizando garrafas PET e, com isso, reduzir 95% dos custos desse projeto que beneficia diretamente os estudantes. Eles aprenderam sobre a resistência dos materiais, os cálculos para a construção da arquibancada e os custos de produção do projeto. Conheça essa história:

Inspire-se em outras histórias sobre como levar a educação financeira para a sala de aula

Conheça os programas de formação disponíveis para professores

Programa de Educação Financeira nas Escolas 

Se você é professor e se encantou com essa ideia, conheça o Programa de Educação Financeira nas Escolas, uma iniciativa da Estratégia Nacional de Educação Financeira (ENEF) que mobiliza diferentes setores da sociedade na promoção da educação financeira no Brasil. 

O programa tem como proposta conectar o tema, de modo multidisciplinar, a outros assuntos que já fazem parte do contexto escolar. Para isso, coloca à disposição livros, vídeos e outros materiais que ajudam a trabalhar os conteúdos de educação financeira, de modo adequado, em cada série do Ensino Fundamental e do Ensino Médio. Para o Ensino Fundamental, são 18 livros – 9 livros do aluno e 9 do professor –, além de 14 vídeos que facilitam a compreensão dos assuntos abordados. O material completo está disponível para download gratuito.  Acesse aqui.

Para o Ensino Médio, são três livros do aluno e três do professor, além de cadernos de atividades. O primeiro livro trata da economia financeira em casa e na vida social, com situações didáticas e lúdicas que permitem entender os conceitos de renda, despesa, receita e orçamento. Sonhos e vida real são tratados no livro 2, que aborda trabalho e empreendedorismo. O terceiro livro da série permite que o aluno do Ensino Médio entenda as conexões entre a economia brasileira e global, formando um pensamento crítico e cidadão. 

Outra iniciativa relevante para formar professores nessa área é o Programa Aprender Valor, do Banco Central. O programa conta com formação online de 75 horas para professores e 40 horas para gestores escolares, além de projetos escolares de Educação Financeira para todas as etapas do Ensino Fundamental I (1º a 9º anos) e avaliações de aprendizagem de letramento financeiro e de língua portuguesa e matemática. Desde o lançamento, em 2021, até setembro de 2023, o programa já conta com a adesão de 22 mil escolas.

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Matéria publicada em 14 de outubro de 2016 e atualizada em 13 de outubro de 2023

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